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SAUDADE DO SIMPLES [Fabrício Carpinejar]

Arte de Eduardo Nasi 
SAUDADE DO SIMPLES

O homem sempre é atrasado para amadurecer. Na escola, a menina anseia namorar e ele pensa unicamente em futebol. A menina de doze anos formou seu corpo e pisou na adolescência e o guri da mesma idade ainda está imberbe e não tem nenhum interesse em largar as briguinhas com os colegas.

Temos um retardo de três anos em relação ao time feminino.

Na vida adulta seguimos levando surra. A revolução sexual chegou muito antes para elas.

O macho agora que se deslumbrou em fazer sexo oral, por exemplo. É emblemática sua necessidade de posar como moderno. Não abdica da preliminar. Sua primeira atitude na transa é se dedicar a chupar sua parceira. Nem tirou a roupa e está chupando.


Cheio de boas intenções, ele se perde. Confunde o oral com maratona. A mulher ou dorme ou cansa de esperar a penetração.

Homem, quando busca agradar, exagera. E o exagero é broxante, pois ultrapassa a linha do prazer para desembocar na compaixão.

Obcecado em se tornar inesquecível, não equaciona o recado: a mulher não quer massagem, mas sexo.

Um dos seus erros é se ressentir do papai-mamãe. Acha que é um modelo antiquado, anacrônico, que lembra seus avós.

Adota variadas acrobacias, menos papai-mamãe. Para não ser acusado de conservador e machista, não desce mais da gangorra.

O homem vem sofrendo um medo tremendo de ser homem.

Um pouco mais e o papai-mamãe será extinto, injustamente.

É a posição mais romântica, mais sincera, mais transparente que existe.

É feita para quem ama de verdade.

O papai-mamãe é olhar nos olhos, é oferecer o peso do corpo, é confessar o pulmão.

São as pernas firmemente entrelaçadas. São os seios comprimidos no peito. São os braços estendidos em oferta.

Complica para qualquer um fingir orgasmo, complica para qualquer um fugir com a imaginação.

É o encaixe perfeito para arranhar as costas, morder o pescoço, cochichar aos ouvidos.

Movimento obsceno e messiânico, rude e suave.

No papai-mamãe, você pode ciscar um beijo enquanto o outro estiver gemendo, você pode observar o outro gozando, você pode segurar a mão para mostrar que não há desigualdade no grito.

Aliás, só no papai-mamãe as pessoas andam de mãos dadas também na cama.







Crônica publicada no site Vida BreveColunista de quarta-feira






Fabrício  Carpinejar,poeta, cronista, jornalista e professor, mestre em Literatura Brasileira pela Ufrgs. Vem sendo aclamado por escritores do porte de Carlos Heitor Cony, Millôr Fernandes, Ignácio de Loyola Brandão e Antonio Skármeta como um dos principais nomes da poesia contemporânea.

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