Palavras e composições [Patrícia Dantas]
Desses redemoinhos que assustam ao olhar mais desatento, falta-lhes a composição exata, a que passeia pelos ouvidos e delineia o caminho transgressor dos sublimes ideais que fizeram a vida de grandes homens, mas que também os amotinaram trancafiados, imersos em seus textos revolucionários.
Mas digo e reafirmo obstinadamente que minha absurda incompreensão perante o mundo me levou ao reino dos textos inventados e frases sem nexo. O mundo de que falo é o fantasmagórico anônimo sem palavras, da coisa não dita, ou dita, por si só vazia de explicações, que não sabe mais inventar o que os grandes sábios consideravam o inventável improvisado: esse tal de universo complexo, formado da última lâmina cortante das composições.
As palavras sustentam-me, ao passo de se transformarem no abrigo para as tamanhas faces recortadas que existem em mim. Não só de cortes e cruzamentos é feita essa divina máscara escondida, mas do submundo inesgotável, criado a partir do inequívoco reboliço de todos os dias.
Por ora, o leve toque do vento que atiça o folhear vaidoso das árvores, o simples olhar palpável do animal melancólico e outras coisas que eu não saberia descrevê-las com tamanha intensidade, constroem o recanto sublime de palavras entorpecidas, vulgares, diletantes. Mas não só! Rogo pelo barulho sustenido das rimas, dos versos, da poesia boêmia das utópicas madrugadas dos poetas embriagados.
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