Resenha: “O
fio das missangas” – Mia Couto
Escrito
por: Carlos Monteiro
Sinopse do
Livro
FIO DAS
MISSANGAS, O …|… Formato: Livro …|… Autor: COUTO, Mia
Idioma:
Português …|… Editora: Companhia das Letras
“O fio das
missangas” adentra o universo feminino, dando voz e tessitura à almas
condenadas à não-existência e ao esquecimento. Como objetos descartados, uma
vez esgotado seu valor de uso, as mulheres são aqui equiparadas ora a uma saia
velha, ora a um cesto de comida, ora, justamente, a um fio de missangas.
Resenha do
livro
Outro dia
estava pesquisando e fuçando no YouTube, onde encontrei um vídeo, o orador era
o escritor Mia Couto. Amei sua forma lírica de se apossar das palavras e seu
fraseado encandeou minha atenção. Logicamente, o pesquisei. Vi que este homem
já está há um bom tempo na estrada da escrita. Inclusive, recentemente, ganhou
o prêmio Camões de literatura. A escolha dele foi feita na cidade do Rio de
Janeiro, no dia 27/05 deste ano. Mia Couto, desde então, tornou-se o segundo
moçambicano a ganhar o prêmio.
Na minha
busca, me deparei com “O fio das missangas”, publicado em 2003, uma obra que
reúne vinte e nove contos que harmonizam-se entre si. A carga emocional e
poética é tão forte que o escritor consegue filtrar e extrair a alma das
palavras.
Os temas
são variados e únicos, envolvendo o leitor de uma forma assídua até o seu fim,
ou ao não fim… Mia Couto aborda violência, separação, morte, loucura, vingança,
incesto, suicídio… Coisas que expressam o ser humano.
Outro dado
interessante é o universo tratado no livro, o das mulheres. A condição feminina
vista de um ângulo diferente… Sim. Aqui ele maneja sua narrativa, deixando
claro que a mulher é submissa, anulada e abandonada. Infelizmente, muito dos
seus contos deixam visível o descaso e o silêncio que a sociedade machista
impõe à mulher.
Em outros
momentos, podemos ver e aplaudir o jeito renovável de se escrever, expondo uma
plausível dulcificação na sua voz. Para comprovar um pouco o estilo do escritor,
veja o excerto que eu trouxe:
“Só a lágrima me desnudava, só ela me
enfeitava. História de uma moça miúda e sem nome, criada pelo pai e tio. Não
queriam que ela cassasse, por fim, mostra como o tempo a esqueceu e ela brigando
com o destino e sua saia”.
A poesia
gritada pelos personagens deixa significados implícitos de uma variável
contemplativa ao leitor. A sensibilidade em cada parágrafo faz a pessoa que lê
dar voz aos seus sentimentos íntimos: — “minha alma está condenada, mas ao
presenciar algumas mulheres desta obra, descarto meu valor de homem”.
A maioria
dos contos de “O fio das missangas” abraça a criatividade e os neologismos de
Mia Couto, revelando uma paixão pelo escritor brasileiro João Guimarães Rosa.
Gostei de
me ludibriar com esta obra. Um local onde eu me senti tão bem, lendo e relendo
em cinco dias alguns contos. A linguagem musselina contida no livro ressalta
uma das grandes obras literárias que eu já conheci.
Carlos M. Monteiro-Um
dia poetizei minha insanidade sentimental. Estranhei o fato de me olhar
no espelho e, encontrar um silêncio. Eu tive uma formação na alma,
totalmente regada aos princípios da sobrevivência.
Mas esta estadia
seria apenas um presságio do que estava por vir... O imaginário do meu
coração ganhava tanta força, que não tive mais controle. Fui vencido e
da derrota, regozijei das entranhas do meu pensamento, entrei em contato
com o belo e o inútil. Eu gritava de uma forma diferente, tudo que
nascia de mim, era abominavelmente esplêndido. Finalmente, eu reconheci
as palavras. Hoje, admito! Escrevo para não morrer.
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