Eu: Romeu e Julieta
Por Suélen Cristina Bastian - estudante de jornalismo
O livro "Cela de Papel" literalmente é o
título perfeito para a obra de Uili Bergamin, porque torna o leitor refém das
páginas das narrativas reais e irreais da ilusão frenética e imaginativa do
autor. Os escritos são magníficos, de muita qualidade, um conteúdo que possui
uma perspectiva sob o mesmo olhar, contudo com uma nova ótica, que dá um
tratamento particular no confronto de pensamentos.
Os textos manifestam ao longo do enredo contrapontos
subjetivos que acoplam a filosofia ficcional. Eu diria que toda história ou
fato pode dar uma boa narrativa. Tudo depende de como e quem vai contá-la, e no
conteúdo de "Cela de Papel" o escritor caxiense consegue desenvolver
um perfeito modo de compartilhar suas fantasias apimentadas com as agonias da
realidade, utilizando a intertextualidade que abrange a famosa obra de William
Shakespeare, Romeu e Julieta.
Uili salienta no desenrolar de seus pensamentos
impressos o redigido: "[...] o mais espetacular de ler aqueles livros era
reconhecer-me nas personagens." Essa declaração trata-se de um infindável
diálogo filosófico em torno de uma personagem, ou seja, o protagonista EU que
envolve outras figuras para falar de si mesmo. Todo ser humano procura o real
sentido da existência, e essa abordagem é o retrato do que somos. É construído
um questionamento moral e imoral do que pode e não pode, ou bem e mal, algo
nesse sentido.
Já dizia o físico Albert Einstein: Tudo é ilusão, até
mesmo o tempo, porque ele não existe de fato." Mas somos escravizados por
ele e até mesmo o próprio escrito traz uma citação de ligação: "Somos
todos mortos pelo relógio.
Sempre." Os textos de Uili vão além,
transpassam o papel e criam um significado simbólico e vivo da nossa própria
imagem, pois quebram a quarta parede e cada leitor terá sua interpretação e
experiência por intermédio do discurso alusivo ao ser. Este é composto de
agonias, desejos, defeitos e qualidades e faz menção talvez de forma
inconsciente de um registro da sociedade contemporânea, aprumada de
irracionalidade e vive de ilusão em ilusão. Exemplo: sempre fazemos as mesmas
coisas, mas agimos como se cada dia fosse diferente. Não que não seja, contudo
vivemos em um círculo vicioso de fidelidade. A diferença é que nos mudamos em
relação ao outro dia, portanto ainda assim, fazemos as mesmas coisas.
Possivelmente os anseios da humanidade procuram por
intensidade, de um contexto de significado pessoal, e após isso desdobram em
fantasias que se alimentam de nossos desejos acomodados, mas associados a
personalidade de cada indivíduo.
O livro "Cela de Papel" se apropria de forma
coerente das personagens intituladas Romeu e Julieta e no mesmo contexto fala
da alma do autor, e de nós mesmos, leitores, aprofundando-se na lacuna
existencial onde prevalecem as questões morais e nossas dúvidas filosóficas.
Podemos encontrar no capítulo "Duas colheres de ilusão" essa
expressão, "Eu, Romeu e Julieta", que deixa claro que pode se tratar
mais de Uili do que de Romeu e Julieta. Na verdade, as personagens são
plataformas para falar da sua própria vida. Aquela coisa de fingir que é outra
pessoa para fazer tudo que é reprimido pela reputação social do jogo das
imagens. Isso acontece muito em filmes, novelas e teatro e na também na literatura.
É uma maneira sutil de poder gritar ou somente desabafar o que está além da
aparência, que é nossa alma.
Vou arriscar usar essa citação de Ferreira Gullar, para
mencionar minha visão a respeito destas belas escrituras de Bergamin:
"Naturalmente, esse mundo outro que o artista cria ou inventa nasce de sua
cultura, de sua experiência de vida, das ideias que ele tem na cabeça, enfim,
de sua visão de mundo."
Acho interessante, mas não estou totalmente de acordo,
quando o texto é redimensionado à tratar a questão de Deus e o diabo, pois
parece que o diabo tem mais vez do que Deus no discurso. No entanto, é
intrigante (no bom sentido), porque na verdade é mais fácil pecar que
santificar. Não estou entrando na base do assunto religioso, trata-se de uma
metáfora de que é mais fácil ir contra as regras do que obedecê-las.
Falar do escrito "Cela de Papel" é muita
responsabilidade, porque além de uma obra literária de alta classe estarei
indiretamente falando da alma do escritor, que também é de alta qualidade. Portanto,
reforço: é uma leitura um tanto elitizada, muito bem escrita e cheia de links e
portas para uma reflexão dos nossos próprios pensamentos. Também é um convite
para o mundo da imaginação. Recomendo a leitura. Entre nessa aventura de
"Cela de Papel" e seja capturado do início ao fim nesta viagem ao
mundo bergamiano.
"Cela de Papel"
Sinopse
Cela de Papel é uma obra profunda e faz
uma verdadeira apologia ao livro e ao hábito da leitura.
Tudo aqui é metalinguagem.
Inovador para os padrões de nosso mercado editorial, é uma obra obrigatória
para os amantes da literatura de invenção. Uma fantasiosa alegoria sobre a arte
das letras. Como diria José Clemente Pozenato: “Quem gosta de saborear as
palavras, não na sua ‘literatice’, mas na sua vasta possibilidade de
combinações dentro da panela do texto, vai se deliciar com este livro.”
Uili Bergamin-Nasci
em Bento Gonçalves e ainda criança mudei-me para Cotiporã. Já adulto,
estabeleci-me em Caxias do Sul, onde venci inúmeros prêmios literários,
nacionais e internacionais. Sou autor de seis livros: "O Sino do
Campanário" (contos), "Cela de Papel" (novela), "Do Útero do Mundo"
(poesias), "A Ilha Mágica" (juvenil), "Contos de Amores Vãos" (contos) e
"Tetraedro" (crônicas) em parceria com mais três autores caxienses.
Também escrevo para a Revista Acontece Sul, onde indico bons livros e
colaboro para jornais da região.
"O
difícil não é a gente ter boas idéias. Nem falar delas. Difícil mesmo é
encontrar alguém, especial, que as ouça. No entanto, pior do que não
ter a quem contar o que a gente sente, é contar o que a gente sente a
quem não sente o que a gente conta. É dolorido. É o diabo." Trecho do
livro "Cela de Papel".
Uili Bergamin: a força literária de Caxias do Sul
Uili
Bergamin é um dos melhores exemplos da força literária de Caxias do
Sul. Além de se destacar ganhando inúmeras premiações literárias na
Serra Gaúcha, ele escreve para jornais e revistas, participa dos eventos
culturais das charmosas cidades sulistas, escreve livros que viram
best-sellers nas escolas caxienses e ainda tem fôlego para bancar um
blog onde ele conta suas andanças e informa o que há de novo Brasil
afora. Longe dos livros, Uili ainda mostra que é excelente anfitrião,
conhece o Sul de olhos fechados e faz questão de convidar seus amigos e
escritores a provarem (e lerem) o que Caxias tem de melhor.
Paula Cajaty
Para adquirir o livro
Livraria:
Revista Biografia
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