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Caricatura de Paulo Coelho por Fabio Abreu
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Paulo
Coelho critica seleção de autores do país e cancela participação na Feira de
Frankfurt
RAQUEL
COZER
A menos de uma semana do início da Feira do Livro de
Frankfurt, o comitê responsável pela organização da participação do Brasil como
país homenageado deste ano ainda enfrenta surpresas.
Anunciado em março entre os 70 escritores selecionados
pelo MinC (Ministério da Cultura) para representar o país no maior evento
editorial do mundo, Paulo Coelho, o autor brasileiro mais vendido no exterior,
desistiu de integrar a programação oficial.
Em entrevista a ser publicada num dos principais
jornais alemães, o "Die Welt", ele diz que "duvida" que
todos os 70 convidados sejam escritores, que conhece só 20 dos nomes e que
"presumivelmente são amigos de amigos de amigos. Nepotismo".
Sobre a razão de sua desistência, disse não aprovar
"a maneira como o Brasil representa sua literatura".
"Falei com vários de meus colegas que não foram
convidados, como Eduardo Spohr, Carolina Munhoz, Thalita Rebouças, André
Vianco, Felipe Neto ou Rafael Draccon [...]. Tentei ao máximo conseguir que
fossem. Sem sucesso. Então, em protesto, decidi não ir a Frankfurt. O que foi
uma decisão difícil [...] porque sempre quis ser convidado por um evento desses
pelo meu governo."
Os autores citados se dedicam a uma literatura
comercial, com bons resultados de vendas, e têm representantes traduzidos para
outros países, como Spohr e Draccon.
O curador Manuel da Costa Pinto, um dos responsáveis
pela programação literária do país na feira, disse não ter sido informado da
desistência de Coelho. "Se estiver confirmado, acho lamentável, porque é o
autor mais vendido do Brasil e seria uma presença obrigatória num evento
comercial como esse."
A ausência de escritores comerciais na lista já havia
sido levantada por Raphael Draccon por ocasião do anúncio dos nomes pelo MinC,
em março. "Editoras concorrentes fazendo propostas, filas de horas de
autógrafos em feiras literárias, e-mails lotados com relatos de leitores",
escreveu, sobre esses escritores, entre os quais se inclui.
Para ele, a ausência de "tantos nomes que vêm à
mente do leitor brasileiro por fazer parte de um grupo que não vive do consumo
de si próprio nem da dependência de vendas institucionais, mas realmente forma
novos leitores, passa uma mensagem da maneira como o governo brasileiro
pretende que sua própria literatura deva ser vista pelo resto do mundo."
QUALIDADE ESTÉTICA
Costa Pinto diz que, entre os critérios da curadoria,
estava selecionar autores agraciados com os principais prêmios de literatura do
país e com "qualidade estética".
"Autores que também são fenômenos de venda constam
da lista, como Ziraldo, Mauricio de Sousa e outros infantojuvenis, além do
próprio Paulo Coelho", diz Antonio Martinelli, coordenador da programação
brasileira em Frankfurt.
"Em sua maioria, são autores que estão despertando
amplo interesse em editores internacionais, [...] que vêm se abrindo para as
mais diferentes vertentes da nossa literatura contemporânea, para além da
literatura mais palátavel ao gosto comum."
Questionado sobre a ausência do nome do autor na
programação oficial do Brasil na feira, o MinC disse apenas que "a
programação final está em fechamento"
Em 1994, quando o Brasil foi homenageado pela primeira
vez na Feira de Frankfurt, Paulo Coelho ficou de fora da lista de 20 nomes
levados pelo Ministério da Cultura, que incluía Chico Buarque, Darcy Ribeiro,
Ferreira Gullar, João Ubaldo Ribeiro e Rubem Fonseca. Acabou indo por conta
própria.
Na ocasião, como escreveu Marilene Felinto Na Folha em
11 de outubro de 1994, Chico e o mago foram "as duas maiores estrelas
brasileiras da feira", consideradas por ela "extraliterárias".
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