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Pedro Machado Abrunhosa (20 de Dezembro de 1960, Sé, Porto), é um cantor e compositor português.
Inicia cedo os estudos musicais, mais seriamente em 1976. Termina o Curso de Composição do Conservatório de Música do Porto, estuda e trabalha com os professores Álvaro Salazar e Jorge Peixinho. Faz o Curso de Pedagogia Musical com Jos Wuytack. Aos dezasseis anos já dava aulas na Escola de Música do Porto. Pouco depois ensinava também no ensino oficial, na Escola do Hot Clube, em Lisboa, e na Escola de Música Caiús. Desenvolve os estudos de Contrabaixo. Funda a Escola de Jazz do Porto e a Orquestra da mesma, que dirige e para a qual escreve.
Trabalha nesta área por toda a Europa com Joe Hunt, Wallace Rooney, Gerry Nyewood, Steve Brown, Todd Coolman, Billy Hart, Bill Dobbins, Dave Schnitter, Jack Walrath, Boulou Ferré, Elios Ferré, Ramon Cardo, Frankie Rose, Vicent Penasse e Tommy Halferty.
Em Abril de 1994 é editado o álbum “Viagens”, gravado conjuntamente com os “Bandemónio”. O disco é um enorme sucesso atingindo a marca de tripla platina. Neste álbum conta com a participação especial do saxofonista de James Brown, Maceo Parker. Faz mais de duzentos espectáculos em apenas dois anos. Apresenta-se ainda nos Estados Unidos, Canadá, Brasil, Macau, França, Suíça, Espanha, Luxemburgo, Itália e outros.
Lança em 1995 o Maxi-single F e um livro que causam um inesperado impacto.
Compôe a música Se Eu Fosse Um dia o Teu Olhar para a banda sonora do filme Adão e Eva que bate todos os recordes de bilheteira.
Em 13 de Novembro de 1996 edita “Tempo”, agora com uma nova formação dos Bandemónio. “Tempo” vende acima das 180.000 unidades, ultrapassando a marca de quádrupla platina. Para este álbum trabalou em Minneapolis, Memphis e Nova Iorque com a banda de Prince, os New Power Generation, e Tom Tucker, seu engenheiro principal. Participam ainda Carlos do Carmo, Opus Ensemble e Rui Veloso. É editado o disco "Tempo - Versões e Reimixes".
Escreve, compõe e produz o musical “Rapaz de Papel”, encomenda do Festival dos Cem Dias. Posteriormente grava todas estas músicas no álbum “Amanhecer” de Diana Basto.
É convidado por Caetano Veloso a realizar um espectáculo em conjunto na Expo 98. É convidado pelo realizador Manoel de Oliveira para protagonista masculino do filme “A Carta”, rodado em Paris, Itália, Nova Iorque, Lisboa e Londres. Contracena com Chiara Mastroianni. Com esse filme, laureado no Festival de Cinema de Cannes com o Grande Prémio do Júri, tem a oportunidade de fazer a famosa “subida dos 24 degraus”.
As suas canções são gravadas e interpretadas no Brasil por artistas como Caetano Veloso, Lenine, Zélia Duncan, Elba Ramalho, Zeca Baleiro, Sandra de Sá, Syang, Rio Soul, Edson Cordeiro, entre outros.
Em 1999 edita Silêncio, um disco de viragem extremamente importante para a carreira dos Bandemónio mas que fica aquém das vendas dos dois discos anteriores: ultrapassa as 40.000 unidades, atingindo a marca de platina.
Em 2002 editou Momento, um êxito de vendas e airplay em todas as rádios nacionais, e atingindo novamente a marca de dupla-platina, com vendas superiores a 90.000 unidades. Durante dois anos, a canção “Momento (Uma Espécie de Céu)” foi a mais tocada em Portugal.
Em 2003 edita o álbum triplo, “Palco”, resultado dos emblemáticos concertos ao vivo com os Bandemónio e os HornHeads de Prince. Com o disco palco, dupla platina, atinge vendas de 72.000 unidades. Um discos inclui duetos com Lenine e Zélia Duncan.
Em 2004 encerra o Rock in Rio Lisboa, concerto integrado na sua direção 2002/2004 com mais de 120 espectáculos realizados.
Entretanto, tem feito palestras, debates e conferências por todo o país, sobretudo em Faculdades, Escolas, Bibliotecas ou afins. Escreveu para a TSF, Magazine Artes, Fórum Estudante e tem trabalhos editados nas mais variadas publicações.
Em 2006 participou numa das músicas do álbum de estreia da banda portuguesa Cindy Kat, música essa - A Saída. Editou ainda o livro Canções, que rapidamente esgotou, contendo partituras das suas mais emblemáticas músicas.
