Guellwaar Adún, Marcus Gonçalves da Silva, seu nome de
batismo, foi criado na Baixada Fluminense. Integrante de uma família negra
baiana, nasceu no Rio de Janeiro, cidade nem sempre maravilhosa com os chamados
retirantes.
“Retorna” à Bahia, terra de seus ancestrais, em 1988.
Em Salvador, torna-se Educador do Projeto Axé, legitimado através de
capacitações presenciais realizadas pelo mestre Paulo Freire. Lecionou
Literatura Negra no Instituto Cultural Steve Biko, a convite do Dr. Silvio
Humberto, além de coordenar as atividades do Instituto Oyá. Foi um dos
fundadores do grupo de teatro de rua “Os Maloqueiros”. Subindo e descendo a
ladeira da Água Brusca, conheceu o Ilê Aiyê, do qual se tornou compositor e
onde fez história, ganhando três vezes o Festival de Música Negra. Publicou em
Cadernos Negros 34 e 35 e é idealizador e editor do portal e página de
literatura Ogum’s Toques Negros, no qual são divulgados textos seus e de outros
poetas da afro-diáspora.
Guellwaar é Aficodé do Terreiro Raiz da Airá, liderado
pela Yalorixá Mariah Kecy, situado em São Félix. Suas palavras são certeiras
como a flecha de Odé, duras como o agadá de Ogum, mas também nos direcionam a
infinitos caminhos como os tantos braços que o rio pode criar.
Guellwaar Adún é resumidamente e principalmente poeta
militante da literatura negra, sua produção pode ser acessada no coletivo
Ogum’s Toques Negros, onde publica seus textos combinando-os com imagens,
sensibilidade literária, engajamento político e qualidade estética.
O
sexo, o ‘feicibuqui’ e a literatura Negra
Por Guellwaar
Adún
O sexo, em termos ‘feicibuquianos’ no Brasil,
aparentemente é mais importante que comédia, fofocas, intrigas interpessoais e
a política. Uma breve surfada, sobre os temas mais repercutidos nessa rede
social, comprovará essa constatação. Embora seja um ambiente intermediado pela
palavra escrita, a Literatura se conserva como artigo de luxo, sendo compartilhada
entre pessoas iniciadas no gênero, ou seja, aquelas que cultivam o hábito de
ler associado à necessidade do oxigênio para sobreviver.
Nossa página literária, a Ogum`s Toques, no facebook
irá completar um ano, em abril. Próximo mês, né???
Durante esse tempo, divulgamos dezenas de textos e
escritorxs Negrxs do Brasil, Angola, São Tomé, Moçambique, Colômbia, Costa
Rica, Estados Unidos, dentre outros países. A despeito das dificuldades
brasileiras no território da leitura de qualidade, obtivemos relativo êxito com
nossxs leitorxs.
No entanto, se concentrarmos nossa atenção no âmbito
das páginas voltadas ao campo literário, os cânones, estabelecidos no
sul-sudeste brasileiro, se destacam na rede.
Quando a chamada “postagem” trata de literatura, invariavelmente a
autoria é de algum homem branco, erradicado no Rio/São Paulo. Alguma dúvida?
Sugiro uma breve visita às ‘fanpages’ comprometidas com
a divulgação de nomes consagrados. Façam isso e poderão testemunhar o
crescimento vertiginoso e irrefreável de curtidorxs/seguidorxs e
compartilhadores dessas páginas. Esse mapeamento é, no mínimo, desvelador de
muita coisa que fica embaixo dos tapetes dos fazeres culturais instituídos.
A pesquisadora Regina Dalcastagnè , em seu livro,
‘Literatura Brasileira Contemporânea — Um Território Contestado’, levanta uma
lebre temerária, para um país racista sem racistas: revela que os autores
publicados no Brasil, em sua esmagadora maioria, são brancos (93,9%), homens
(72,7%) e moram no Rio de Janeiro ou São Paulo (47,3% e 21,2%,
respectivamente).
Em contrapartida, o conceito de Literatura Negra no
Brasil ainda é mal recebido; o que pôde e pode ser constatado nos diversos
debates, nos quais esse tema é posto à mesa. Não é difícil encontrarmos
leitorxs afirmando que não escolhem seus livros pela cor da pele. Contudo,
aparentemente não percebem que a maioria das narrativas devoradas por elxs, é
fruto desse imaginário branco, fálico e sulista/sudestino.
Há um constrangimento inexplicável no ar, toda vez que
esse tema é evocado. Sentimento similar se apresenta quando é discutida a
existência ou não do racismo em terras tupiniquins. É curioso, mas essa gente
brasileira, que é avançadinha e adoradora do sexo acima de todas as coisas,
cultiva, adora e preserva um conservadorismo tacanho, no terreno das relações
raciais.
Por tudo isso, consideramos nosso projeto, o da Ogum`sToques, necessário, porém sem grandes possibilidades de crescimento, enquanto o
‘culto oculto’ ao racismo brasileiro de cada dia determinar quem deve ou não
ser publicado e divulgado pelas grandes editoras.
Ainda assim, manteremos o nosso tesão pelo multiverso
literário.
Fanpage - Ogum's Toques
Fonte:
Guellwaar Adún
Todos os direitos autorais reservados ao autor.
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