O amor não suporta
burocracias
Isabel
Allende conta a história de uma mulher que deixou o marido, os filhos, a
família por um encanador, e claro, ninguém entendeu tal deserção. Dois anos
mais tarde Allende a encontra, completamente diferente, magra, sem maquiagem,
mas feliz, e então, ela lhe diz o motivo
de tudo, ele é muito engraçado, tem amigos ótimos, dança, canta e fazemos
loucuras na intimidade, pronto, estava explicado.
Ela
queria uma vida, não importava que se com um empresário com um encanador, ela
queria saber que ainda poderia viver, que poderia ser feliz, se mostrar,
mostrar a si mesma que ainda podia sonhar, viver ilusões, rir de tudo, provocar
arrepios, corar de vergonha só pra depois dizer, ah, besteira, acontece, vamos
lá, isso é viver, é sentir e sentir-se.
O
amor não suporta burocracias, o amor não suporta datas e calendários, rotinas e
prazos, o amor não gosta da mesmice, da indiferença, de uma hora após a outra,
o amor quer espanto, deseja barulho, gosta de histórias e lembranças, saudades
e gargalhadas, ele precisa de espaço, espaço na vida do outro, espaço pra si
mesmo, espaço para ir crescendo e se fincando.
Já
vi muita mulher reclamar do marido, e até mesmo abandonar o casamento por conta
a inércia do parceiro. Não quer sair, mudar de roupa, viajar, mudar o visual,
não quer mais viver, acha que pronto, já era, não precisa mais de nada,
cervejinha, futebol, descanso no domingo, ótimo, estou feliz, sexo esporádico,
e só, estou bem, não se preocupa a parceira, companheira, mulher.
Tenha
15 ou 80 anos toda mulher quer se sentir viva, quer ser mulher acima de tudo,
quer viver emoções, sentir sensações, ter prazer pela vida, quer ser bonita,
quer ir, sair, conversar, passear, sair da rotina, fugir do comum, não precisa
de muito, mas precisa de alguma coisa, precisa que algo aconteça, precisa ela
saber que ainda pode se sentir viva e o companheiro pode proporcionar isso,
deve, precisa, pode, é uma obrigação.
Não
é difícil amar uma mulher, flores pela casa, canção no rádio, convite pra
dançar, lembrança do aniversário, improvisar de vez em quando, seduzir,
romancear a relação, coisas juntas, viagens, o mundo por conhecer, reunir os
amigos, fazer um jantar, ir a um show, comprar uma roupa, olhar as estrelas,
sentar na calçada, coisas e opções que podemos ter, viver, fazer, seguir, um
roteiro.
O
amor quer um caminho, o caminho da felicidade, precisa de truques, de gás, de
combustível para se sentir, precisa de luz, de panos, de incentivo, de paixão,
de sentimento, de afeto, não é difícil, nem complicado, é apenas não deixar a
sua companheira sozinha nela mesma, seja como o termo diz, uma companhia,
esteja perto, vivam momentos, aproveitem o momento, se permitam, se deixem
viver.
Sonhem,
viajem, curtam-se, embriaguem-se, amem-se, enlouqueçam-se, não se deixem
paralisar pela burocracia, pela inércia, não é preciso ser jovem, mas se pode
envelhecer juntos, acompanhados, sentindo-se vivos e vivendo.
Ronaldo Magella
Ronaldo Magella é professor, poeta, escritor, blogueiro, radialista, jornalista,
cronista, tem 33 anos, é do signo de peixes, não gosta de futebol, prefere
livros, é formado em Letras e Jornalismo pela UEPB, tem especialização em
linguística, e agora é acadêmico de Pedagogia pela UFPB, adora MPB, Rock, café,
romance, paixão e café, não nessa ordem, trabalha hoje com internet, rádio,
assessoria de imprensa, leciona, sonha e vive, mas sonha do que vive, afinal,
enfim.
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