Davi Kinski - Nascido no dia 14/08/1988 em São Paulo é
Ator, produtor e cineasta. Formado como ator pela Actor School Brazil e em
cinema pela Academia Internacional de Cinema, dirigiu 7 curtas-metragens,
dentre eles “Cineminha”, convidado a participar do festival italiano Curto In
Bra, além de ter dado o prêmio de melhor atriz para Etty Fraser no Filmworks
Film Festival em 2010.
Ainda como ator passou por diversas escolas, entre elas
FAAP, Wolf Maya e Studio Fátima Toledo. Participou como ator do filme “Nome
Próprio”, de Murilo Salles, que lhe rendeu a indicação de melhor ator no
Festival de Gramado de 2008. Como ator gravou também 5 curtas metragens,
exibidos em diversos festivais. No teatro, encenou Aurora da minha vida,
Lisístrata, Bailei Na Curva, O grande Jardim das Delicias de Fernando Arrabal.
Em 2011 encenou seu primeiro monólogo como ator, "Lixo e Purpurina",
baseado em textos de Caio Fernando Abreu, cumprindo uma temporada de grande
êxito no Sesc Pompéia.
Em 2012 abriu sua produtora, a Play Cultural especializada
em marketing cultural, uma das responsáveis pela ultima temporada de Bibi
Ferreira em São Paulo, ainda fomentou e captou recursos para produtoras como
Baóba, Montengro e Raman, Henrique Benjamim, Marcos Pasquim, MASP entre outros.
Atualmente também ensaia como ator o espetáculo Paixões com direção de Osvaldo
Gabrieli, e está em pré produção do documentário “Pau pra qualquer obra”,
inspirado no site homônimo.
Escreve poesia desde os 15 anos de idade,lançou o seu primeiro livro de poesia, o Corpo Partido pela
editora Patuá.
Livro: Corpo Partido
Autor: Davi Kinski
Gênero: Poesia
Número de Páginas: 110
Formato: 14x21 - acabamento em capa dura
“O que me impressionava naquele garoto de 16 anos com
pretensões poéticas, era sua sagacidade e uma inexperiência de vida muito
curiosa, lembro-me dele me contando sobre o conceito deste livro no intervalo
escolar do colegial. Eu poderia dizer que os poemas do Corpo Partido são poemas
para a poética do corporal, de tudo o que pode significar e representar um
corpo, e revelam personagens transparentes e curiosos do universo urbano –
sempre carregados de um eu lírico visceral. A cidade e suas diversas vozes
poéticas são fragmentadas, assim possibilitando diversas leituras, e buscam sua
matéria prima no cotidiano. Com um estilo próprio, e sem abrir mão de suas
referências literárias, essa obra proporciona uma leitura tropicalista do
universo intimo.”
Rodrigo Ferraz
Os
7 pecados no corpo
Meu corpo
Desejado
Depois do coito
É gula
Meu corpo
Guardado
No armário
Avarento
Meu corpo
Virado em um copo
De vinho
É luxuria
Meu corpo
Sem o teu
Por perto
Irado
Meu corpo
Desejando
Ser outro
Invejoso
Meu corpo
Perdido
Num sol de domingo
Preguiçoso
Meu corpo
É Sagrado
Único
Soberbo
O que move dentro de ti é seco
Áspero
Largo e de fino trato
Mas com cara de espanto
E anda
Por oceanos
Fúnebre, e aquele tanto...
Num canto dos olhos
Distante
Afogado de paraquedas
Saltos perdidos na rede
Malabaristas de ansiedade
Implorando respostas na esquina
Preciso de entrega na estação-cantante
Às 13h30; horário de almoço
Nessa cidade sem horizonte
Gavetas serenas
Sorrisos descartáveis
Moradias portáteis
Preciso de sua pele dentro daquela coisa áspera
Nessa cidade sem horizonte
Movendo-se dentro de nós
Todos–os-dias-repletos-urbanos
Brandos
Facadas de espanto no horário do rush
O
que restou do sagrado eu amarrei no pulso feito fita-promessa
Eu
joguei ao ar procissões metrificadas
Fui
à busca de alvorada em liturgia
E
só avistei desespero e agonia...
O
que restou do sagrado eu amarrei no sexo o mau-olhado
Fiz
outro manto de cristal-santificado
Já
era hora de julgar a revelia
Uma
folia, outro mote-ao-meio-dia
Você-suado-corpo-leite-derramado
Esfrega,
esfrega e esvoaça
A
reza-nossa-fonte arregaça
Essas
nossas línguas-trapezistas
Nessa
fita-queda-pouca-de-mentira
Minha
boca busca rouca sua cria
Eu
acarinho o estardalhaço do teu vinho
Risco
teu peito com o batom-veludo-azul
E
de novo caio naquele velho canto-blues...
