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Amores que duram toda a vida [Ivana Schäfer]

Amores que duram toda a vida

Procuro no fundo da minha alma e não consigo encontrar as respostas necessárias, porque talvez as respostas que procuro, ou que tanto procuramos, estejam dentro de nós mesmos.

Entender a vida é muito difícil! Tentamos a todo custo sermos felizes, procurando no outro a nossa felicidade, deixando as nossas prioridades sempre para depois e vivendo a vida do outro, daquele que dizemos amar. Como o amor sempre é doação, não existe outra maneira de amar a não ser essa. Mas, quando nos colocamos em segundo plano, percebemos que vamos perdendo o valor... Por que o outro sabe que estamos ali, e é muito cômodo. 

Como amar alguém que nos trata como opção?
Dizem que isso é paixão, que nos cega. E existe amor sem paixão?


Chamo de cinco minutos de bobeira, e bummmm, lá estamos nós apaixonados por quem não devia... Sempre procuramos a pessoa errada para amar, já perceberam isso, ou alguém que nunca poderá ser seu.

Desde pequenos nos ensinam, principalmente para as mulheres, que para ser feliz precisamos estar ao lado de alguém ou que um príncipe vem ao nosso encontro montado em um cavalo branco, o príncipe já está ficando velho e o cavalo branco ficou preto. Por isso dizem tanto que príncipes viram sapos, acho que isso tem muito com o não gostar de si mesmo, colocar todas as nossas expectativas na outra pessoa. Nunca podemos deixar isso acontecer, seria anular como pessoa.

Somos seres imperfeitos como defeitos e qualidades e alguns até com defeitos de fábrica.

Outro dia em uma ida ao meu médico, isso acontece a cada dois ou três meses, por causa de uma maldita enxaqueca, bem vi um casal na minha frente, um senhor, acho que estava entrando nos seus 80 anos, e ao seu lado numa cadeira de rodas uma senhora, ao lado deles estava uma mulher jovem e um homem não muito jovem, acho que ambos eram filhos desse casal.

Fiquei horas olhando esse casal, tentando entender o que tinha a mulher, que doença teve... Por mais que tentasse não conseguia desviar o olhar, ele sentado, na sua frente, ela na cadeira de rodas, ele passa mão nos cabelos grisalhos dela, no rosto, segurava sua mão... A mão dele já trêmula, mesmo assim continuava segurando a mão dela e fazendo carinhos. A cada gesto dele, me chamava atenção, eu tentava adivinhar o que estava acontecendo ali.

Ela mantinha a cabeça baixa e ele, sempre muito carinhoso, não parava de alisar suas pernas.

Mudaram de posição, agora estavam do meu lado, eu não desviava o olhar daquela cena, estava hipnotizada.
Tanto carinho, tanta cumplicidade.

Em um dado momento, ele arrumou os cabelos dela, passou à mão no joelho, depois na coxa, ela permanecia quieta até então, foi quando ele deslizou mais um pouco a mão, levou um tapa que estalou.

Não pude deixar de sorrir, mas queria mesmo era dar uma boa gargalhada.
Essa cena mexeu comigo, vi que mesmo com o passar dos anos nada mudou para eles, nem a vontade de um carinho mais apimentado (risos), um amor de verdade, não importa todas as dificuldades que passaram todo o sofrimento, por que nem tudo na vida são flores, souberam manter o respeito e exercitar a paciência e o mais importante souberam cultivar o amor, vi no brilho dos olhos de ambos, a cumplicidade o amor sem limites, amor doação, amor entrega, amor por amar.

Não o amor que nos contam, dos príncipes que viram sapos, não da pessoa errada, pois não existe pessoa errada ou certa, mas sim o amor que não anula o outro, o amor que deseja que o outro cresça ao seu lado, mesmo diante das dificuldades da vida, por que quando envelhecemos, e o que fica é a cumplicidade, as histórias, os momentos que são relembrados.

Então, não procure príncipes nem sapos, não existem pessoas erradas ou certas, o que existe são pessoas reais, o que existe é o compartilhar de uma existência mesmo diante das dificuldades do dia a dia, o amor vai amadurecendo na medida em que a vida nos impõe os desafios.

Isso sim é o amor de verdade, tive a felicidade de presenciar essa cena linda, que leva qualquer um a refletir o que queremos da vida, um amor fantasia ou um amor de verdade.


"AMAR SE APRENDE AMANDO"
 Carlos Drummond de Andrade


Ivana Schäfer - Pedagoga com Habilitação em Orientação Educacional, Especialização em Psicopedagogia e Cerimonialista. Sou Cuiabana de "tchapa e  cruz", amo minha terra, meu povo e a nossa cultura. Sou do Mato ....de Mato Grosso. Página na internet:
 http://espiacuyaba.blogspot.com.br/

2 comentários

Cliff Seward disse...

Muito bom texto: sensível, suave e ao mesmo tempo de uma comicidade leve e bem-vinda! Identifiquei-me com os "cinco minutos de bobeira": os meus fizeram com que brotasse uma paixão que resultou em 11 meses de felicidade (minha), depois em uma partida (dela) e o resto da vida (minha) de saudade e tristeza. Obrigado por escrever e permitir que te leiamos.

Yonne Barbosa Fechener Waksman disse...

Maravilhoso texto amiga!! Tive a felicidade de viver um amor assim como o descrito. Não tem receita para isso, o próprio amor nos dá a bula!
Abração.