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UM DIA PERFEITO PARA CASAR [Raul J.M. Arruda Filho]

UM DIA PERFEITO PARA CASAR 

As melhores histórias de amor estão repletas de desencontros, escolhas infelizes e tristezas. Nenhuma novidade. O clube dos corações partidos possui sócios nos quatro cantos do planeta. Além disso, sem drama não há trama − dizem aqueles que exploram as dores alheias.

A literatura e o cinema são duas das formas artísticas que deitam e rolam nesse mar de paixões − onde nem sempre é possível pescar peixões (ou trocadilhos de melhor qualidade).

Baseado no romance Cheerful Wheather for the Wedding, escrito por Julia Strachey, o filme Um Dia Perfeito para Casar (Dir. Donald Rice, 2012) alcança esse propósito com razoável competência. Com vantagem considerável sobre filmes similares. Diálogos afiados, dezenas de chistes, quilos de ironia, o humor britânico aflorando a cada cena – cada piada com a mesma competência e intensidade com que carrascos medievais cortavam cabeças.

Em dezembro de 1932, Dolly Thatcham, depois de viagem à Albânia e rápido noivado, vai se casar com Owen Arthur Bigham. As duas famílias e os amigos do casal estão reunidos na mansão de campo, em Devon. Entre os convidados, a irmã (Kitty), a melhor amiga (Evelyn), uma das tias (Belle), o cônego Bob, os tios David e Nancy Dakin (e o filho, Jimmy, de oito anos), a mãe, (a viúva Hettie), os primos Robert e Tom, e os irmãos gêmeos do noivo. Todos, de uma forma ou de outra, contribuem para que o circo pegue fogo.

Estamos aqui há dez minutos e já quero estrangular um membro da sua família, diz Nancy para David, e, depois de uma pausa, finaliza o golpe, O de costume. É apenas a antecipação do aforismo que emitirá um pouco mais tarde, Se quer uma razão para não se casar, vá a um casamento de família.
Joseph Patten, que foi amigo e, digamos, namorado de Dolly, também comparece à festa. Se for verdade que Meu próprio objetivo ainda é ser um cavalheiro inglês de mãos limpas e mente suja, também é verdade que ele não sabe exatamente porque foi até lá. Não está em seus planos atrapalhar o casamento. Quer falar com a noiva, dizer alguma coisa que nem ele mesmo sabe o que é. Objetivo que não se concretiza. Como se estivessem em um jogo de esconde−esconde, eles sempre estão em lugares diferentes. A câmera só os mostra juntos na ação pretérita. São os flash−backs que preenchem os hiatos, que fornecem os elementos faltantes para o entendimento.

Joseph gosta de cutucar na colmeia de vespas e correr para se esconder. Então, é claro, as vespas saem e mordem pessoas inocentes, diz Dolly, de certa forma explicando a si mesma. Foi em um jogo de cricket que se conheceram. Depois foram seis meses de companhia mútua, a presença de um complementando a existência do outro. Houve o baile e todos aqueles pequenos incidentes no piquenique. Na tarde que ele foi se despedir, pois estava partindo para a Grécia, ela o levou suavemente até a estufa de plantas e... 

David e Nancy estabelecem parte das regras, antes que o mundo venha abaixo:

Apenas sorria para Hettie de meia em meia hora. É tudo o que peço.
Agora ficou preocupado com os sentimentos dela?
Eu gosto de Hettie.
Gostar. A palavra que usamos para aqueles que não conseguimos amar.

Depois do casamento, depois que a festa terminou e os noivos foram embora, depois que os primos e os convidados estão completamente bêbados e a tarde está findando, ainda há espaço para que a luz penetre na sala e preencha as últimas lacunas. O sofrimento silencioso desaparece, sobram acusações.

O tempo e a maré não esperam por ninguém, revela Joseph. Como sempre acontece, seja no cinema, seja na vida "real", todas as histórias de amor terminam mal.



Raul J.M. Arruda Filho, Doutor em Teoria da Literatura (UFSC, 2008), publicou três livros de poesia (“Um Abraço pra quem Fica”, “Cigarro Apagado no Fundo da Taça” e “Referências”). Leitor de tempo integral, escritor ocasional, segue a proposta por um dos personagens do John Steinbeck: “Devoro histórias como se fossem uvas”. 

Todos os direitos autorais reservados ao autor.

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