A Divina
Comédia, de Dante Alighieri
Análise da obra
A Comédia, poema épico e obra-prima de
Dante Alighieri, foi escrita provavelmente entre 1307 e 1321. O poema passou a
ser conhecido como Divina Comédia apenas
em sua primeira edição impressa, em 1555.
A
obra-prima de Dante Alighieri e da literatura italiana, A Divina Comédia, não pode ser considerada uma epopéia, pois não é a
história ficcional de um herói que, pela suas façanhas, fundou ou glorificou uma
nacionalidade. A Divina Comédia não
trata nem das origens nem da exaltação do povo italiano. Esta obra é
classificada como um poema didático-alegórico: didático porque tem uma
finalidade educativa, e alegórica porque os ensinamentos são ministrados por uma
série de símbolos, ou seja, signos materiais que tem significação espiritual. A
grandeza do poeta italiano reside em ter conseguido elevar à categoria da
universalidade os problemas seus e de sua terra natal, através da força
transformadora da arte. O parentesco de A Divina
Comédia com a poesia épica greco-romana é evidente. O próprio autor de Eneida,
Virgilio, é escolhido como mestre e guia espiritual do poeta, sendo um dos três
personagens principais do poema.
A
obra se constitui num compêndio onde todo o conhecimento do mundo clássico é
transubstanciado pela cosmovisão de um homem da Idade Média.
A Divina Comédia permite ter uma certa
compreensão do homem medieval, não só pelas informações históricas que nos
propicia, mas principalmente porque espelha, sob muitos aspectos a cosmovisão
tomista e victorina típica do medieval.
Nesta
obra se condensam e revivem em forma de arte dez séculos de concepção
filosófica e religiosa, de instituições políticas e sociais, de cânones
estéticos e morais. A motivação que determinou a transformação da enorme
bagagem cultural de Dante em arte foi a realidade histórica e social. A Divina Comédia é a história de um homem
– Dante Alighieri – que viveu seus últimos vinte anos de vida no exílio,
peregrinando de uma cidade para outra, vivendo quase de esmolas, vítima de
ódios políticos. É a história de um povo – o povo italiano do fim da Idade
Média – dividido em várias cidades – estados em contínuas lutas pela
sobrevivência política, cada qual recorrendo à ajuda estrangeira ou ao poder
papal. A Divina Comédia é também a
história da humanidade toda, pois o seu protagonista assume o papel simbólico
de cidadão do mundo, que sofre e luta para alcançar os ideais cívicos de união,
justiça e amor nesta terra e a fé num mundo melhor no além.
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São Tomás |
A
obra apresenta, em versos, em muitos pontos, o pensamento da Suma Teológica de
São Tomás. Dá a argumentação tirada do tomismo. Isto sem esquecer que Dante
coloca no céu o grande inimigo de São Tomás, Siger de Brabante, tanto quanto o
milenarista Joaquim de Fiore, que ele apresenta como di spirito profético
dotatto. O que é um absurdo próprio dos beguinos.
Mais
claramente, Dante utiliza na Divina
Comédia a visão da felicidade humana, de Hugo de São Victor, fundamentada
na luz e na doçura - lumen et dulcedo - isto é, na posse da verdade (lumen) e
na posse do bem material (dulcedo).
Existem
elementos pagãos na Divina Comédia, e
se explicam pelo fato de que Dante não era plenamente católico. Ele fazia parte
de uma sociedade secreta - Os Fiéis de Amor - cuja doutrina era gibelina. Como
todos os Gibelinos, ele colocava o Império acima da Igreja. O Imperador acima
do Papa. Daí o ódio de Dante ao Papado e à Igreja rica, à loba, carregando em
sua magreza toda a fome de riqueza.
E não
se deve esquecer que os Gibelinos eram, muitas vezes, cátaros. Veja, por
exemplo, que Dante coloca, no inferno, Farinata degli Uberti como epicurista,
quando, de fato, ele foi cátaro, e excomungado como cátaro.
No
Inferno de Dante, misteriosamente, jamais aparece o termo "cátaro".
Entretanto, essa era a grande heresia que dominava o tempo em que ele viveu.
Até mesmo a colocação dos hereges - e para Dante hereges eram apenas os
materialistas epicuristas - é estranha, pois eles não estão colocados entre os
fraudulentos, os enganadores que pecaram com o intelecto.
Também
é notável como Dante exalta certos poetas conhecidos, hoje, como cátaros, como
por exemplo, Arnauld Daniel, mestre do "trobar clus" (poesia em
código), Sordello, Casella a quem ele faz cantar o poema praticamente esotérico
Ämor che nella mente mi raggiona, de autoria do próprio Dante.
A Divina Comédia caracteriza-se por um
fortíssimo sentido moralizante, pela reafirmação dos princípios cristãos e pelo
desejo de renovação espiritual. Sua força narrativa reside na firmeza de
caráter de Dante, enquanto personagem, ao lidar com algumas das questões mais
fundamentais da condição humana. Mesmo diante dos maiores desafios, o poeta
segue com convicção sua crença na existência da vida eterna e naquela que seria
a finalidade de nossa existência: a busca da união com Deus, por meio da
purificação.