Os
teus vestidos estão rasgados pelo chão
Foram
poemas que arranquei com minhas mãos
Dia triste para cortar cabelos.Para deixar
pedaços.Quebrantos risos.Traços.Mantras.Dia de desembaraços. De alimentar os
erros, escalar desafios.
De cobrir o rosto com a máscara grega que te vende o
jogo.No soco paranormal que te rodeia que te mata e te envenena assim que você
desembarca.
Outras parcas.Outras matas. Outras castas vão te ruir
os ossos.E te deixar poesia.Profética.Louca, silênciosa, que pasta em outras
histórias.E vai lhe deixar nos lábios
uma pequena gota de felicidade.Para bois beberem em ti a água de sua
natureza.Santa, imaculada.Dentro de ti corroí alguma fera
Dentro desse dia triste para cortar cabelos vou
arrancar meus cílios, minha cara, minhas vísceras, meus venenos...
E me abandonar.
Se
não existem palavras
Meios
olhares
Pretos
avisos
Maus
presságios
Profecias
morais
Revelias
Se
não existe poesia
More
em outra cidade
Se
não existem amores
Outras
possibilidades
Se
a cabeça anda torta
Os
passos aguados
Os
olhos murchos, parcos, rastros, mantos.
Traços
Se
não existem certezas
Bailados
mecânicos
Semáforos-portos
Meninas
piscinas
Prantos
pacatos
Lisos
problemas
Dance
grudado no seu amado
Se
não existem navalhas
Memórias
de cana
Estradas
falantes
Se
não existem mirantes
Profecias
declaradas
Encontros
partidos
Junte
tudo
Em
um grito
Você que rima com
Paris
Veneza
Praga
Tejo
Que manejo com Camões
Neruda
Hilda
Bocage
Você que é voragem
Destilado
Em meu fogo
Fermentado
Você que é do avesso
Me remexo
Dentro
Do seu subtexto:
Pedaços brutos de poesia
Entre
os passos do meu sapato
Trespasso meu corpo
De ultraleve
No meio de um dia-aspirina
Um bilhete-de-guardanapo
Abandonado em balcão de padaria
Intensidade, é noite
Por onde ando volante
De caminhão-doce
Sem amante
De outro prumo vou sem juízo
Um rumo metafísico
Verso de engano
Sentimento latino na mão
Gesto dolorido
Um salto tamanho
Voz de soprano
Batendo no asfalto
Sem rede de proteção
Por que não?
Você não veste apenas as roupas que levas pesadas sob o
corpo, você leva nos cabelos a leveza das tuas dúvidas, a historia das tuas
vísceras está impresso em teu sangue, sob a pele os dias já vividos, nos olhos
a procissão do que ainda não passou. Você tem em sua boca palavras mofadas,
poemas guardados, amores não beijados e a prosa de todo dia. O que te cobre e
falam que é sua alma, se trata das suas escolhas feitas levadas sob o céu das
suas omoplatas. Suas bifurcações e caminhos escolhidos moram sob o seu pulmão,
a respiração nada mais é que uma via de mão dupla. As transas, os amores
feitos, as sacanagens escondidas sob o diário de tua historia mora na região
côncava, geralmente úmida de vastos desejos. Teus vícios, erros, amores não
correspondidos, amores desfeitos, empregos perdidos, enganos, delírios
martírios, se comprimem no ardor do teu fígado. Sob os pés as ruas por onde não
passou, abaixo deles as pedras já comidas. Sua mão teu manifesto, sua mão teu
teto, teu tato, deserto, mão rasante em voos destemidos, mão que entrega,
denuncia, mão que aperta e que deixa ir embora, mão, de ser(tão) é tanto quanto
hermética. Sob tua testa as preocupações tomadas na cara desde a infância,
perigos eminentes desde o doce maternal. No teu intestino tudo o que já foi
engolido, até mesmo alguns cacos de vidro. Teus peitos são como cata-ventos,
fazem girar como rosa dos ventos os lírios de alguns momentos. Suas pernas são
como duas ruas paralelas, conhecidas, mas que nunca se encontram em um
cruzamento. E o que faz você cobrir teu corpo do teu nome próprio é o conjunto
dessa sinfonia. Uma forma de te desnudar, uma maneira de te ter todo em frente
ao espelho, é te olhar feito um continente e abrir uma frente de grande
silêncio.
Davi Kinski
Todos os direitos autorais reservados ao autor.
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