por Filipe Larêdo
Artigo publicado no site
PapodeHomem
Domingo de manhã. Sete
horas. Apesar de todo o cansaço que a rotina semanal de trabalho lhe trouxe,
você não consegue continuar dormindo. Sendo casado, olha pro lado e percebe que
sua companheira – ou seu companheiro – não está nem perto de querer se
despertar. Sendo solteiro, não tem coragem de acordar seus amigos com um
telefonema tão cedo. Assim, o domingo de manhã lhe envolve em seus feitiços
silenciosos e tranquilos, fazendo com que você não sinta mais vontade de fazer
mais nada. E eis que surge uma excelente oportunidade de ler.
Sim. Uma boa leitura num
domingo de manhã é algo inestimável na vida de um mortal que quer curtir seu
dia deitado, sentado, em pé ou de qualquer forma que seu corpo desejar,
contanto que seja na frente de um livro.
E para deixar esse dia tão
especial, separamos algumas excelentes leituras para se fazer num domingo de
manhã. Todos são ótimos livros e certamente poderão ser lidos numa tacada só,
às vezes por serem curtos ou por terem uma ótima fluidez.
Preparados?
A Pérola (John Steinbeck –
Record, 128 páginas)
Ganhador do Prêmio Nobel
de 1962, esse autor americano ficou conhecido por suas tramas simples, mas
marcantes e intensas.
Em A Pérola, Steinbeck
apresenta ao leitor um casal de pescadores que descobre a maior pérola do mundo
no litoral do México.
Tamanha riqueza desperta
neles e em seu povoado sentimentos vis como a inveja, a ira e o egoísmo. A
história se desenrola em cima do mito da sorte grande, porém vai muito mais
além, usando metáforas morais que levam o leitor a se questionar se tudo aquilo
vale realmente a pena.
O livro foi adaptado para
o cinema em 1946 e contou com a ajuda do próprio Steinbeck no roteiro. Na tevê
brasileira, coube a Dias Gomes fazer a adaptação.
O Pequeno Príncipe
(Antoine de Saint-Exupéry – Agir, 96 páginas)
“O quê? Um livro
infantil?”. Respondo que sim, senhores, O Pequeno Príncipe é um livro infantil
tão fascinante, que deve ser lido por todos, inclusive adultos. Isso porque ele
transporta o leitor para o mistério da infância, para uma época que os sonhos
se misturavam com a realidade constantemente.
De leitura ágil e
sensível, é uma obra que comoveu milhões de pessoas de diversas nações em todos
os continentes. Até hoje ela continua sendo uma referência em literatura e o
fato de ter sido traduzida para mais de oitenta línguas é uma prova disso.
E se você não tem esse
livro em casa – o que eu acho difícil –, ficará impressionado com a facilidade
que terá de encontrar em qualquer livraria ou sebo perto da sua casa.
Leitura perfeita para um
domingo de manhã.
Bartleby, o Escriturário:
uma história de Wall Street (Herman Melville – L&PM Pocket, 96 páginas)
Para aqueles que estão um
pouco insatisfeitos com a rotina de trabalho e não sabem o que fazer, essa
pode, ou não, ser uma boa receita literária. Tudo porque a história começa
quando um bem-sucedido advogado contrata Bartleby como auxiliar de escritório.
Muito solícito e proativo,
ele tem todas as qualidades de um funcionário modelo. Mas tudo mudo quando, do
dia pra noite, ele resolve responder a um pedido do chefe com um desconcertante
“prefiro não fazer”.
Essa insubordinação com o
chefe foi aclamado por intelectuais como Albert Camus e Jorge Luis Borges, que
a consideraram como uma metáfora iconoclasta de destruição das morais do mundo,
principalmente aquelas construídas dentro de uma realidade sistemática que é a
dos tempos modernos.
A festa de Babette (Karen
Blixen – Cosac Naify, 64 páginas)
Um livro cuja adaptação
cinematográfica ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro (1988) só pode ter
uma qualidade digna de recomendação.
Fugitiva do massacre à
Comuna de Paris em 1871, Babette aparece misteriosamente num vilarejo na costa
da Noruega, durante uma noite de tempestade. Em troca de abrigo, ela oferece
seus serviços de cozinheira para duas irmãs protestantes, que prontamente
aceitam.
Acontece que um dia,
Babette ganha uma bolada na loteria e, em vez de deixar pra trás aquelas que a
acolheram, prefere organizar um suntuoso banquete em homenagem ao pai das
benfeitoras, um respeitado pastor puritano.
Lisístrata: A greve do
Sexo (Aristófanes – L&PM pocket, 128 páginas)
Cansadas das guerras e sem
nenhuma representação na política ateniense, as mulheres decidem fazer a única
coisa que está ao seu alcance para acabar com os conflitos na Grécia do séxulo
V a.C.: recusam-se a fazer sexo com seus maridos. E declaram que vão permanecer
com essa postura até que seja assinado um tratado de paz.
Que coisa, não?