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Poeta Romano Vírgilio
(Publius Vergilius Maro)
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No
entanto, uma ambigüidade que marca toda a obra pode ser encontrada nas fontes
de inspiração para o enredo: do VI canto do clássico Eneida, de autoria do
poeta romano Virgílio, surge a temática de uma viagem ao pós-vida. Da Bíblia,
Dante extrai os dogmas católicos, tão presentes na obra. Da fusão de ambos os
textos, cria-se, então, uma síntese da mentalidade medieval - calcada na
religiosidade -, ao mesmo tempo em que se vislumbra um anúncio da
racionalidade, da valorização do ser humano e do retorno aos modelos
greco-romanos, características essenciais do Renascimento.
Tal
conciliação entre fé e razão projeta-se fortemente sobre A Divina Comédia, à semelhança do que ocorre na suma filosófica de
São Tomas de Aquino, contemporâneo de Dante. A visão de universo apresentada na
obra, por sua vez, é emprestada de Aristóteles, outro grande nome da
Antigüidade Clássica a influenciar o poeta.
Também
destaca-se no texto a dualidade entre aceitação e crítica à Igreja. Dante
exalta e justifica as crenças do Catolicismo, defendendo, inclusive, a origem
divina do poder papal. No entanto, não hesita em condenar diversos papas ao
plano do Inferno, por considerá-los corruptores da fé cristã. O aparente
conflito apenas reforça o sentido moralizante do livro, ao enfatizar a
necessidade de uma rígida conduta ética.
Estrutura
A obra é estruturada em 100 cantos, totalizando 14.233 versos. Cada parte (Céu,
Purgatório e Inferno) apresenta 33 cantos. O Inferno conta, ainda, com um canto
introdutório, formando o número 100, múltiplo de 10, símbolo da perfeição (100
= a perfeição do perfeito).
Cada
canto é composto de 130 a 140 versos em terça rima (versos divididos em grupos
de três).
Na
harmonia com os números 3, 7, 10 e seus múltiplos, aparecem os indícios do
forte simbolismo da cultura medieval ou da devoção do autor à Santíssima
Trindade. Essa harmonia determina a métrica adotada, com versos hendecassílabos
(11 sílabas) e rimas no esquema ABA BCB, CDC... VZV (o verso central rima com
os 1° e 3º do grupo seguinte). Tal estrutura deu origem ao chamado
"terceto dantesco", assim denominado por ter sido Dante o primeiro a
empregá-la.
São
muito discutidas as datas da composição do poema: muito provavelmente, Dante
começou-o por volta de 1307, para depois nele trabalhar durante toda a sua
vida.
O
poema, no seu conjunto, é a história da conversão do pecador a Deus. O poeta
tencionava fazer da Divina Comédia
principalmente sua obra de doutrina e de edificação, uma "Suma" que
compreendesse o saber do seu tempo, da ciência à filosofia e à teologia. Por
isso o poema é repleto de significados alegóricos e ainda morais. Assim, por
exemplo, Virgílio, que cantou os ideais de paz e justiça do Império Romano no
tempo de Augusto, e que guia o poeta através do Inferno e do Purgatório,
simboliza a razão integrada com a sabedoria moral, e é também a voz da própria
consciência de Dante. Beatriz, a mulher amada que o guia no Paraíso, é a
sabedoria cristão iluminada pela graça, a suprema sabedoria dos santos, a única
que pode levar a Deus.
Tudo
no poema é perfeita construção alegórica, e nisto Dante limita-se a respeitar
as regras do seu tempo: pois quantas não são de fato as obras medievais que
referem as viagens ultraterrenas, devidamente arquitetadas para edificação do
pecador? Só que, no poema dantesco, há um sutil artifício que permite ao poeta
encerrar nos seus cantos também a história do seu tempo. Dante imagina fazer
uma viagem em 1300 e portanto refere naturalmente tudo quanto aconteceu antes
desta data; mas, reconhecendo aos mortos a capacidade de prever o futuro,
põe-nos a profetizar os acontecimentos públicos e particulares que não deseja
deixar em silêncio.
Fruto
de uma imaginação poderosa e de uma capacidade narrativa aguçada, A Divina Comédia encontra nos símbolos um
valioso instrumento de expressão. A riqueza de alegorias, porém, além de
constituir o caráter lírico e a beleza poética do livro, acaba por permitir
interpretações diversas sobre o significado do texto. Ao menos quatro delas são
amplamente reconhecidas:
1. A
literal, que considera apenas a aventura de Dante pelos três reinos do
pós-vida.
2. A
alegórica, que destaca o sentido de purificação progressiva do espírito, ao
longo da jornada rumo a Deus.
3. A
moral, focada na rigidez de costumes e na exaltação aos valores do Bem, da
Verdade e da Justiça.
