4 Formas de Saber Se Meu Projeto Literário é Um Lixo
Ah, aquele sublime momento em que você precisa
despir-se de qualquer autopiedade e destruir projetos literários que jamais
deveriam ter existido.
Todos os bons escritores já foram escritores ruins (e
até péssimos escritores). Com a prática, talento e aplicação de alguns
princípios desenvolveram-se em exímios autores capazes de deixar você e eu
cheios de inveja. Abençoado o momento em que cruzamos o portal, e deixamos de
ser autores risíveis para sermos escritores respeitáveis.
O grande desafio é saber se já cruzamos esta linha
divisória. Na dúvida se ainda é um escritor patético ou um já transmutado autor
genial, a pessoa acumula projetos literários sem saber se devem ser reavaliados
ou descartados.
Assim, pergunte-se: como saber se o manuscrito que
guardo na última gaveta da escrivaninha deve ser aproveitado ou simplesmente
jogado no lixo?
Vamos analisar 4 sinais que indicam se nossos projetos
literários ainda merecem uma chance de existir ou se já passou da hora de
virarem cinzas.
Você Sente Náuseas ao Ler o Que Escreveu
Ok, pode não chegar a tanto, mas sabe aquela pontada de
embaraço que às vezes sentimos quando lemos um texto antigo? Entenda: não estou
falando da frustração diante de uma obra que você sabe que pode ser melhor.
Esta autocrítica é importante para melhorar uma obra e criar livros mais
interessantes. Estou me referindo à vergonha por ter sido capaz de escrever
aquilo que está próximo de uma abominação. Se acredita que seu trabalho é realmente
horrível, estando além de salvação, independentemente dos reparos que possam
ser realizados, talvez você devesse confiar no seu instinto. Não estou dizendo
que esta avaliação sempre será confiável, mas no mínimo, deve ser usada como
critério inicial para determinar se o projeto literário deve ou não ir para a
privada.
O Projeto Piora Após Uma Pausa
Há projetos que exigem demais de nós, devido sua
complexidade e intensidade. Nestes casos, é importante “dar um tempo” para que
possamos respirar e recobrar novo fôlego. De modo geral, quando retomamos o
trabalho após esta pausa, costumamos ser menos críticos. Aquilo que era “ruim”
passa a ser “suportável”. O que era “suportável” pode até mesmo se tornar “bem
legalzinho”. Isto também acontece com muitos relacionamentos humanos – a
distância faz percebermos certos valores que nossa visão torpe não notava.
No entanto, se após uma pausa (dias, semanas, meses)
você reler sua obra e ela parecer ainda pior… você tem picador de papel por aí?
O botão “Delete Para Sempre e Nunca Mais Me Importune” também serve.
Os Elogios Que Recebe São Suspeitos
Os leitores tem um verdadeiro dicionário de opções para
definir um livro ou um texto. E em meio a este manancial de palavras, podem
escolher aquelas que dizem que nossa obra literária é terrível, sem ao menos
usar palavras ofensivas. Cabe ao escritor perceber o que estes “elogios” querem
realmente dizer.
Um dos termos mais corriqueiros para definir um texto
pobre é a palavra “interessante”. Você posta um artigo em seu blog literário, e
recebe alguns comentários. E entre eles, diversos “interessante”. Bééééé…
(sinal de alerta indicando perigo na fábrica).
É evidente que receber ocasionalmente um ou outro
“interessante” faz parte do ofício. Shakespeare também já foi elogiado assim.
No entanto, quando diversos leitores utilizam estas palavras para definir um
texto seu, muitas vezes descrevendo-a com apenas uma palavra, seu alarme deve
começar a soar.
O escritor medíocre não consegue perceber as
entrelinhas e pode fatalmente suspirar de encanto diante de um elogio que não
passa de uma crítica disfarçada.
O Protagonista é Intragável
Sua personagem principal é sua maior aliada em escrever
um bom livro. No entanto, se ela deixa a desejar, tenha a certeza de que ela
irá sabotá-lo. Mais cedo ou mais tarde, você perceberá que todo este tempo
estava criando uma cobra que não perderia qualquer oportunidade em trai-lo.
Ainda que seu projeto possua outros elementos atraentes, como uma boa
narrativa, se o protagonista for intragável não há qualquer possibilidade do
livro se tornar uma boa obra.
Há alternativas viáveis para corrigir este problema.
Fazer mudanças abruptas na personalidade da personagem é uma delas. Eliminá-la
por completo e dar vida a outro protagonista, é uma outra possibilidade. Agora,
se sinceramente acredita que estas duas opções são inviáveis, então, é hora de
desistir do trabalho e começar outro projeto do zero.
Juliano Martinz- O
osso acima dos meus olhos chama-se frontal. A camada enrugada e cansada
que o reveste, pele. O objeto de sua proteção chama-se cérebro. Este,
resguardado, produz aquilo que me cansa e extenua, dia após dia: minhas
ideias.
Nenhum comentário
Postar um comentário