Entrevista com a modelo
erótica Jully DeLarge
Eu amo os desajustados
sociais. Pessoas que não têm medo andar por caminhos poucos explorados ou
rejeitados pela maioria, e parecem enxergar o mundo de uma maneira diferente,
sem o véu de dogmas e preconceitos. Pessoas livres e donas de si. Sempre que
encontro alguém assim, gosto de conversar, conhecer, aprender. Fazer das
experiências delas, algo de bom para mim, também. Esta semana eu tive a
oportunidade de conversar com a modelo erótica Jully DeLarge (Julieta DeLarge),
que se encaixa bem nesse modelo de pessoa independente. Seu corpo é sua arte,
sua expressão de mundo, sua liberdade e seu modo de desafiar conceitos e
preconceitos. Num mundo machista, não há nada mais livre do que uma mulher que
exerce sua sexualidade conforme seus próprios desejos.
Jully DeLarge é bissexual,
tem 22 anos, natural de Osasco/SP, mantém um tumblr com ensaios fotográficos
eróticos pessoais e é modelo da xPlastic, um site de Alt Porn (pornografia
alternativa). Abaixo, algumas perguntas
que ela gentilmente respondeu para nós.
Quem é Jully DeLarge?
Um ser humano que
perambula por esta esfera submersa em caos fazendo o que tem vontade, quando
tem vontade. Vive num isolamento psicológico autoimposto. Tende a não se
prender a ideais e razões existenciais impostas por esta sociedade enraizada em
ignorância. Enxerga a vida além deste reflexo egoísta e maldoso que as pessoas
tentam perpetuar pelo mundo. Muitos me conhecem, mas poucos me conhecem de
verdade.
O que ou quem a inspira?
Minha mãe é uma pessoa que
me inspira muito. Sempre de bem com a vida, nada a abala, sempre com um sorriso
no rosto e uma piada na ponta da língua com seu humor sagaz.
Você é conhecida por seus
trabalhos fotográficos de nu artístico. Como e quando você adquiriu gosto por
essa arte, e por que decidiu fazer disso sua profissão? Como foi a transição
entre o nu por hobbie e nu por profissão?
Comecei a brincar de
modelo fotográfico com 15 anos, com essa idade já fazia umas fotos sensuais
apenas por hobbie. Com 19 pra 20 anos comecei a ganhar dinheiro, percebi que
levava muito jeito e que me divertia muito durante o processo. Apenas juntei o
útil ao agradável.
Erotismo é rentável
financeiramente?
É rentável, mas é um
mercado que vive oscilando, pró-atividade é essencial.
Muitas pessoas criticam a
pornografia e o erotismo por, supostamente, reafirmarem o machismo e o
estereotipo de beleza e tratar as mulheres como objeto. Qual sua opinião sobre
isso?
Como disse anteriormente,
eu me divirto muito fazendo o que eu faço e infelizmente ainda vivemos numa
sociedade desenvolvida tecnologicamente, mas muito primitiva ideologicamente. A
mulher ainda é tratada como propriedade do homem, como um ser inferior e
imaginar que uma mulher TEM sua liberdade sexual e se diverte com isso causa
muitos conflitos na mente da grande massa. É uma pena, ainda temos muito a
evoluir, mas enquanto essa grande massa se ocupa esquentando a cabeça e
tentando moldar a vida alheia conforme seus conceitos eu continuo vivendo a
minha vida conforme a MINHA vontade. Na questão de reafirmar um estereótipo de
beleza, felizmente trabalho com um mercado de Alt Porn onde não existem padrões
de beleza pré-estabelecidos e você ser você é mais que aceito, é super bem
vindo.
Você se considera
feminista?
Sim. Está mais do que na
hora de termos uma vivência humana. Oprimir, oprimir e oprimir... essa galera
insiste em ignorar que os tempos precisam mudar de vez para uma melhor
vivência. É cansativo às vezes ver que tantos preferem regredir a progredir,
mas ao mesmo tempo fico feliz em ver e participar da mudança de muitos.
