TRILOGIA A MOCINHA DO
MERCADO CENTRAL
Stella
Maris Rezende é a responsável pela trilogia “A Menina do Mercado Central”,
composta pelos livros “A Menina do
Mercado Central”, “A sobrinha do poeta” e “As gêmeas da família”. Com
histórias intensas, criativas, inteligentes e bem construídas, a escritora nos
leva a um passeio por pequenas cidades de Minas Gerais e nos permite conhecer
personagens incríveis, diferentes e encantadores.
Mesmo
sendo uma trilogia as histórias são independentes e podem ser lidas de forma
individual ou fora de ordem. No entanto, acredito que quem ler qualquer deles
fará questão de ler os demais, afinal, não tem como não se apaixonar com a
narrativa gostosa e quase poética de Stella, que usa uma linguagem rica e
repleta de características típicas do povo mineiro.

No livro “A
Mocinha do Mercado Central” conhecemos Maria, uma menina de Dores do
Indaiá, que fruto de um estupro sempre foi amada pela mãe, que mesmo com os
traumas a via como uma bênção. Maria era completamente fascinada pelos
significados dos nomes e por viagens, então decidiu enfrentar uma aventura ao
redor do país e em cada cidade que viajava escolhia um nome, para cada nome
formava uma nova personalidade.
Um grande destaque do livro é a paixão de Maria por
Selton Mello, que aparece como personagem no meio da história e dá um ar
especial a tudo. É preciso mencionar que a aparição de Selton foi tão
importante e diferenciada que o ator foi convidado para fazer a apresentação do
livro, o que fez com muito prazer – escreveu lindas palavras para uma escritora
que, como ele disse, sequer conheceu, mas que mudou a sua forma de ver a vida.
Entre todas as viagens de Maria, a mais importante foi
a que ela fez para São João Del Rey. Lá um acontecimento marcante mudou os
rumos da sua trajetória, o que comprovou que a vida se revela nas suas
surpresas e nos seus mistérios.
A história, que é uma lição de vida, de coragem e
de amor mostra que podemos ser tudo o que quisermos e que as atitudes das
pessoas não podem mudar a nossa forma de ver o mundo. Este livro foi vencedor
do prêmio Jabuti nas categorias “Melhor Livro Juvenil” e “Livro do Ano de
Ficção”.
"Um dia ela contaria a ele sobre
as viagens que fez, ao decidir por esse ou aquele nome? Contaria cada
experiência, cada sonho, cada possibilidade?
Não sei, ela disse.
Não sei, assim recomeçava o filme da
vida deles".

No segundo volume da trilogia, “A sobrinha do Poeta”, conhecemos os moradores de Dores do Indaiá
que foram surpreendidos por escritos misteriosos nos livros localizados na "sexta prateleira de baixo para cima
da sexta estante diante da janela de vidro". Esta situação causou grande
agitação nas pessoas da cidade, que começaram a criar teorias e hipóteses para
o fato, umas plausíveis, outras sem lógica, mas a verdade é que todos falavam
sobre o assunto, alguns até sonhavam.
A narrativa do livro é
leve e agradável e Stella nos conduz a uma história misteriosa, cujo segredo é
preservado até as últimas páginas, o que torna tudo mais envolvente e atraente.
É importante mencionar que na medida em que a história se desenrola a escritora
nos apresenta ao íntimo dos personagens, o que nos permite perceber as nuances
da alma humana. Outro fator interessante é o que livro mostra a importância da
leitura na vida das pessoas e faz várias menções ao trabalho do poeta Emílio Moura.
Um destaque
interessante é que o
livro ganhou o prêmio "Bolsa para autores com obra em fase de
construção", da Fundação Biblioteca Nacional.
"Leodegária pensou em dizer: não acho bom
uma pessoa escrever com canetinha iriscor num livros da biblioteca da escola de
Dores, mas o mais grave é que há poucos leitores em Dores. Daí, a gente saber
que temos um leitor que também gosta de escrever dá um alívio sabe? O erro
passa a não ser tão grave assim. Precisamos olhar tudo isso com outros olhos. O
mais importante é o incondicional direito de ler e escrever".

