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Não se quebra paradigmas sem deixar cacos [Dy Eiterer]

Não se quebra paradigmas sem deixar cacos

Frente a uma série de pedidos de PAZ nas manifestações que estão ocorrendo no Rio de Janeiro e São Paulo, resolvi falar um pouco do que penso, claro, baseado no que já vivi e no que percebo com relação à mídia, especialmente a televisiva, no Brasil.

Para você, leitor, que chegou até esse texto e que, provavelmente já leu algo nas mídias pedindo a paz nas manifestações, eu tenho apenas um pedido: Descreva manifestação com PAZ, por favor.

Sofremos a repressão do governo em todos os manifestos desde que eu me entendo como militante e falo com propriedade, uma vez que luto pelos diretos (meus e da sociedade) há 14 anos.

Conheço as realidades de Juiz de Fora e do Rio. Já fiz passeata, já parei o trânsito, fui a audiência pública, abracei museu, árvore e já fui da ala dita como radical, quando invadi reitoria, câmara de vereadores, conselho superior da universidade federal. Já sofri com cercos montados pela polícia, já apanhei da polícia. Já tive amigos que apanharam e foram parar na delegacia e, ao contrário do que pensa, NÃO somos VÂNDALOS. Somos apenas CIDADÃOS preocupados com a sociedade e com o estado que vamos deixar esse mundo para nossos filhos e netos.

Longe de mim prestar o papel de defensora os atos de alguns manifestantes que depredaram o patrimônio público, mas convenhamos: um ponto de ônibus quebrado não significa absolutamente NADA frente aos absurdos que nos são expropriados há séculos.

Não sejamos inocentes acreditando que só o voto é suficiente para mudar a realidade política do país. É claro que através dele vamos retratar nosso pensamento crítico e politizado, mas espere um momento: só alcançamos um nível crítico e politizado quando temos, minimamente, uma educação de qualidade, quando os governos aplicam as boas e já tão conhecidas e velhas ideias iluministas de Rousseau: o governo deve REPRESENTAR o POVO e a EDUCAÇÃO é a BASE de toda SOCIEDADE, servindo para despertar justamente esse senso crítico.

NÃO HÁ o menor interesse político em fazer da educação a base de nossa sociedade. E por quê? Ah, meu caro, uma sociedade crítica dá muito trabalho: ela entende quando não é representada e vai às ruas. Ela LUTA, ela faz barulho, incomoda aqueles que se acomodam com a mesmice, aqueles que seguem no comboio rumo a mais um dia de amanhã que será igual ao ontem e tão monótono e expropriador como é o hoje.

Que me desculpem os conservadores e reacinhas de plantão, mas palavrinhas bonitas não fazem mudanças no mundo. Não as do tamanho que precisamos.

Há séculos, observamos no curso da História que as grandes revoluções só acontecem com o povo nas ruas. Isso assusta. Causa medo, sim, mas temos sempre os corajosos que tomam o front, que se doam às causas da sociedade e é a eles que eu me ajunto. É com a voz deles que eu faço o meu coro.

Quero mais é ver as ruas tomadas. Quero é ver o que a mídia manipuladora e parcial chama de vandalismo, de caos, acontecer todos os dias até que esses políticos que não me representam, nem irão, jamais, representar vejam a força que nós temos. Quero mais é que esses movimentos se espalhem pelo Rio, São Paulo, Juiz de Fora, Porto Alegre e os quatro cantos do meu país e sirvam de exemplo. Que mostrem sem o menor pudor que vivemos em uma sociedade doente e acomodada.

Não se muda o mundo só com palavras. Não se faz revoluções sem que haja enfrentamento. Não se quebram paradigmas sem deixar cacos pelo chão. A paz é o prêmio de quem luta e merece, ao final, o descanso sagrado dos guerreiros que não temem os mandos e desmandos de um governo autoritário, infame e corrupto.

Que me venha a paz, que meu espírito se aquiete, mas que isso só venha após eu ter a certeza de que muito lutei. E que não sejamos ingênuos achando que os omeletes serão feitos sem que os ovos se quebrem.

Todo apoio ao movimento! Todo apoio aos manifestantes! Que a luta venha árdua, porque não calaremos nossa voz, não deixaremos nossos ideais. E porque há o meu direito de representação, o meu direito de expressão e o meu direito de mobilização eu os usarei até o fim.


Dy Eiterer. Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil. Edylane é Edylane desde 20 de novembro de 1984. Não ia ter esse nome, mas sua mãe, na última hora, escreveu desse jeito, com "y", e disse que assim seria. Foi feito. Essa mocinha que ama História, música e poesia hoje tem um príncipe só seu, seu filho Heitor. Ela canta o dia todo, gosta de dançar - dança do ventre - e escreve pra aliviar a alma. Ama a vida e não gosta de nada morno, porque a vida deve ser intensa. Site:Dy Vagando

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