Você gosta de ler? Quais
são seus autores e livros preferidos?
Muito. Gosto muito de
poesia da geração do mal do século, os malditos que cativaram e ainda cativam
muita gente. Goethe, Poe, Baudelaire, Byron, Augusto dos Anjos, Álvares de
Azevedo, William Blake dentre tantos outros queridos malditos que me acompanham
sempre. Mas busco ler de tudo um pouco, ficção, drama, comédia, o que me
interessar.
Na sua entrevista no
xplastic você diz que gosta de expressar sua visão de mundo por textos e
poemas. Pode compartilhar algum escrito seu, conosco?
Último texto que escrevi.
Pensei em postar algo mais profundo e pessoal, mas por fim achei melhor não.
(risos)
“Existe uma coisa que eu
não desejo nem para o meu pior inimigo, mesmo não conhecendo esse inimigo,
ainda: nascer nos dias atuais. Não digo isso devido a toda humanidade estar
fadada a desinteligência e a ignorância eterna, ou todos os seres que se dizem
humanos terem abandonado sua humanidade na privada (mesmo isso sendo fatores
importantes) me refiro especificamente a um mal epidêmico chamado "pais
internéticos". Não, não quis dizer PAÍS, mas sim PAIS, mãe, pai, isso
mesmo. Pais internéticos, ou sendo ainda mais direta, “facebookéticos”, se tornaram
uma epidemia global completamente fora de controle e quem sofrerá com isso no
futuro será você meu caro baby de apenas 1 ano de idade, 2, 3, 4... E até mesmo
você que ainda nem faz ideia da existência dessa esfera submersa em bosta.
Os pais facebookéticos
amam expor toda a sua vergonha, digo, infância, mesmo sem seu prévio
consentimento para todos os outros pais facebookéticos comentarem e espalharem
ainda mais sua vergonhosa infância para outros pais facebookéticos piores que
eles.
Não estou repudiando suas
ações meus caros pais da atualidade, pois tenho total consciência que também
causarei muita vergonha ao meu futuro filho em seu belo e vergonhoso futuro.
Mas digo uma coisa para todos vocês queridos babies, futuros babies e até mesmo
meu futuro baby: quando chegarem na puberdade e sua mãe quiser tirar uma foto
de sua espinha vulcânica expelindo rios de pus para mostrar as amigas o quanto
você cresceu e está mocinhx, ou quando seu pai quiser tirar uma foto do seu
primeiro pentelho na cara para mostrar aos amigos que o filho dele está virando
um rapazinho, dê sinal para o disco voador mais próximo e peça para descer na
galáxia mais longínqua possível. Dica da tia Jully e de sua futura mãe meu caro
filho. Boa sorte a todos!”
Pretende escrever um livro
sobre suas experiências de vida, algum dia?
Sim, com toda certeza
algum dia escreverei sobre a minha vida, estou apenas acumulando mais histórias
para contar. Embora já tenha muuuito o que contar é bom ter ainda mais para
compartilhar.
Se tiver algo a mais para
dizer, sinta-se em casa!
Adorei a entrevista,
agradeço muito pelo convite. Grande beijo, passar bem!
Tiago Morini, mas algumas pessoas me chamam de Morini e outras mais próximas (por preguiça talvez) de apenas Ti. Tenho 27 anos, moro em Joinville/SC, sou um leitor compulsivo e aspirante a escritor. Eu gosto de passear em livrarias e sebos mesmo que só para olhar, sentar no chão e folhear livros. Então, se um dia você estiver passeando numa livraria, e encontrar um sujeito barbudo e estranho sentado no chão com algum livro em mãos, talvez seja eu. Além de livros eu gosto de música, teatro, parques, animais, tomates, e um monte de outras coisas. Enfim, este sou eu...
Blog:Um Livro Qualquer
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