4. A
analógica, ou sobrenatural, constituída na passagem de toda a humanidade da
escravidão do pecado à salvação, pela Redenção de Cristo.
Haveria,
ainda, um aspecto mais polêmico, o político, que enxerga na mulher amada,
Beatriz, uma analogia com uma Florença purificada dos seus pecados ou com uma
Itália unificada.
Personagens
Para
sua viagem, Dante convida três personagens de seu imaginário: o poeta Virgílio
(Inferno e purgatório), Beatriz, seu grande amor platônico (Céu) e São Bernardo
(Impirium-Deus).
Enredo
A
viagem de Dante na Divina Comédia
inicia-se na quinta-feira da semana santa de 1.300 d.C. Sua narrativa é
curiosa, assustadora, e acima de tudo singular. Dante mistura-se a um complexo
conjunto de sentimentos, impressões, crenças e conhecimento cultural para
desenvolver seu edifício literário. O primeiro conceito nitidamente observável
é a concepção geocêntrico-astronômico de Ptolomeo de Alexandria (Séc. II d.C.).
As disposições Astronômicas são exatamente aquelas encontradas no Tetrabiblos e
Almagesto do mesmo Cláudio Ptolomeo.
Outro
aspecto fundamental em sua narrativa é a "Teoria da Imortalidade" de
Platão, que supunha a viagem da alma humana após sua morte, aos céus
específicos de cada planeta, de onde teriam vindo desde o princípio.
Encontraremos
Dante narrando várias vezes de seu imaginário, ícones distorcidos pela
percepção religiosa de seu tempo.
Quanto
à Beatriz, sua musa inspiradora, não se sabe muito. Na realidade Dante a
conhecera já desposada por outro homem e sua paixão platônica o perseguiu por
toda vida. Muitas vezes grandes paixões são marcadas pela dor. Beatriz morrera
em tenra idade, deixando o poeta profundamente deprimido. Dante chegou a
casar-se, mas jamais escrevera sequer um verso para sua esposa, tornando-se
conhecido como o maior adúltero literário da história da poesia.
Para
se ter uma idéia dos sentimentos de Dante por Beatriz, ele a cita 64 vezes na Divina Comédia, sendo o Cristo citado
apenas 40. Beatriz só perde para Deus, que muito freqüentemente era invocado
quando em sua estadia no inferno.
Dante
não esconde em seus versos sua opinião sobre as coisas. De posse das chaves do
universo, brinca de Deus e coloca no inferno todos aqueles que odiara e que o
perseguiram durante a vida. Lá estavam também todos os que eram convenientes ao
pensar teológico. Desta maneira, o poeta se vinga de todos aqueles com os quais
lutara em vida e glorifica todos os seus amigos e amores, os elevando às
alturas celestiais.
Dante
fez uma viagem ao mundo do além. Orientando pelo poeta Virgilio, conhece o
inferno e o purgatório e depois, guiado por Beatriz, visita o Paraíso. Ao longo
do percurso Dante encontra vários conhecidos seus e conversa com alguns deles.
O inferno é um vale nas entranhas da terra formado por vários círculos que vão
e afunilando: quando mais baixo estão, maiores os pecados daquelas almas que
ali padecem grandes suplícios. Satanás, com quem se encontram, tem três faces,
uma só cabeça e enormes asas de morcego. Saem do inferno e sobem a montanha do
purgatório. Passam pelos sete círculos que representam os sete pecados
capitais. Banhando-se em águas sagradas, na saída do purgatório, são absolvidos
de toda a culpa. Dante entra no paraíso seguido por Beatriz, e aí encontra
santos, sábios, teólogos, e outros espíritos. No último céu, encontra São Pedro
e faz um exame de fé. Beatriz ocupa um lugar no terceiro ciclo dos eleitos. No
final da jornada, Dante vislumbra Deus em toda a sua glória.
Arquitetura do mundo extraterreno
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Ilustração dos círculos do inferno - por Sandro Botticelli |
Sob a
crosta terrestre abre-se, no hemisfério boreal, precisamente debaixo de
Jerusalém, uma profunda depressão em forma de cone que chega até ao centro da
Terra. Foi provocada pela queda de Lúcifer, o anjo rebelde, o qual,
efetivamente, se acha cravado no fundo do abismo. As terras que saltaram
durante a queda do anjo confluíram no hemisfério austral formando uma ilha
constituída por uma montanha cônica no cimo da qual está colocado o Paraíso
Terrestre, exatamente nos antípodas, portanto, de Jerusalém, e na fronteira
extrema entre o mundo da matéria e o da imaterialidade.
Na
depressão, que se abisma em nove círculos concêntricos, está situado o Inferno.
Os condenados estão disseminados nestes círculos de harmonia com a gravidade
dos pecados; e o pecado é tanto mais grave quanto mais violou o que o homem tem
em si de divino.
