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Rádio-jornalismo paulistano diversifica estratégia pela audiência [ Elói Alves]


Rádio-jornalismo paulistano diversifica estratégia pela audiência

CBN mantém programação da rádio na internet com imagens ao vivo do estúdio - na foto, apresentação do programa Sexta de música.
O segmento de notícias que usa o rádio para levar suas informações até as pessoas, ao contrário de algumas análises que previam seu fracasso, é hoje na era digital e da internet um braço forte do jornalismo brasileiro. Grandes profissionais e medalhões cujo nome atrai por si são trazidos aos microfones até como âncoras. Além disso, grandes anunciantes e pesados investimentos na diversificação das programações e em suas estratégias são alguns dos recursos para conquistar e manter o ouvinte no prefixo. O rádio tem a seu favor a capacidade de dinamismo e interação com as pessoas de modo praticamente instantâneo, coisas que o jornal impresso e o telejornal ainda não conseguem acompanhar. Também a capacidade de ir ao encontro da notícia, levando-a ao ar numa velocidade maior que a de outros segmentos são índices de sua força.
O diferencial, no entanto, não está nas notícias- sobretudo nas rádios paulistanas desse segmento- que são sempre as mesmas em todas elas nos diversos setores, como a economia, a política, os crimes que chamam à atenção, a crise econômica no mundo, conflitos internacionais etc, mas sim nas estratégias de que cada uma das emissoras utiliza a sua maneira. Mudam-se a abordagem e as estratégias, que inclui o modo de montagem da grade, o perfil dos profissionais, o modos e tipos de anúncios veiculados, que são mais discretos em algumas rádios e em outras parecem anunciantes de algumas feiras de rua, com gritaria para chamar a tenção e onde a freguesa é conquistada pela guela mais forte. Nessas rádios, é preciso correr para abaixar o volume na hora da propaganda, que é mais alto nos intervalos comerciais agredindo os ouvidos. Com as facilidades digitais de hoje fica mais fácil mudar para outra programação na hora da propaganda, principalmente quem ouve notícias a partir do celular.


ESTRATÉGIA DAS EMISSORAS
A CBN:
Há alguns anos a CBN – Central Brasileira de Notícias, rádio do Sistema Globo de Comunicação, inovou em seu jornalismo. Com uma grade de vinte e quatro horas de notícias, trouxe o Repórter CBN, que dá os destaques do dia a cada trinta minutos. A filosofia da rádio é ser estrita e restritamente veiculo de notícias, não saindo do formato clássico do rádio-jornalismo. Mesmo quando a notícia é música, evita-se colocar a música completa, não passando de trinta segundos, geralmente. Em seu programa Sexta de música, que surgiu recentemente e vai ao ar às sextas feiras às vinte e três horas, há muito bate-papo com os artistas e as músicas são tocadas quase sempre na saída para o intervalo. Esta filosofia da CBN é levada tão a sério que em uma propaganda oficial da grade da emissora, um suposto ouvinte ligava para pedir uma música, como não podia ser atendido, ele acabava pedindo para oferecer uma notícia para sua amada. Hoje, uma parte da programação está voltada para o futebol. Nos primeiros momentos de vida da emissora isso não ocorria, mas logo o futebol virou notícia importante no prefixo, certamente não por princípios jornalísticos, mas por inclinação à audiência. Neste âmbito cabe a questão da ideologia política da emissora, de que irei falar ao fim do texto. A CBN tem uma preocupação especial com a imagem “séria” de seu jornalismo, trazendo do mercado profissionais que cooperem para confirmar esse caráter. Carlos Alberto Sardenberg é um dos profissionais que se encaixam nessa filosofia. O jornalista, um generalista mais profundo que o comum do meio, trazido dos jornais impressos para o falado, tem interesse peculiar pela economia e trata de questões de política e sociais com menos superficialidade e sem alguns equívocos corriqueiros na área. Além de Sardemberg, um nome bastante respeitado na emissora é o do cronista político e imortal da ABL (Academia Brasileira de Letras) Merval Pereira, que substituiu Franklim Martins, que era mais cauteloso que o atual comentarista nas críticas políticas e mais superficial nas análises, tornando-se, depois, ministro de Lula.

A BAND NEWS FM
A Band News FM é bem mais recente que a CBN e pertence ao Grupo Bandeirantes. Igualmente emissora de notícias vinte e quatro horas, iniciou sua programação com alguns cuidados no estilo e no formato da grade, sobretudo para diferenciar-se das principais concorrentes no segmento de radio-jornalismo que a antecediam. Em meio aos conflitos internacionais do primeiro mandato de Buch filho, ela surgiu dando as notícias bombásticas a cada vinte minutos, com o slogan de que nesse intervalo “ tudo pode mudar”. Era aproximadamente o intervalo dos dois aviões que derrubaram as torres do World Trade Center. Mas, numa referência direta a concorrência, fazia o giro de notícias num tempo menor que a CBN. A linha da programação desde o início tinha o objetivo de se diferenciar sem fugir da “cara de jornal”. Trouxe colunista de moda, chefe de cozinha, opinião sobre a educação familiar, profissionais de saúde e educação física, consultorias diversas, mas não o futebol, que é já marca registrada de outras emissoras da grupo, como a rádio Bandeirantes, tradicionalmente no AM dos paulistanos. Entretanto, não resistiu muito e já tem uma programação específica de transmissão de jogos de futebol. Além de jornalistas famosos como Ricardo Boechat e Boris Casoy, a Band News tem um elenco de pessoas famosas que atraem os ouvintes pelo menos pelo nome. Entre estes estava Paulo Autran, que declamava poesias e outros textos ao microfone da rádio até a sua morte.