Em forma de teatro, essa
comédia apresenta a heroína Lisístrata, líder da revolta feminina, que comanda
as mulheres contra a destruição que vem sendo feito pelos homens. De caráter
pacifista, é uma obra que merece ser lida.
A Arte de Produzir Efeito
sem Causa (Lourenço Mutarelli – Companhia das letras, 208 páginas)
Como já é de seu estilo,
Mutarelli não perde tempo com cenas desnecessárias e imprime um ritmo rápido e
alucinante em suas narrativas. E é esse o caso de A arte de produzir efeito sem
causa.
Com diálogos longos e
intensos, o livro conta a história do infeliz Júnior, que depois de abandonar o
emprego e o casamento, pede abrigo ao pai. Sem ânimo para recomeçar, passa os
dias no sofá da sala, no bar onde bebe com seus antigos amigos desocupados ou nas
conversas com Bruna, uma bela estudante que também mora no apartamento do pai.
Rapidamente o leitor vai
penetrando na consciência distorcida de Júnior e descobre que o personagem está
no limite de sua própria sanidade.
Como se Preocupar Menos
com Dinheiro (John Armstrong – Objetiva, 168 páginas)
Dinheiro é um negócio
complicado. Normalmente, quanto mais temos, mais queremos ter, e nunca ficamos
satisfeitos com o que conquistamos. Além disso, quando olhamos pro lado e vemos
aquele antigo amigo da escola esbanjando sucesso financeiro, sentimos inveja e
frustração. E é pra resolver esse problema que John Armstrong nos entrega o seu
livro.
Diferente da maioria dos
livros sobre o assunto, que insistem em indicar caminhos para ganhar mais e
viver com menos, esse vai direto ao ponto e analisa a maneira como nos
relacionamos com o dinheiro e qual o seu significado em nossas vidas.
Com uma perspectiva mais
humana, que debate temos como a necessidade e o querer, o apego e o desapego, o
livro é uma excelente indicação para aqueles que se preocupam demais com
dinheiro e acordaram no domingo de manhã se perguntando sobre como resolver
seus problemas financeiros.
A Metamorfose (Franz Kafka
– Companhia das Letras, 104 páginas)
Se sente estranho? Acordou
bem nessa manhã de domingo? Tem certeza que não nasceu uma dura carapaça em
suas costas?
Desculpem a brincadeira,
caros leitores, mas a intenção era mostrar a sensação que Gregor Samsa teve ao
acordar de um sono intranquilo e descobrir que havia se transformado num
monstruoso inseto. No início, pensou que estivesse sonhando, mas aos poucos foi
descobrindo que aquela condição ainda lhe traria muitos problemas.
A mais popular de todas as
novelas de Kafka, A Metamorfose também é uma das mais importantes obras da
história da literatura. Suas pitadas de humor associam o inverossímil ao
trágico da existência humana e levam o leitor a uma obra-prima de um mestre da
ficção universal.
Azul é a cor mais quente
(Julie Maroh – Martins Fontes, 160 páginas)
Infinitamente mais
dramático que o filme, essa bande dessinée — como os franceses chamam os
quadrinhos — traz o selo de qualidade que os quadrinhos feitos na França
costumam receber. A obra impressa guarda algumas relações com sua versão
cinematográfica, mas no fim, a experiência é completamente diferente.
Por meio de textos do
diário de Clémentine — que no filme se chama Adèle –, vamos acompanhando seus
passos, desde o primeiro encontro com Emma, uma jovem de cabelos azuis por quem
se apaixona, até as primeiras descobertas, prazeres, tristezas e tragédias que
essa relação reserva.
De sensibilidade aguda, a
obra foi merecidamente premiada no Festival d’Angoulême, o mais respeitado
evento de quadrinhos do mundo.
Um Copo de Cólera (Raduan
Nassar – Companhia das Letras, 88 páginas)
Um verdadeira clássico da
literatura brasileira, esse livro sintetiza o estilo intenso e vibrante de
Raduan Nassar.
Depois de uma noite de
amor, o homem se irrita com as formigas que destroem sua cerca-viva, e a mulher
brinca com o fato de seu amante querer destruir nervosamente o formigueiro. A
partir daí o embate entre eles cresce em agressividade, levando-os a um ciclo
de destruição e de recriação que se renova no final do livro.
Apesar de sua prosa
complexa, com uma oralidade muito próxima da poética e longos períodos, seu
ritmo é instigante do começo ao fim. Ao final das 88 páginas, o leitor terá a
sensação que pode facilmente reiniciar a leitura, pois tudo volta de onde
partiu.
Agora é esperar os
domingos que virão e acordar mais cedo de propósito. Claro, temos espaço aberto
para mais livros serem comentados aqui nos comentários.
Obs.: algumas capas são de
outras editoras e outras possuem versões atualizadas. Ao correr atrás de um
desses livros, vale verificar qual é a edição mais recente.
Filipe Larêdo é um amante
dos livros e aprendeu a editá-los. Atualmente trabalha na Editora Empíreo, um
caminho que decidiu seguir na busca de publicar livros apaixonantes. É formado
em Direito e em Produção Editorial.
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