Sobre
a montanha cônica do hemisfério austral está situado, por seu lado, o
Purgatório. As almas estão distribuídas sobre as ravinas que se escavam no
flanco do monte. Sete sãos as faixas correspondentes aos sete pecados capitais;
com o antipurgatório e o Paraíso Terrestre é atingido o fatídico número nove,
que com o número três se encontra na base de toda a disposição da Divina Comédia. Os dois reinos estão
ligados por um estreito subterrâneo que do fundo do abismo infernal leva à ilha
do Purgatório, no hemisfério oposto.
O
Paraíso encontra-se, naturalmente, no Céu: onde nove esferas circulam com
órbitas sempre maiores e movimento sempre mais rápido, em volta da Terra
imóvel, segundo o sistema ptolomaico. Acima delas, o fulgurante Empíreo, onde
resplende Deus, circundado pelos bem-aventurados triunfantes.
O Inferno
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The Divine Comedy: Illustrations by Gustave Doré
Inferno,
Canto 4: The
innocent souls in Limbo
“For such defects, and not for other guilt,
Lost are we and are only so far punished,
That without hope we live on in desire.”
Great grief seized on my heart when this I heard,
Because some people of much worthiness
I knew, who in that Limbo were suspended.
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No
meio do caminho da sua vida, Dante, tendo-se perdido numa floresta obscura,
tenta em vão subir a colina luminosa: três feras, que simbolizam as
concupiscências humanas, impedem-lhe o passo. Virgílio aparece ao poeta e
propõe-lhe um outro caminho para chegar à contemplação de Deus (o cume
luminoso), um áspero e terrível caminho que atravessa os reinos de além-tumba.
Dante fica hesitante e aterrador, e só quando Virgílio o informa de que tal
privilégio lhe foi concedido pela oração de uma mulher bendita, Beatriz, que
tanto deseja a sua salvação, ele se tranqüiliza e dirige-se para o limiar do
além. Virgílio guiá-lo-á através do reino da beatitude.
Atravessado
o fatídico limiar infernal, Dante encontra no vestíbulo os cobardes, os que
viveram "sem infâmia e sem louvor", juntamente com os anjos que,
quando da revolta de Lúcifer, não souberam de que lado se colocar. Estes, que
quiseram impedir a batalha, estão agora condenados a correr sem descanso atrás
de uma bandeira, pungido por vespas e zangãos. Primeiro exemplo, este, da lei
do contrapasso segundo a qual em todo o Inferno as penas são infligidas em
estreita relação - de analogia e de contraste - com os pecados cometidos. A
mesma lei governa também o Purgatório.
Entre
o vestíbulo e o primeiro círculo do Inferno corre o rio de Aqueronte. Aqui
param os recém-chegados, esperando que Caronte, o demônio dos "olhos de
brasa", os atravesse para a outra margem, onde serão julgados por Minos,
monstruoso juiz que, enrolando a cauda, indica o círculo a que cada pecado está
destinado. No primeiro círculo, para além do rio, há o Limbo, que recebe as
almas das crianças mortas sem o batismo e as daqueles que honestamente viveram
antes da vinda de Cristo à Terra.
Não
há penas no Limbo, mas uma atmosfera de deprimente melancolia. Dante encontra
aí os grandes da Antigüidade: Homero, Horácio, Ovídio, Lucano e tantos outros.
O Inferno propriamente dito começa, portanto, apenas com o segundo círculo,
onde os luxuriosos são arrebatados por uma tempestade de vento. Entre esses,
Francesca de Rímini, ainda abraçada ao seu Paulo, narra ao poeta a sua trágica
história.
No
terceiro círculo os gulosos são flagelados por uma chuva putrefata e ferozmente
vigiados por Cérbero, horrível cão com três cabeças. O florentino Ciacco fala a
Dante das lutas entre as facções opostas da sua cidade. No círculo seguinte,
desfilam os avarentos e os pródigos, que empurram pesos enormes, e depois os
iracundos, os indolentes, os invejosos e os soberbos, todos imersos na lama
ardente do pântano do Estige.
Para
atravessarem o pântano, Dante e Virgílio aproveitam a barca do demônio Elegias,
que os deixa à porta da cidade de Dite. Os seus muros de fogo encerram a parte
mais baixa e mais terrível do Inferno, aquela onde mais graves são as culpas e
mais terríveis as penas. As penas parecem freqüentemente sugeridas por ímpetos
de desprezo; outras, por uma fantasia atroz.
Os
diabos estão bem decididos a impedir a entrada na cidade de Dite àquele que
"sem morte vai pelo reino da gente morta": trancam todas as portas,
enquanto as três fúrias aparecem sobre as ruínas e, entre elas, Medusa procura
magicamente petrificar Dante. Chega a tempo um enviado celeste que, com um
toque de vara, abre as portas de Dite, repreendendo asperamente os diabos.
Recomeça
a viagem, e Dante vê em sepulcros de fogo os heréticos, entre os quais Farinata;
os violentos contra o próximo, num rio de sangue, alvejados e feridos pelas
flechas dos centauros desde que ousem erguer apenas um pouco a cabeça; os
violentos contra si mesmos, isto é, os suicidas como Píer delle Vigne,
transformados em árvores nodosas; os esbanjadores perseguidos e devorados por
cadelas ferozes.