A ESTADÃO ESPN
Outra rádio desse segmento do jornalismo da cidade de São Paulo é a Estadão ESPN que surgiu no primeiro semestre de 2011, ocupando o prefixo da Famosa Rádio Eldorado, que mudou de frequência. Na programação há uma parceria do pessoal de notícia do Grupo Estadão com o pessoal de esporte, principalmente futebol, da ESPN. A pesar de muito recente, a rádio já tem perfil muito bem definido e audiência considerável. Em relação as concorrentes no campo do rádio-jornalismo seguiu a tendência das rádios citadas acima, lançando o “Giro 15”. A cada quinze minutos a programação cede espaço a um locutor específico para manchetes do dia. Apesar da audiência em rádio ser bastante cíclica, a emissora terá que tomar os cuidados para que este modelo não canse os ouvintes pela repetição excessiva.
Uma considerável diferença desta para as outras rádios é que ela incorporou o pessoal do jornal impresso, já bastante tradicional, à grade, adaptando os cadernos de economia, de imóveis, de automóveis a programas da grade na rádio. O Caderno de Economia, por exemplo, tradicional do jornal impresso, tem espaço diário nas manhãs da emissora. Já a parceria com a ESPN evitou um desvio na programação da rádio, fazendo do esporte, exploradamente o futebol, uma intenção clara da emissora desde o princípio. Este segmento da audiência é um apelo, como vimos nas outras emissoras, pelo crescimento do número de ouvintes.

AS REDES SOCIAIS E O TORPEDO NO RÁDIO
As redes sociais e os torpedos estão totalmente inseridos na interação com os ouvintes. Praticamente o modelo antigo de se ligar para um telefone fixo da rádio já caiu em desuso. O facebook, o twitter são frequentemente utilizados para se referir à programação, para opinar e sugerir. O torpedo é outro recurso muito recorrente. Os ouvintes são chamados a opinar por mensagens via celular e o locutor diz o número e o custo, sem impostos. Um caso curioso é que os ouvintes fazem a função de repórter, informando à emissora como está o trânsito, as condições das vias e é avisado que lhe custará R$ 1,40 pelo serviço que ele, ouvinte, está prestando. A CBN foi uma das emissoras que adotaram completamente a transmissão pela internet, mantendo, além de transmissões simultâneas através de câmeras no estúdio, dois programas da emissora com transmissão ao vivo exclusivamente pela rede:

IDEOLOGIAS POLÍTICAS
As ideologias políticas das emissoras nem sempre estão facilmente perceptíveis e exigem certa atenção dos ouvintes para distingui-las. O caso recente do italiano Cezare Battisti, que recebeu do ex-presidente Lula permissão para permanecer no país é bem sintomático disto. Em suas reportagens sobre o caso, que teve grande repercussão nacional e internacional, a CBN e as demais emissoras do grupo davam a Battisti o tratamento de “ex-ativista italiano”, sem maiores detalhes sobre as acusações e condenações pela justiça italiana. Sem outras informações, a palavra “ex-ativista” poderia ser aplicada a um integrante de causas humanitárias ou mesmo ao green peace. Já a Band News, como as outras emissoras do Grupo Bandeirantes, deram ao condenado italiano o tratamento de “ex-terrorista”, mencionando os assassinatos pelos quais era acusado, as condenações pela justiça de seu país e a fuga para França e a entrada ilegal no Brasil. Além disso, nos comentários dos telejornais da Band, houve opinião em formato de editorial apontando erro diplomático nos conflitos com a Itália devido ao caso e o descumprimento de um tratado internacional. A escolha por um editorial no rádio-jornalismo não é muito frequente. Algumas emissoras, no entanto, fazem questão de expô-lo de modo claro e até contundente. Além das rádios do Grupo Bandeirantes, a Rádio Jovem Pan é outra que mantém um editorial com bastante contundência e chega a fazer campanha. Há alguns anos veicula ao longo da programação a frase: “Brasil, o país dos impostos”. Sobre a violência, chegou a defender o uso nos carros de adesivos dizendo; “Eu já fui assaltado”.

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Elói Alves é paulistano, estudou Teologia (FATEMOC – 2003), graduou-se em Letras (FFLCH-USP -2007) e licenciou-se em língua vernácula (FE-USP – 2007). Sua produção literária passeia por diversos gêneros (poesia, teatro, crônica, ensaio crítico e diferentes tipos de narrativas ficcionais). No ano 2000, por ocasião dos 500 anos, ganhou seu primeiro prêmio literário com o poema “Oh, meu Brasil” e em 2011 obteve sua última premiação com a crônica “Olhares e passadas pela cidade”, como vencedor do concurso Valeu professor, promovido pela Prefeitura de São Paulo, sendo um dos autores do Livro “Sob o céu da cidade”. É autor do romance As pílulas do Santo Cristo, publicado pela Editora Linear B, em novembro de 2012. Página na internet:

Um comentário

Jane Eyre Uchôa disse...

é incrivel mesmo como o rádio se sobressai apesar de todos os avanços tecnológicos, Porém , mais importante mesmo é perceber que esta sobrevivencia se dá justamenteo pelo contato humano, o homem continua precisando do outro e isso é muito bom. As redes sociais que se estabeleceram possuem bate papo, por isso sobreviveram, interagi'r é a grande sacada do homem! Parabéns bjs