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O amor está no ar [Celso Sisto]


LAGO, Angela. Psiquê. Ilustrações da autora.
 São Paulo, Cosac Naify, 2009. 56p.

 O amor está no ar


Todas as coisas no mundo deveriam girar em torno do amor e ele é que deveria mover as pessoas. Mesmo que se dê outro nome para isso: amizade, fraternidade, solidariedade, cumplicidade, paternidade, etc...

Neste livro, Psiquê, a princesa mais linda do mundo, desperta o ciúme de Afrodite, a deusa da beleza. Para vingar-se, Afrodite convoca o filho Eros, considerado o mais terrível dos seres. A princesa deveria se apaixonar por ele, mas acontece exatamente o contrário. Por ordem do destino, Psiquê deve casar-se com um monstro: “uma fera que voa, queima e fere”. A princesa é deixada à beira do abismo, conforme havia sido exigido. Mas o vento a conduz a um castelo e finalmente ao marido. Ele viria todas as noites e partiria antes do amanhecer. Mas ela não poderia vê-lo, era a ordem. Instigada pelas irmãs invejosas, Psiquê decide comprovar se o marido é mesmo um monstro. Ao tentar ver seu rosto, descobre que ele é Eros, o deus do amor, mas acaba ferindo-o gravemente, ao deixar cair nele, uma gota do azeite da lamparina. Afrodite, a partir daí, esconde o filho machucado, e Psiquê é obrigada a vagar quase sem cessar pelo mundo, cumprindo penosas penas, para tê-lo de volta.
O mito grego é famoso e bastante conhecido. Mas aqui, está direcionado para o público infanto-juvenil e é contado de forma potente, elegante e enxuta.  O mito ganha ares de contos de fadas, e é possível reconhecer nele “episódios” que vão aparecer também em histórias famosas, o que prova que os contos da tradição oral atravessam espaços e tempos e mantêm uma intercomunicação ainda misteriosa! A autora presenteia o leitor, logo na abertura, com seu bom augúrio: “esta história é de encantamento. Traz vida longa e boa sorte a todos que a escutam ou a lêem”. Um oráculo, um convite, uma provocação.


Nesta história tudo é superlativo: a mais bonita, o mais terrível, a grande ferida, a busca sem fim. Por isso, talvez o texto seja sintético, com blocos pequenos, com frases curtas, com imagens apenas intuídas.


A grande aventura de Psiquê, certamente transforma-a em heroína (na mitologoia grega os homens eram os heróis!), fazendo-a realizar tarefas quase impossíveis, embora a curiosidade e a vaidade quase a derrotem.


Uma das grandes atrações do livro é o jogo de luz e sombra que ele propõe. As ilustrações são feitas em fundo preto, o texto aparece sempre em fundo branco. Os personagens só são vistos através de suas sombras e a caneta eletrônica da ilustradora, com suas micro pinceladas rápidas, com seus tracejados e pontilhismos cria imagens (impressionistas) delicadas, mágicas, impactantes.


A autora do texto, que é também a ilustradora, acaba por confessar, na página final, que tudo o que ela fizer (o escrever e o desenhar) será sempre conseqüência do espantoso céu cheio de estrelas, visto por ela lá na infância. Este livro é isto: um céu negro, esparramado de estrelas, mas salpicado também pela luz da lua, do dia que nasce, dos olhos, do amor.


Celso Sisto é escritor, ilustrador, contador de histórias do grupo Morandubetá (RJ), ator, arte-educador, crítico de literatura infantil e juvenil, especialista em literatura infantil e juvenil, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Doutor em Teoria da Literatura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e responsável pela formação de inúmeros grupos de contadores de histórias espalhados pelo país. 

Um comentário

Anônimo disse...

A história realmente é linda e, "Psiquê" de Angela Lago deve ser mesmo um encantamento, criado pelo olhar amoroso da autora. Abraço.