Os
violentos contra Deus e os violentos contra a natureza são submetidos a uma
implacável chuva de fogo; contudo, enquanto os violentos contra a natureza
(isto é, os sodomitas, como Brunetto Latini) caminham, aliviando assim o seu
tormento, os violentos contra Deus devem permanecer deitados sob o flagelo da
chuva ígnea. Também os usurários são submetidos a ela, mas sentados, e movendo
sem descanso as mãos para se defenderem.
Os
dois poetas chegam assim à extremidade do sétimo círculo, onde se abre um
profundo e íngreme precipício. Para o superar, Dante deve subir com Virgílio
para a garupa de Gerione, um monstro alado com a cauda afiada, o qual, com
lentíssimo vôo, desce com os dois ao fundo do abismo. O oitavo círculo é
dividido em dez fossos, ligados entre si por pontes. Num crescendo de horror,
numa atmosfera cada vez mais alucinante, entra-se no lugar chamado
"malebolge, Oodo de Pedra da cor do ferro". O longo desfile de
pecadores continua. Na segunda parte do Inferno, o espetáculo torna-se ainda
mais horroroso.
Eis
os alcoviteiros flagelados por demônios cornudos; os aduladores imersos em
estrume; os simoníacos espetados com a cabeça para baixo em pequenos buracos,
com as plantas dos pés acesas; os adivinhos com as cabeças voltadas para trás.
No quinto fosso os vendilhões debatem-se em pez fervente: multidões de diabos
armados com arpões abrigam os desgraçados a permanecer inteiramente submersos.
Os hipócritas, oprimidos por pesadíssimas capas de chumbo, arrastam-se no sexto
fosso. E o sétimo é repleto de serpentes: serpentes de todas as medidas, cores,
venenos, que se lançam sobre os ladrões; envolvem os seus membros enroscando-se
neles, apertam-nos e mordem-nos. No momento de ser atingido, o infeliz
incendeia-se e um momento depois fica completamente incinerado, para ressurgir
depois das suas cinzas como a Fênix da fábula. Mais além, por seu lado, os
condenados, uma vez feridos, transformam-se em serpentes, enquanto as gestas
que os mordem se tornam homens. Todo o fosso fervilha de estranhos seres em
metamorfoses, entre um abater de caudas que se tornam pernas, e de braços que
se retiram no corpo e línguas que se bifurcam. Depois deste monstruoso
espetáculo, eis o crepitar de chamas que encerram conselheiros fraudulentos,
entre os quais Ulisses e Diomedes. Ulisses conta a sua extrema aventura no
oceano sem fim. (Solene a proclamação do destino dos humanos: Não fostes feitos para viver como brutos, /
Mas para seguir virtude e conhecimento).
Depois
de haver falado com Ulisses e com Guido de Montefeltro, Dante e o mestre fiel
retoma o caminho, e encontra os promotores de discórdias e os cismáticos,
cortado em pedaços pelas espadas afiadíssimas dos demônios; entre chagas
horrendas e restos de braços, aparece Bertrand de Born, trovador provençal que,
tendo separado um pai do filho com maus conselhos, caminha segurando pelos
cabelos a sua própria cabeça, separada do tronco.
No
último fosso estão apinhados os falsários, oprimidos por terríveis doenças; os
falsários de metais arranham-se furiosamente, os de moedas estão tumefactos
pela hipocrisia, os mentirosos ardem de febre.
Saindo
de Malebolge, o poeta julga ver uma vaga paisagem de torres, mas depois
apercebe-se de que as torres são de fato três gigantes agrilhoados, que pouco a
pouco emergem da Bruna caliginosa. Trata-se de Fialte, Anteu e Nembrote, o que
ousou desafiar Deus com a sua torre de Babel e que agora balbucia palavras que
não têm sentido algum. Cabe a Anteu o encargo de fazer descer Dante e Virgílio
no derradeiro precipício: toma-os de fato, inclina-se e coloca-os no mais
profundo círculo infernal.
Não
há fogo, nem demônios, nem gritos de condenados: o fundo do Inferno é gélido,
um imenso bloco de gelo. Prisioneiros aí, com a cabeça imersa da estrutura
gelada, estão os traidores: as lágrimas no gelo significam as suas pálpebras.
Naquela imobilidade alucinante, o conde Ugolino raivosamente rói o crânio do
seu inimigo.
Com a
visão de Lúcifer, o anjo rebelde, reduzido agora a monstro com três bocas, cada
uma das quais mastiga um dos três maiores traidores (Judas, traidor de Cristo,
e Brutus e Cassius, traidores de César e, portanto, do Império), cai o pano
sobre a horrorosa tragédia da humanidade condenada. Agarrando-se aos pêlos das
pernas de Lúcifer, Dante e Virgílio descem ainda; depois, num dado momento,
voltam-se e começam a subir: chegaram ao centro da Terra, e um estreito
subterrâneo levá-los-á a "rever as estrelas", da outra parte do
mundo. A viagem através do Inferno durou três dias.