Por fim, no último livro, “As gêmeas da família”, conhecemos três irmãs que viviam no
período da Ditatura Militar e além do sofrimento com as pressões do período
eram vítimas de uma maldição da família e de uma estranha promessa da mãe.
As garotas, que no início não eram muito amigas,
dividiam uma enorme paixão por uma cantora italiana chamada Rita Pavone e esta
paixão mudou a vida delas. Isto porque, quando souberam que a cantora faria uma
apresentação no Rio de Janeiro começaram a organizar uma viagem à cidade
maravilhosa. Esse projeto aproximou as três, que se tornaram grandes amigas e
fez com que elas tivessem a oportunidade de se aproximar da mãe. Porém, a
viagem não trouxe só surpresas felizes. Lá as meninas conheceram a dor, a perda
e descobriram a importância de ter amigos e família.
Vários pontos chamaram a minha atenção neste último livro, que sem
dúvida se tornou o meu preferido entre os três:
- Os nomes das três irmãs: Maria da Caridade (Rosade), Maria da Fé (Azulfé) e
Maria Esperança (Verdança);
"Rosade: - Em nome do meu nome,
faço a caridade de suportar vocês, mas assim que eu puder, desapareço no mundo,
igual o meu pai fez."
"Azulfé: - Em nome do meu nome
tenho fé de que ainda terei uma vida inteira de felicidade sem nenhuma maritaca
gêmea perto de mim, ara se vou."
"Verdança: - Em nome do meu nome mantenho a esperança de que não
preciso me livrar de vocês. Para mim, já é como se não existissem, eu sou filha
única."
- A narrativa em terceira pessoa foi estruturada sob o ponto de vista
dos objetos que estavam ao redor das personagens e que observavam algo sobre
elas. Assim, conhecemos as garotas pela ótica do retrato, da máquina, da
maçaneta da porta, do calor da tarde etc.
"Mesmo consciente da má vontade que as filhas tinham em relação à
mãe, a maçaneta gostava das trigêmeas. Gostava dos mistérios que as cercavam ou
viviam dentro delas. Era uma maçaneta sempre atenta, solícita,
prestativa. E aprendera muito sobre as pessoas, desde que fora instalada
naquela casa".
- Trata-se de uma história de amadurecimento. Stella mostrou que a vida
não tem regras pré-estabelecidas, mas que em suas surpresas, curvas, desgostos
e dores que nos tornamos pessoas melhores e mais fortes. A leitura ensina a
importância de ter amigos e de estar aberto às mudanças.
"- Vivemos bem embora às vezes a
gente se estranhe. As pessoas às vezes se estranham. As coisas às vezes se
estranham. O estranhumano está em toda parte".
Leiam os livros, presenteiem as crianças e conheçam
o universo maravilhoso dessa escritora incrível e “estranhumana”. São histórias
especiais, que foram escritas com um carinho enorme e que sem dúvida formarão
novos leitores!

Stella
Maris Rezende Mestra em Literatura Brasileira pela Universidade de
Brasília, professora, cantora, atriz, artista plástica, dramaturga, mas o
que eu mais sou mesmo é escritora, uma contadeira de histórias fascinada pelas
palavras e pelas entrelinhas.
Sou uma
artista que lida com a magia da linguagem, as imagens, a imaginação, as
metáforas, as ambiguidades, a mentira, a verdade, os mistérios, as delicadas e
as terríveis perguntas da condição humana.
Clique aqui, para saber mais um pouco desta talentosa escritora.
Isabela Lapa e Kellen Pavão – Administradoras do blog Universo dos Leitores,
que fala de livros e de tudo que estiver relacionado a estes pequenos
pedaços de papel que nos transferem do mundo real para o universo dos
sonhos, das palavras e da felicidade!
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