“A TRISTEZA NÃO NOS MUDA, HAZEL” [Raul Arruda Filho]
Gosto não se discute – dizem. Discordo. A diversidade somente adquire visibilidade no mundo desigual em que vivemos quando participa da discussão. Por isso, depois de superar vários preconceitos, enfrentei a aventura. Mas, quase abandonei a leitura – diversas vezes. Um dos motivos que me impediu foi a curiosidade. Milhares de leitores adoram esse livro. O que será que isso significa?
John Green é uma espécie de pop star da literatura |
O breve namoro, que não se caracteriza exatamente por ser um namoro, parece ser uma adaptação contemporânea do mito Romeu e Julieta.Sem tentar evitar a interminável coleção de clichês sobre a perda e o luto, a narrativa se transforma no registro romântico da dor. Livro ideal para quem gosta de chorar. E isso, inegavelmente, caracteriza um dos seus inúmeros defeitos. Talvez o maior. A manipulação dos sentimentos impede que o leitor possa ter uma visão critica do fluxo narrativo. Ou se apaixona pelo casal ou abandona a leitura. Não espaço para o meio termo.
O ponto decisivo da narrativa se concentra em uma cena fora de moda e que, possivelmente, seria sucesso em algum romance de cavalaria. Ao descobrir que o seu câncer voltou de forma agressiva, Augustus decide-se pelo gesto heroico. Recusa a internação hospitalar. Desiste do tratamento médico. E convida Hazel para viajar até a Holanda. Quer visitar Peter Van Houten, o autor de Uma Aflição Imperial.
Sem suspeitar que o quase namorado esteja planejando uma forma sofisticada de suicídio, ela aceita a viagem. Confirmando a tese de que a melhor forma de se decepcionar com a literatura está em conhecer o autor do livro, Peter Van Houten se mostra um alcoólatra mal-educado.
Esse choque de realidade resulta em algo bom: o casal vai para a cama. De forma desajeitada, claro. As limitações físicas impedem cenas fortes. Fofura total.
O desfecho se caracteriza por outra tempestade de lágrimas. A exposição narrativa do enterro (e a compensação moral que surge com o arrependimento de Paul Van Houten) assusta a qualquer um que conheça o mínimo de carpintaria literária. Faltam elipses, sobram descrições sentimentais.
Terminei a leitura ligeiramente angustiado por não ter conseguido descobrir motivos significativos para gostar de A Culpa é das Estrelas. Ok, sou um insensível. Não encontrei a poesia que esse tipo de narrativa promete. Falta-me paciência com livros deprimentes ou com a cultura cristã do sofrimento. Acredito que a tristeza não nos muda, Hazel. Ela nos revela. Revela que a procura pela alegria e pelo prazer não se encontra no livro de John Green.
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