O purgatório
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The Divine Comedy:Illustrations by Gustave Doré
Purgatorio, Canto 2: Dante bows
before the angel pilot
Then as still nearer and more near us came
The Bird Divine, more radiant he appeared,
So that near by the eye could not endure him,
But down I cast it; and he came to shore
With a small vessel, very swift and light,
So that the water swallowed naught thereof.
Upon the stern stood the Celestial Pilot;
Beatitude seemed written in his face,
And more than a hundred spirits sat within.
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Um
instintivo respirar de alívio no emergir da "aura morta" e no
reencontrar, acima de si, o Céu, "doce cor de oriental safira".
Graças a Deus, tudo é diverso no Purgatório: a paisagem, a atmosfera, a luz que
chove do alto.
Desaparecidos
o ódio, a rebelião, o crime. Enquanto as personagens infernais eram
visceralmente ligadas à vida vivida na Terra, aos pecados que ainda reviviam e
que reviveriam por toda a eternidade, os penitentes do Purgatório, afastados
das vicissitudes terrenas, encontram-se ansiosamente tendidos para a sua futura
união com Deus. As tragédias sofridas na Terra estão já muito afastadas,
transfiguradas: já não fazem bater o coração.
As
próprias penas a que os purgandos estão submetidos não têm o terrível relevo
plástico do Inferno. O sofrimento físico quase desaparece perante a mais
torturante dor espiritual, mitigada, porém, pela resignação e pela esperança.
Mal chegado à praia da ilha, enquanto olha em volta de si e descobre as
estrelas do hemisfério austral e o esplêndido Cruzeiro do Sul, Dante descobre,
de súbito, que está perto de si um velho de venerada barba branca. É Catão, o
estrênuo defensor da liberdade, aquele que em Útica se matou por não suportar
que a Roma republicana sucumbisse.
Agora
é o guarda do Purgatório: por isso a montanha da expiação é exatamente o reino
da liberdade, liberdade em relação ao pecado, liberdade do arbítrio. Virgílio
fala-lhe com suma reverência e obtém para si e para o seu discípulo a
autorização de subir a montanha. Antes, porém, de começar a viagem, Virgílio
recolhe o orvalho das ervas e com ele lava o rosto de Dante, para o libertar de
toda a sujidade caliginosa do Inferno.
Entretanto
aparece sobre o mar uma luz que velozmente se aproxima: trata-se de um anjo,
rente à popa sobre um barco "estreitito e leve" que ele faz deslizar
com o adejo das grandes asas. Sentam-se no barco mais de cem espíritos que
estão a chegar ao reino da expiação. Entre eles encontram-se Casella, que já em
vida havia musicado as canções de Dante e que agora, tendo desembarcado e
reconhecido o amigo, não hesita entoar a famosa "Amor que na mente me
discorre". As almas apinham-se em volta para ouvir o "doce
canto", mas Catão repreende-as pela demora, e elas correm então para as
encostas do monte. Também os dois poetas se dirigem apressadamente para a
montanha e, enquanto Virgílio procura um carreiro que permita a Dante subir, um
grupo de almas os alcança. Depois de ter sabido porque razão um vivo se
encontra naquele lugar, uma delas se identifica: é Manfredi, que, embora
excomungado, se salvou num extremo impulso de arrependimento.
A
subida é rude, e Dante avança agarrando-se com as mãos o melhor que pode.
Chega, porém, à primeira plataforma, que constitui uma espécie de vestíbulo
onde os que tardam a arrepender-se esperam o momento de poder entrar no
Purgatório. Dante encontra Belacqua, um famoso ocioso dos seus tempos; e
Buonconte de Montefeltro, combatente em Campaldino; e, enfim, depois de muitos
outros, a suavíssima e infeliz Pia de Tolomei.
Um
encontro singular é o de Virgílio com Sordello, mantuano como ele: um abraço
que traz aos lábios de Dante a célebre invectiva contra a escravidão da Itália.
Tendo passado para o Vale dos Príncipes, onde se encontram reunidas as almas
dos reis e senhores.
Dante
adormece, para se encontrar na manhã seguinte, misteriosamente, em frente da
verdadeira porta do Purgatório. Um anjo lhe traça na fronte "sete P",
representando os sete pecados capitais. Serão apagados pouco a pouco por outros
anjos, à medida que Dante passe de faixa em faixa, observando de perto aqueles
que expiam exatamente os sete pecados capitais e meditando sobre vários
exemplos de virtudes ou de vícios castigados.
A
soberba expia-se na primeira plataforma e as almas caminham curvadas debaixo de
pesos enormes e olham para esculturas que representam exemplos de humildade; a
inveja, na segunda, e os invejosos são castigados com os cilícios, os alhos
cosidos com fio de ferro, enquanto vozes ignotas gritam exemplos de inveja
castigada; no terceiro círculo, onde as almas estão envolvidas em densa
fumarada, é expiada a ira; na quarta correm os preguiçosos; na quinta jazem por
terra, de bruços, os avarentos.
