De
uma composição imprevisível
Se o som soubesse o que falo intimamente quando me
calo, logo já nasceria outro ser – mais falante, quem sabe, em alto e bom tom –
não arrisco mostrar-me uma segunda, terceira ou outra incontável pessoa; ser
quem não conheço ser, o que não imagino ousar além da porta aberta, o medo da
imaginação oculta.
Existe um eco contínuo, espalhado, que se estranha no
poder ofuscado das ruas; ele se reconhece nos passos, nos gestos, no abrigo da
penumbra deslumbrante, um ente sugestivo que atiça; ele se encanta nas
entranhas escassas do caminho; meu eco é cansado e sabe que retorna para algum
lugar, movido pela inconsistência do acaso que promete o ilimitado mistério de
uma alma valente.
Não, acho que não tenho mais nenhum cansaço como antes,
agora é que tenho sonhos que escapam de mim e flutuam no horizonte, perdidos,
mas são meus. Adentram cores e se transformam em sentimentos maiores que que
raios lançados nas tempestades – definitivamente, eles não podem ver sua
monstruosidade viva.
Independente das minhas contradições e de todas as
reviravoltas, dos meus enganos e sentidos vulneráveis, ainda tento escrever o
que já me torno, o que já sou; tudo o que vejo, toco, como e degusto o mistério
dentro de mim – gosto do som das pequenas composições que se formam como
cimento, delineando minha intimidade ainda não totalmente completa, mas que já
é algo complexo demais para se extinguir em pouco tempo.
É embaraçoso compor o que já se é. Penso que é porque
tento e o faço sempre que posso, e lembro que fugidias notas estão pausadas em
minhas mãos, resta-me lhes dar formas reais que se tecem, não necessariamente
sentidas e visíveis, elas são pedaços intangíveis que exploram a capacidade de
todos os sentidos. É como uma espécie de faro, até que se pode chegar mais
perto e deixar se sentir, espinhando o último estalo dos dedos na consciência.
Ainda não sei compor, me juntar, preciso de uma fórmula
que não existe e jamais existiu, sou inviolável, insubmissa, indivisível,
inquestionável, sem exatidão, conceito ou qualquer característica que me
enquadre numa temível estabilidade, prefiro a inventividade do caos que se
reinventa nas situações imprevistas.
Patrícia Dantas-Paraibana, blogueira e escritora.
Cursou História (UFPB), pós-graduação em Turismo (UFPB) e cursando
pós-graduação em Marketing (Verbo Educacional). Adora viajar, blogar, redes
sociais, o real e virtual, se conectar e desconectar do mundo. Atualmente
possui os Blogs Poesia e mais nada e Patrícia Dantas. Atualiza semanalmente!
http://patriciadantas01.blogspot.com.br/
http://poesiaemaisnada.blogspot.com.br/
Para entrar em contato com a autora, envie um e-mail
para pathdantas2012@gmail.com
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