Jacques Fux e a matemática da literatura [Márcia Abos]
— Imagino que o primeiro romance de qualquer pessoa ainda precise tentar romper com as amarras de suas influências, de suas leituras. “Antiterapias” não é 100% autobiográfico. Por mais que você tente fazer uma autobiografia radical, ao escrever, está fantasiando.
O escritor e editor Mário Alex Rosa conta que, ao ler o manuscrito de “Antiterapias”, foi atraído pela sólida formação literária de Fux e pela forma com que ele se apropria de textos de outros escritores, mantendo o domínio da autoficção.
— Ele é um leitor compulsivo e consegue fazer uma terapia desse processo da escrita. O livro tem também muita ironia e sarcasmo, vindos dessa tradição judaica — avalia Rosa, ponderando que, para evoluir como autor, Fux precisa se desprender da autoficção, se aventurar numa narrativa em terceira pessoa e se desvencilhar da tradição judaica.
Dedicando-se a uma tese de pós-doutorado sobre testemunhos escritos do Holocausto, Fux passa parte de seu tempo nos Estados Unidos, onde é pesquisador visitante em Harvard. Também está começando um novo romance
— mais um relato em primeira pessoa. Ao ser listado entre os finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura, Fux procurou a agente literária Luciana Villas-Boas, que agora o representa. Ele tem um livro infantil pronto e negocia com editoras:
— É um livro infantil para todas as idades. Imagino que será lido por pais e filhos juntos. Traz perguntas e respostas abstratas, tais como “por que amamos?”, “por que sofremos?”, “por que temos medo?”. As respostas são dadas por personagens livremente inspirados em Clarice Lispector, Freud, Lacan, Riobaldo ou Diadorim. Para mim, a grande sacada da literatura é falar sobre a própria literatura.
Para Luciana Villas-Boas, o trabalho de Fux é diferente no atual quadro da literatura brasileira, com forte possibilidade de ser levado para fora.
— Valorizei muito sua cabeça matemática. Ele é um estilista excepcional e faz uma literatura que começa a despertar interesse no exterior. Há muitos anos não víamos uma forte vertente literária judaico-brasileira — diz Luciana.
Um dos editores de “Antiterapias”, Wagner Moreira vê na escrita de Fux uma fluidez própria, mas sentiu certo estranhamento na forma de apresentação do romance:
— Fux deixa clara sua estratégia de criação, seja na explanação de seus diálogos com o universo literário-filosófico, seja nos riscos que corre ao diminuir a distância entre as categorias autor, narrador e personagem. O desafio é manter esse nível no próximo trabalho.
Fux define seu projeto literário como a busca por uma voz e um estilo novos, algo que considera utópico:
— Busco algo que mistura a grande literatura, o lúdico e as histórias de todos nós, seres autonarradores. Ousado, né? Mas por que não ser?
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