No
quinto círculo, Dante e Virgílio encontram a alma do poeta latino Estácio, que,
terminada a expiação, está a subir para o cume da montanha; acompanham-no, e os
três juntamente passam para o sexto círculo, onde os gulosos, entre os quais
Forense Donati, amigo de Dante, estão reduzidos a uma magreza esquelética.
Durante a viagem, Estácio fala da sua conversão ao cristianismo e Virgílio, dos
seus companheiros do Limbo. O discurso torna-se depois mais erudito, versando
sobre a teoria da formação do corpo e da alma sensitiva, sobre a origem da alma
racional e sobrevivência da alma ao corpo.
Assim,
os três chegam ao sétimo círculo, onde os luxuriosos ardem no fogo. É preciso
que também Dante passe pelas chamas para purificar-se, e o bom Virgílio deve
recorrer à recordação de Beatriz para levar o relutante discípulo a entrar no
fogo. Superada a prova, Dante cai num sono profundo e sonha com uma jovem e
bela senhora que vai colhendo flores para se engrinaldar: é Lia, símbolo da
vida ativa. Uma última subida e eis as maravilhas do Paraíso Terrestre. Chegou,
entretanto, o momento da despedida de Virgílio: esperando a chegada de Beatriz,
Dante já não precisa ser amparado pelo seu conselho. Na "divina floresta,
espessa e viva", o poeta move sozinho os seus passos, continuando, porém,
a voltar-se para o seu mestre, que o olha afetuosamente de longe. Chega junto de
um límpido regato, além do qual vê uma senhora de celeste beleza, Matilde, que
caminha "cantando e escolhendo flores no meio de flores". Matilde é
talvez o símbolo da inocência primitiva.
Mas
já se vê avançar uma mística procissão: sete candelabros ardentes, vinte e
quatro mulheres cingidas com flor-de-lis, quatro animais estranhos e o carro
alegórico da Igreja, que sofre uma série de espantosas transformações, em volta
do qual dançam as três virtudes teologais e as quatro virtudes cardeais.
É
enfim: Veste nívea, cingida de oliveira,
/ Apareceu-me a Dama em verde manto, / E vestida de cor da chama viva.
É
Beatriz. A emoção do poeta atinge a sua acme. Sente nascer em si a antiga chama
e volta-se para tornar Virgílio participante de um tão ardente acontecimento:
mas o mestre já tinha desaparecido em silêncio.
Beatriz,
que simboliza a luz de Deus enquanto verdade, dirige-se-lhe, severamente
repreendendo Dante pelas suas culpas e convidando-o a confessá-las. A confissão
purifica o poeta, que, depois de haver sido imerso por Matilde nos dois rios do
Paraíso Terrestre, que fazem esquecer as culpas cometidas e despertam a memória
das boas ações, está finalmente preparado para subir ao Paraíso.
O Paraíso
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The Divine Comedy:Illustrations by Gustave Doré
Paradiso,
Canto 8: Charles Martel addressesDante and Beatrice
Thus changed, it said to me: "The
world possessed me
Short time below; and, if it had been more,
Much evil will be which would not have been.
My gladness keepeth me concealed from thee,
Which rayeth round about me, and doth hide me
Like as a creature swathed in its own silk.
Much didst thou love me, and thou hadst good reason;
For had I been below, I should have shown thee
Somewhat beyond the foliage of my love.
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O
Paraíso é o canto da beatitude, da consonância da vontade dos bem-aventurados
com a de Deus. É também o canto das dissertações teológicas, das doutas
explicações que Dante recebe da sua dama e de outros eleitos. Mas
principalmente é o canto da luz, uma luz que resplende, que irradia, flameja,
palpita onde quer que seja, sobre as figuras dos bem-aventurados, nos olhos de
Beatriz, sobre as esferas que se movem nos céus, e que se torna tanto mais
ofuscante quanto mais se sobe para a visão de Deus.
Do
Paraíso Terrestre, Dante e Beatriz erguem-se com movimento rapidíssimo para a
esfera do fogo e, ultrapassada, chegam ao primeiro céu, o da Lua, onde se
encontram os espíritos daqueles que foram constrangidos pela violência dos
outros a serem infiéis aos votos religiosos. Dante encontra aí Piccarda Donati.
No Paraíso, os bem-aventurados residem todos no Empíreo em contemplação de
Deus, mais perto ou mais longe d'Ele segundo seu mérito, mas todos felizes do
seu estado. Só para fazer compreender a Dante a arquitetura celeste, e para lhe
mostrar o seu diverso grau de felicidade, eles se agrupam nos sete céus
planetários, cada um naquele cuja influência sofreu em vida, segundo as regras
astrológicas medievais. Uma particular virtude moral preside a cada céu: a
fortaleza no céu da Lua, a justiça em Mercúrio, a temperança em Vênus, a prudência
no Sol; e no céu de Marte há a fé, no de Júpiter, a esperança, em Saturno, a
caridade.
