|
Cássio
Scapin é o narrador da peça que mistura
o sertãoe Avalon/ Foto: João
Caldas
|
“Lampião e Lancelote”: cangaço e
Idade Média ao som de Zeca Baleiro
Só
mesmo na ficção Lancelote poderia ter encontrado Lampião, Maria Bonita e seu
bando. No musical “Lampião e Lancelote“, adaptação da obra homônima de Fernando
Vilela, o fiel membro da corte do Rei Arthur vai parar no calorento sertão
graças a um feitiço de Morgana, rejeitada pelo cavaleiro. A batalha entre o
herói e o cangaceiro é em voz alta. Cordel contra novela de cavalaria, popular versus
erudito, o animado arrasta-pé desafiando os elegantes bailes da corte.
A
direção musical de Zeca Baleiro conduz o espectador pelas duas vertentes. As
canções que compôs especialmente para o espetáculo são executadas em parte ao
vivo por Bruno Menegatti (rabeca, viola e violão) e Ana Rodrigues (acordeon).
“Durante os primeiros ensaios, o Zeca ia tocando e compondo ao mesmo tempo”,
conta Debora Dubois, que assina a direção da montagem. “Depois, já com a agenda
cheia por conta do novo show, ele compunha sozinho, passava a música para a
Tarita [de Souza, que também assina a direção musical], em uma hora ela
colocava na partitura e entregava para os atores”.
O
cenário, a cargo de Duda Arruk, nasceu a partir da pesquisa de figurinos. O
metal dos trajes da cavalaria e as cores douradas do cangaço se repetem na
cenografia. “A ideia sempre foi dividir o palco – de um lado, ficaria Avalon, a
gótica Morgana e Lancelote; do outro, o sertão. No fim, o nordeste foi trazido
para a frente e Avalon ficou ao fundo, suspensa. Flutua como as brumas”, diz
Debora.
|
Virgulino
e Maria Bonita são vividos por Daniel Infantini e Luciana Carnieli/ Foto: João
Caldas
|
O
piso do palco, levemente inclinado, revela irregularidades propositais que
remetem ao solo sertanejo rachado pela seca. A cenografia fica completa com um
carrinho que desliza como uma câmera em travelling, referência a Gláuber Rocha
– que inspirou Vilela durante a escrita do livro –, e imagens projetadas
eletronicamente. Uma delas é a de uma vaca que vai definhando conforme o
desenrolar do espetáculo. “Houve um esforço de todos para levar ao palco a
estética do livro, e esse processo foi profundamente fascinante”, diz Fernando
Vilela.
LEONARDO
MIGGIORIN É LANCELOTE
No
ar em “Malhação”, Leonardo Miggiorin revela que o papel de Lancelote é o
primeiro a evidenciar que ele deixou de ser um garoto. “Explorei muito esse
tipo físico na última década, mas o Lancelote é um guerreiro. Existe uma grande
mudança”. Para Cássio Scapin, o narrador do espetáculo, é interessante
fazer parte de um muscial genuinamente brasileiro. “Existe um gap no mercado, e
foi isso que me atraiu para esse projeto”. ”Os musicais que vêm de fora
têm uma tecnologia absurda. Nós ainda estamos aprendendo e esbarramos em
problemas que vão além do financeiro”, afirma Debora. “Talvez a vantagem em tudo
isso é que eles ficam com a nossa cara”, rebate Cassio.
|
Leonardo
Miggiorin interpreta Lancelote e Vanessa Prieto é Morgana/ Foto: João Caldas
|
A
primeira exibição do espetáculo aconteceu na última quinta-feira (7), um ensaio
aberto ao público. Apesar dos problemas mencionados pela diretora, “Lancelote e
Lampião” não está aquém dos grandes musicais internacionais. Certamente, é mais
contido do ponto de vista tecnológico e tem um elenco mais enxuto, porém
conquista com a vibrante temática sertaneja, bem explorada no texto, cenografia
e música. Avalon, entretanto, fica apagada em meio a tanto forró, deliciosos
sotaques e um Lampião impagável, papel de Daniel Infantini, da excelente “The
Pillowman“.
Fonte:
Nenhum comentário
Postar um comentário