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Lançamento do livro de contos "Subterfúgios Urbanos" [Wuldson Marcelo]

Lançamento do livro de contos "Subterfúgios Urbanos"

Autor: Wuldson Marcelo

Local: Escola de Circo Leite de Pedras

Endereço: Praça Chico Jacaré - Bairro Lixeira
(atrás do Posto de Saúde)

Data: 15 de Março de 2013

Horário: 19 horas

Cuiabá - MT

“Subterfúgios Urbanos” são narrativas que não fogem à pretensão do que o título quer comunicar: evasivas para um problema maior; pretextos para uma vida sem significado; manobras para fugir a dificuldades que parecem inconciliáveis com as expectativas almejadas para a vida; e escapatórias a um destino que nos aguarda como soberano.   Essas peripécias necessárias são vividas por personagens presos no concreto, aos cenários de uma cidade que, mesma mais imaginada que real, tem um nome sonoro e enigmático, que atávico, lembra guerreiros em luta pela sobrevivência: Cuiabá. Os contos falam sobre musas, brincam com a mitologia e versam sobre as ilusões da juventude. Subterfúgios em uma Cuiabá que não se deixa apreender, pois que não é a Cuiabá cantada nos festejos da terra, mas uma Cuiabá contemporânea, inventiva e violenta em busca de amor e compreensão.

“Subterfúgios Urbanos” são contos que transcorrem em uma Cuiabá que é transformada para receber e aceitar as influências do autor: com ares de cenário de policial noir; periférica, onde o mito de Orfeu ganha forma; um misto de tradição e miscelânea musical na estória da musa Madalena.
Subterfúgios não são apenas manobras para camuflar sentimentos ou escapar à verdade. Em “Subterfúgios Urbanos” pode ocorrer uma inversão, e a evasiva se torna um meio de constituir uma nova realidade, com diferentes maneiras de alcançar um objetivo ou de construir uma saída para o desespero.  Tudo são formas de expressão dessa busca por doses de vida que criem esperança, força e um lugar num mundo em completo desarranjo.
A cidade é um corpo vivo, repleto de sensações e subterfúgios que transbordam na tentativa de comunicar ao mundo que existe.




Wuldson Marcelo, cuiabano, nascido em 1979. Graduado em Filosofia pela UFMT e mestre em Estudos de Cultura Contemporânea (ECCO\UFMT). 
Foi editor do “Caos Sophia”, jornal dos alunos de Filosofia, de 2003 a 2005. Possui artigos e contos publicados em jornais e sites de Mato Grosso e demais estados brasileiros, entre eles contos no site Releituras, no jornal “Bom Dia” de circulação em cidades do interior de São Paulo e no Grande ABC e na Revista Contemporartes.  
É revisor de textos e autor dos livros de contos “Subterfúgios Urbanos” (Editora Multifoco-RJ, 2013) e Obscuro-shi (no prelo, Editora Carlini&Caniato: Cuiabá-MT)e um dos organizadores da coletânea “Beatniks, malditos e marginais em Cuiabá: literatura na Cidade Verde” (no prelo, Editora Multifoco).


LINGUAGUEM

A Dalton Trevisan.


1
O menino sorria ao chegar ao portão de sua casa. O clima fúnebre o fez pressentir algo. Tudo quieto, mas, de repente, um choro baixinho veio de dentro da residência. Teve medo. A família pequena reunida no quarto. Na sala só o irmão caçula de três anos. O pai apareceu com as irmãs no colo. As duas com lágrimas escorrendo até os ombros miúdos. O pai se aproximou dele e anunciou com voz embargada: - A sua mãe abotoou o paletó de madeira.

2
Irene conhecia todos os homens da rua. Sabia os gostos de cada um deles. Quem era afeito à sodomia, àqueles que preferiam uma rapidinha ou os sujeitos que extrapolavam na bizarrice. Dona Mariana implorava à filha abandonar a mania de seduzir os maridos das outras. Irene não se importava com os queixumes da mãe, nem com as surras que levava das mulheres. Até ameaçada de morte ela foi. Um dia apareceu no bairro Christian, que Irene julgou ser o homem mais bonito que já havia visto. Ela o abordou, cercou, tentou seduzir. Por fim, humilhou-se. Christian, então, educadamente proferiu: - Comigo você vai cair do cavalo. Eu sou gay!

3
Ele engatilhou o revólver. Já havia matado o amante da esposa. Parou, bebeu uma cerveja no gargalo mesmo. Quebrou a garrafa no rosto do morto. Instalou-se um odor insuportável de líquido derramado. A mulher estava acuada num canto, encostada na mesa do telefone. Queria pedir socorro, mas a arma do marido, matador profissional, mirava sua cabeça. O homem disse que a amava, mas honra era honra, e ele era um sujeito antigo, que aprendera tudo com o pai e o avô. Tudo bem que ele andasse com umas vagabundas, porém, eram ossos do ofício. A mulher olhou-o irritada e disse com uma gargalhada tenebrosa: - Você é o cão chupando manga.