No
céu de Mercúrio pairam os espíritos que usaram do seu talento para fazer o bem.
E aqui se revela a Dante Justiniano, o qual celebra, a grandes linhas, a história
do Império Romano, desde Enéias a Carlos Magno. Depois do encontro com o
imperador, Beatriz tira algumas dúvidas de Dante falando-lhe da morte de
Cristo, da redenção do homem do pecado original, da incorruptibilidade do que
foi criado diretamente por Deus. E assim discutindo, chegam à esfera de Vênus,
onde, entre os espíritos que fortemente amaram, encontram Carlos Martel, filho
de Carlos II de Anjou. Passando por Florença em 1294, o jovem angevino
conhecera Dante e dera-lhe prova de grande amizade, logo cortada pela sua morte
prematura. Depois de Carlos, outros espíritos amantes se revelam ao poeta:
Cunizza da Romano e Folco de Marselha, que censura a vergonhosa avareza dos
eclesiásticos.
No
quarto céu, o do Sol, brilham as almas sapientes e triunfam os teólogos. Dante
encontra lá Tomás de Aquino e Boaventura de Bagnorea, que tecem o elogio dos
dois grandes campeões da fé, S. Domingos e S. Francisco. O quinto é o céu de
Marte, onde as almas dos que Morreram combatendo pela fé de Cristo estão
dispostas em forma de cruz luminosa. Do baço direito da cruz fulgurante
revela-se ao poeta o seu trisavô, Cacciaguida, morto na segunda cruzada.
Cacciaguida fala de Florença dos seus tempos antigos, quando a população,
encerrada no primeiro círculo de muralhas, "estava em paz, sóbria e
pudica", e prediz a Dante o exílio, exortando-o todavia a suportar as
injustiças confiando em Deus: principalmente não tenha medo da verdade, mas
grite-a no rosto de todos sem se preocupar com as conseqüências. Dante continua
a subir com Beatriz: no sétimo céu, o de Saturno, os espíritos contemplativos
estão ordenados segundo uma escala admirável que sobe até ao Empíreo. S. Pedro
Damião fala do mistério da predestinação; S. Bento conta de si e da ordem e
lamenta a sua decadência.
O
oitavo é o céu das estrelas fixas: em forma de fúlgido sol, no meio das mil
esplêndidas luzes dos bem-aventurados, Dante assiste ao triunfo de Cristo.
Sobre Cristo ao empíreo e, num tripúdio de fulgor, os bem-aventurados celebram
o triunfo de Maria. Antes da ascensão ao nono céu, S. Pedro, S. Tiago e S. João
interrogam o poeta sobre a fé, a esperança e a caridade! Dante supera com êxito
este exame acerca das virtudes teologais e depois ouve de Pedro a mais rude
invectiva contra o papado e a sua corrupção. Aos três apóstolos junta-se depois
Adão, que desvenda ao poeta a natureza do pecado original e lhe diz quantos nos
passaram desde a criação do homem, quanto tempo ficou no Paraíso Terrestre e a
língua que falou.
Depois
de um hino de agradecimento a Deus, os bem-aventurados sobem para o Empíreo. Do
nono céu, ou primeiro móvel, Dante contempla nove esplêndidos coros angélicos,
cujas virtudes e função lhe são explicadas por Beatriz; ela fala-lhe depois da
causa, do lugar e do tempo da criação dos anjos, nas suas ades, do seu número e
das trágicas diferenças entre os anjos fiéis e os rebeldes.
Dispersos
os anjos, comparece perante os olhos de Dante o fúlgido ofuscante espetáculo da
Rosa celeste, formada pelos espíritos triunfantes e pelos anjos, em volta de
Deus. É o Paraíso dos contemplantes. Beatriz deixa Dante e vai ocupar o seu
lugar no terceiro círculo dos eleitos. Junto do poeta está agora S. Bernardo, o
mais ardente dos místicos, que o guiará, pois que Dante, agora, não poderá
seguir com a força da razão, mas apenas por arroubos estáticos.
Invocada
por S. Bernardo com uma estupenda oração, a Virgem intercede junto de Deus e
obtém para a graça sublime: o poeta tem a visão da Divindade.
É um
átimo inefável, um entrever para além das capacidades humanas, um fulgor
faiscante que a memória não pode fixar. E com a vista no inexprimível termina o
poema.
Clique
e salve em seu computador a versão em PDF da Divina Comédia, traduzida para o
português, pelo brasileiro José Pedro Xavier Pinheiro e hospedada no site Domínio
Publico: A Divina Comédia
Se
preferir ler a versão original, em italiano, ou versão traduzida para o inglês, clique: Dante on line.
Fonte:
http://www.dominiopublico.gov.br
http://www.danteonline.it
Revista Biografia.
Um comentário
Gostei muito deste conteúdo, vai me ajudar bastante na prova! Obrigada.
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