Ronald Augusto é um escritor que atua em inúmeras áreas: é poeta, músico (integra a banda os poETs), letrista (parcerias com Marcelo Delacroix), ensaísta e possui ainda um trabalho significativo no âmbito da literatura. Como poeta alcançou expressividade no cenário nacional e até mesmo mundial, de tal forma que suas produções foram publicadas em revistas literárias, bem como em antologias, dentre elas destacamos: A razão da Chama, organizada por Oswaldo de Camargo (1986), a revista americana Callaloo: African Brasilian Literature: a special issue, EUA (1995 e 2007), a revista alemã Dichtungsring Zeitschrift für Literatur, e outras.
As principais temáticas presentes no repertório intelectual de Ronald Augusto referem-se à poesia contemporânea e à literatura negra no Brasil. Entre essas publicações um estudo referente à obra de Cruz e Sousa mereceu destaque e por este trabalho o escritor recebeu a Medalha de Mérito conferida pela Comissão Estadual para Celebração do Centenário de Morte de Cruz e Sousa. Além dessa premiação, o poeta recebeu ainda o Troféu Vasco Prado conferido pela 9ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo, em agosto de 2001 e o Prêmio Apesul Revelação Literária em 1979.
Atualmente Ronald Augusto realiza palestras e oficinas/cursos abordando assuntos como música, poesia contemporânea e visual. Em 2007 criou ao lado do poeta Ronaldo Machado a Editora Éblis, voltada para a poesia. É diretor associado do website. Colaborador do caderno Cultura do Diário Catarinense.
Entre suas principais publicações destacamos Homem ao rubro, de 1983, Puya, com a primeira edição em 1987; e ainda um dos seus mais recentes trabalhos, que recebeu o nome de Confissões Aplicadas, publicado em 2004. Publicou ainda os livros No assoalho Duro (2007), Cair de Costas (2012) e Decupagens Assim (2012).
concha bivalve que seja vale
uma pedra no fio da borda e
se desprende
tomba não achando
baque conteúdo
alvíssaras de morrimento
retroagindo no entrechoque
(buc!ólicas) de coxas esposas
montanhas para a ranhura
litográfica
(do livro Confissões Aplicadas, 2004)
Ronald Augusto - Radar TVE
wu t´i
duro assistir a movimentos que não os dela
imaginá-los nem pensar
uma flor que cai no ombro do vento
a larva de seda desentranha-se fio a fio
fria aretefinalização
drapeja o lume em gotas ascendentes
coração encarvoado
fluido no olho do espelho o error
nuvem borrando o tempo
noite de palavras secretadas
a lua rola ao seu degelo
parece distante o Moro do Engenho Velho
digo-me:
ainda não mandei notícia
outra fera alegórica
a vaca cor de barro
eu vinha de longe em longe
quando ela me viu
achei no seu olho de boi
um ameaço
havia uma bifurcação
por onde enfiar a esperança
e o temor
ao pé de mim a cada passo
suas bostas
antes deste empate
eu ouvia os sapos
cada coaxar era um buraco
esponjoso de onde um som
de água opaca
no assoalho duro
me aproximo de tombar em sono suave
em bairros os cachorros latem
digo: cantam de galo no terreiro
à tarde esperam sobre esporas altaneiros
os galos a que me referi acima
ciscam em consideração às galinhas
também não sobra muito para o caderno
hão passado verão outono inverno
e muito está aqui enfeixado
e tudo mais que passou por apagado
já esse posfácio não sai fácil
feito os outros de bem outro hábito
escrever sem prévio rascunho
assim levado a reboque do próprio punho
não me é um bem como antes fora
faço papel de tolo jogral fora de hora
querendo levar a cabo missão sem solda e soldo
água em cuja superfície áporos a rodo
enquanto mais ao fundo lodo-areia
no qual não há que pise sequer de meias
e rimas oficiando o que já é um rito
acabar cuaderno escrevendo esquisito
felizmente minha fabulação manca
estou com travas na fala trancas
não há indulto possível para poeta
que não se toca ou diz não à caixa-preta
que melhor memória manuseável externa
pode haver para se ler os destroços da cena?
o pânico da audiência minutos segundos antes
o vômito no saco da crítica no chão restante
barra o sono essa conversa errorosa
melhor num outro dia dar sítio à prosa
Fonte:
http://www.poesiacoisanenhuma.blogspot.com.br/
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/rio_grade_sul/ronald_augusto.html
Ronald Augusto
Todos os direitos autorais reservados ao autor.
Nenhum comentário
Postar um comentário