 |
| Imagem:
Henri de Toulouse-Lautrec |
Um
não-lugar impecável
Sou
uma outra pessoa. A que com a face se entrega; a que se apavora com a situação
presente. Penso que me dou melhor com a pessoa-sensação que foge para um lugar
inventado de paisagens planas e coloridas, leves e musicais.Quando me sinto
sufocada, perco o chão, como se fosse transportada para qualquer espaço ermo,
sem cores ou sons que acalentam minhas dores e inseguranças.
Morro
pela falta de liberdade! É um mundo que irrompe todos os dias, vestido de forma
impecável, frio, galanteador, aparentemente racional, com minha vida no palco,
cantarolando quimeras desconhecidas que vivem da suprema inventividade e do
gosto de existir. Ainda saio como num passeio qualquer, vou atrás do que há de
moderno, como se costuma dizer. Mas qual a graça disso tudo? Preciso transpor
meus limites torpes que agonizam como felinos atingidos por algum predador.
Quero
a vida em minhas mãos, ser carregada como o vento que sopra as folhas secas;
quero a inconstância, o não-lugar, a ansiedade que prepara o corpo para algum
desfecho. Não gosto da estabilidade das coisas, elas tem um quê de finitude, de
prontidão diante da gente, é como se não houvesse espaço para corromper o que
está perfeito, e perfeição é algo que aglutina início, meio e fim. É bom para
apreciar e se imaginar perfeito, mas nem temos caminho para isso nesse mundo em
ebulição, que combina bem com o slogan “tudo junto e misturado”.
Senti
a necessidade de alguém para caminhar junto, e para isto já o tenho, ainda que
eu não me revele por completo – é que não daria o charme, o mistério do próximo
passo, da viagem que sempre está por vir.
Dá-me,
por fim, tuas mãos poderosas, que possam afagar meu rosto suado de tanto
acreditar. Dizem que o céu pode se abrir, lembro de ter visto este diálogo num
filme que assisti há algum tempo, e marcou pela forma com que foi falado, pois
eram almas singulares que viviam de um
momento único, que passava sem tréguas.
Incompleta
e complexa. De que me serviria o contrário? Seria não-ser! Como saberia ousar e
provar das representações que eclodem em mim como artistas em êxtase? Nem sei
explicar, mas seria uma falta de tudo, um mormaço sem chamas.
Nenhum comentário
Postar um comentário