Lançou em 3 de Abril de 2007 o single Quem me leva os meus fantasmas, o primeiro single do novo álbum Luz lançado em 25 de Junho de 2007.
O primeiro concerto de Pedro Abrunhosa e Bandemónio após o lançamento do álbum Luz teve lugar no espaço Paradise Garage em Lisboa, na noite de 26 de Junho de 2007. É acompanhado ao vivo e em estúdio por: João André - baixo, Cláudio Souto - Teclas, Edgar Caramelo - Saxofone, Pedro Martins - Bateria e Marco Nunes - Guitarra
Pedro Abrunhosa anunciou um novo álbum já com data de edição , agora separado dos Bandemónio e com a sua nova banda, os Comité Caviar.
A 7 de Fevereiro de 2010 Pedro Abrunhosa foi protagonista de uma queda durante o programa 'Ídolos' da SIC quando se preparava para uma dupla actuação como convidado. Abrunhosa não sofreu ferimentos e até reagiu com humor. O cantor portuense rapidamente se recompôs e interpretou dois temas com os finalistas.
Desde 12 de Abril de 2010 o seu álbum "Longe" encontra-se disponível nos locais habituais, data em que também foi lançado o seu site oficial website - http://www.abrunhosa.com/ . A aparência do site modifica-se conforme a hora do dia em que se visita, acompanhada por efeitos sonoros adaptados à hora e local que as imagens de fundo evocam. Foi um projecto desenvolvido por duas empresas do Porto: Basepoint (Desenvolvimento) - http://www.basepoint.pt - e Campo Visual (Design) - http://www.campovisual.com -.
O álbum "Longe" foi apresentado na Casa da Música, no Porto, a 2 de Maio de 2010, estando nessa altura no 1º lugar no top de vendas.
Em 23 de maio de 2010, apresentou-se, num dueto, ao lado da diva brasileira Ivete Sangalo, durante a Gala de entrega dos Globos de Ouro, promovida pela SIC. No encontro, os dois cantaram uma canção de autoria do próprio Abrunhosa chamada "Fazer o que ainda Não Foi Feito".
É um dos embaixadores da Associação Fonográfica Portuguesa no combate à pirataria na Internet.
Discografia
Álbuns
1994 - Viagens
1996 - Tempo 1999 - Silêncio 2002 - Momento 2007 - Luz 2010 - Longe
Álbuns Ao Vivo
2003 - Palco (3CD)
2011 - Coliseu (2CD)
EPs
1995 - F
1997 - Tempo - Remixes e Versões 1998 - Pedro Abrunhosa
DVD
2005 - Intimidade
2011 - Coliseu
Bandas Sonoras
Escreve e executa as bandas sonoras dos filmes: “A Carta” de Manoel de Oliveira (música incidental), “Amour en Latin”, de Serge Abramovic, “Adão e Eva” de Joaquim Leitão e “Novo Mundo” com base em imagens do cartoonista António.
Compõe ainda para as peças de teatro Possessos de Amor, A Teia e O Aniversário de Infanta e 150 anos De Bonfim.
Prémios
2 Globos de Ouro
Prémio Bordallo de Imprensa 4 prémios BLITZ 4 prémios Rádio Nova Era Prémio prestígio Nova Gente Prémio de Melhor Banda Sonora, em Espanha ("Novo Mundo") Prémio Melhor Compositor, pela RCL. Prémio Telemóvel de Ouro, pelo recorde de downloads das suas músicas Prémio Arco-Íris 2007 da Associação ILGA Portugal pelo tema "Balada de Gisberta", do álbum Luz
Quando a Música é Ruído
Entrei no avião e ali fiquei na ânsia da descolagem. Dos altifalantes embutidos regurgitava a ‘Garota de Ipanema’ em flauta de pã. Uma sonoridade entre o clássico e o rádio de trolha que fazia tresandar todo o aparelho de uma melosidade viscosa que se colava à pele, aos ouvidos, ao jornal, ao fulano da frente. Aquele fiu-fiu lá no fundo, baixinho mas teimoso, afogava o ruído turbulento dos motores a aquecer. Era impossível não ir buscar nos recônditos escondidos do inconsciente a irritante melodia transformada em pau-para-toda-a-colher. Tentava concentrar-me nos motores, pensar nas engenharias necessárias para os construir, beber aquele som grave e tranquilizante do engenho a rolar na pista, e tudo se tornava impossível: ‘Olha que coisa mais linda/ mais cheia de graça’, mas agora em forma de assobios maneiristas e volteios de pássaro enjoado, atormentando o apetitoso ruído do avião que agora acelerava. E enquanto a hospedeira, surda provavelmente, distribuía sorrisos, rebuçados e cobertores, o flautista a transbordar melismas e trejeitos, arrastava pelas ruas da amargura acordes já sem alma nem graça de tão gastos em barbeiros, cafés e consultórios dentários. ‘Oh, Porque tudo é tão triste’, pensava eu, e já contaminado pelas palavras de Jobim imaginava-o a rebolar retumbante, lá no sítio onde esteja, em jeito de protesto por lhe assassinarem o trabalho.