4
A alvorada foi angustiante. Todos passeavam em seus carros, sem ímpeto, desejando que nada daquilo estivesse acontecendo. Um homem, cujo terno era impecável, tinha os olhos vermelhos, parecia não haver consolação para ele. Na frente, ia um carro preto, ganhando espaço nas ruas. As pessoas olhavam com consideração, algumas, era verdade, com indiferença. Um menino observou num automóvel, três meninas abraçadas, tão abaladas como se tivessem sido jogadas no vazio. O menino puxou a blusa da mãe para baixo, implorando atenção. A mãe o olhou, ele perguntou-lhe o porquê da caravana, para onde se dirigiam aquelas pessoas tão tristes. A mãe respondeu: - Vão para a cidade dos pés juntos.

5
Heitor descobriu a traição de Joca no bar quando bebia um copo de cachaça com um policial informante seu. A traição já era notória. Porém, a situação mostrava-se incômoda para Heitor. Joca era o seu comparsa e segurança. Homem corpulento de modos brutais desempenhava um papel fundamental nas cobranças e nas negociações dos entorpecentes. Entretanto, fechar um acordo com uns filhinhos de papai sem consultá-lo, parecia imperdoável para Heitor. Ele precisava manter a honra e a liderança do grupo. Joca deveria ser usado como exemplo para se evitar o cultivo de maus hábitos na "empresa". Mas, perder o apoio físico de um homem violento e temido como Joca seria como tornar-se um alvo fácil. Heitor vendo os transeuntes passarem fez um parar e comentou: - Esta situação é uma verdadeira faca de dois gumes.

6
O milionário segurou a caneta. Movimentou-a sem se decidir. A menina esperava. Vestia uma blusa vermelha e calças jeans justapostas. A Barbie tinha quinze anos. O velho preste a morrer de câncer no pâncreas. Deveria ter ainda uns onze meses de vida. Parecia forte. A menina estava impaciente, tirou as calças e abaixou a calcinha rosa. O velho sorriu. Mas, continuou com a caneta e o papel nas mãos. Refletia se precisaria mesmo contratar a menina como aprendiz de tecelã na sua fábrica. Sabia que seria um bom disfarce para encobrir que a Barbie prestar-lhe-ia, na verdade, favores sexuais. A menina disse com rispidez: - Vamos, homem! Sexo só depois do preto no branco.

7
Denis usava a máscara de oxigênio aguardando a sua vez de medir a pressão. O hospital estava repleto de pacientes no mesmo estado que o seu. Ele viu o cardiologista passar em direção ao consultório. A consulta semanal já o irritava, aquela aglomeração, então, tornava tudo insuportável. O médico disse-lhe categoricamente que precisava de um transplante urgente, que dentro de alguns meses seu coração não responderia mais aos remédios e o tratamento se mostraria insuficiente. Denis rememorou seu plano de atacar um bêbado, levá-lo a um consultório clandestino, onde um médico antiético faria a cirurgia. Esse tipo de assassinato seria justificado, consolava-se. Porém, não resistiu, sentiu-se enojado com as atrocidades que começava a imaginar. Chorou. Uma jovem belíssima tocou-lhe a mão direita e disse encantadoramente: - Firmeza, amigo. Sempre há uma luz no fim do túnel.

8
Jacinto ouvia uma canção dos Titãs sentado na entrada de acesso ao quarto do amigo Paolo. As jovens irmãs ruivas, Teresa e Madalena, o dono da casa, Paolo, e mais Igor, Rogério e, a deusa de ébano, Vitória estavam na cama fumando um cigarro de maconha. Jacinto fazia parte da roda. Toda vez que o cigarro chegava a sua mão, sentia-se extasiado com aquela singela e sincera comunhão entre pessoas queridas. Porém, algo rompeu o círculo de louvação à amizade. Nestor entrou no quarto com um papelote de cocaína. Todos ficaram fissurados. Nestor preparou uma carreira para cada um. Jacinto recusou. Não via sentido naquela agressão ao corpo. Era o que ele pensava. Minutos depois, ele viu Teresa tentando aspirar o pó, mas o produto escorria pelas suas narinas. Jacinto arrumou suas coisas e anunciou aos amigos: - Eu vou embora, estou me sentindo um peixe fora d'água.

9
Talvez fosse o dia cinzento sem perspectiva de melhora ou o fato de Alice ter se menstruado no colégio e sentido muita vergonha de ter ficado com a saia verde manchada. Dolores estava disposta a criar alguma confusão. Ela concluiu que o dia cinzento ou a menstruação da irmã não geraram a sua irritabilidade. Simplesmente, pensou que acordara saturada. Em casa, evitou os pais e seguiu para o colégio. Lá sim, imaginou, poderia transbordar sua fúria. A tristeza de Alice alimentou o seu desejo de desfigurar alguém. Por que tanta raiva? Ela não entendia. Na verdade, preferiu não encontrar resposta. Do jeito como estava o seu espírito era o ideal para provocar o ato de destaque que sonhara. Aguardou a primeira risada dirigida à situação da irmã para tornar a atitude definitiva. Uma menina chamada Susana, apontou Alice e riu garbosamente. Dolores a atacou violentamente com os punhos. Susana teve o supercílio direito aberto, levou sete pontos. A diretora convocou os pais de Dolores para uma reunião e desabafou: - Esta garota está impossível. Ela faz um bicho de sete cabeças a respeito de tudo.

O livro está a venda pelo telefone (65) 9239-0830
ou pela Editora Multifoco-RJ

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