Agora, já no destino, entro no táxi e, antes de poder dizer para onde quero ir, sou atacado por um Kenny G. qualquer que zumbe um pot-pourri de melodias de sempre berrantes e furiosas. Com os ouvidos ainda polutos pela generosa música que jorrava no aeroporto, invento uma desculpa e tento outro carro. Resultado idêntico: é a vez do Rock Sinfónico intervir no meu diálogo com o motorista.
Ninguém ouve a ninguém. Ou pelo menos eu não o ouço a ele porque não me consigo desviar dos Pink Floyd cristalizados nas camurças da viatura, como se fossem um pinheirinho musical que se pendura no retrovisor a empestar o ar com o seu aroma de melodia em estertor. ‘We don’t need no education/ We don’t need no thought control’, lá vão eles cantando por entre as ruas de Madrid enquanto lhes dou toda a razão mas preferia que me não perturbassem o sossego da neve que cai majestosa lá fora.
Lobby do hotel. Cansado, não da viagem mas da banda sonora, dirijo-me ao balcão. Algures um pianista vitupera as teclas com o ‘As Time Goes By’. Nenhum lugar-comum lhe poderia tirar o lugar. Enquanto aguardo que a senhora termine o relambório de boas-vindas, já o outro se perde em Gershwin e Cole Porter mas à maneira de hotel: muitas cascatas e rendilhados, que é como quem diz, mal tocado, a gosto daquelas senhoras lustrosas que tomam chá no imponente salão. Por instantes o matraquear de Jack Nicholson na máquina de escrever em Shining vem-me à cabeça, aqui mais sinistro ainda porque todas as paredes reverberam com os dedos do senhor que floreia o teclado em plim-plims xaroposos, agora galopantes pela caixa do elevador, e nem debaixo da almofada, já no aconchego do meu quarto, lhes consigo escapar. Sei que lá em baixo, num fraque que tirará para vestir uma fatiota e regressar ao triste, suponho, lar, o pianista matraqueia os nossos melhores compositores dando-lhes um toque pessoal que os mesmos, certamente educados, agradeceriam com um ‘Não, Obrigado’.
Tenho trabalho, reuniões, compromissos a cumprir. Já estou a descer no ascensor. Agora, mais relaxado, consigo ouvir que também aqui há violinos a tocar, vozes maviosas que, suponho, devam servir para tranquilizar os ocupantes caso a geringonça fique presa entre pisos. A mim, pelo contrário, aquela lenga-lenga dá-me um nervoso miudinho que me faz pensar que há um serial-killer dentro de cada um de nós. Era capaz de passar por cima de velhinhas e crianças deficientes, ou deixar-me cair no poço, só para fugir à melopeia que zurze da colunita tenebrosamente disfarçada no tecto. Esperam-me cá em baixo. Peço que desliguem o rádio do carro, por favor, embora insistam em me mostrar algumas das novas revelações musicais que deveria conhecer. Preciso de me ouvir, de pensar, de parar, e à hora do almoço já estou exausto de tanta informação canora. O restaurante é uma colmeia que não pára de tinir à nossa volta. Por mim estaria bem apenas isso: uma refeição e uma bela conversa são excelente oportunidade de recuperar o tempo, a alma até. Só que não vai ser bem assim. É um local onde fica evidente que há gente que precisa de ‘música’ para não falar. Gente sem espaço interior, para quem o silêncio é a pior das mágoas. E, tronitroantes, desfilam paellas, churros e gazpachos por entre zarzuelas alternativas e rock duvidoso. No fim pouco se disse e a reunião continuará estéril num escritório mais barulhento ainda.
Não é só a mim, Músico, que esta realidade de ruído de fundo afecta. Em supermercados, lojas de pronto-a-vestir, ginásios, cabeleireiros, hospitais, esta lógica estúpida de que as pessoas necessitam de ‘música’ 24 horas por dia para serem felizes, começa a ser fatal. Expostos que somos, involuntariamente, ao som, musical ou não, o nosso cérebro processa-o de forma permanente e constante como se fosse apenas ruído. O que, na realidade, é mesmo. Como o fumador passivo, também nós sofremos os danos da vontade alheia. E perdemos a oportunidade de escolher quando e que tipo de Música queremos escutar. Está na altura de criar espaços que sejam Locais Livres de Música, onde possamos ler, conversar, zerar o dia. Eu estaria lá a bebericar o meu café. Sobretudo se souber que não vai surgir de repente um altifalante roufenho que transforme a minha própria música em mais barulho ainda.
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