Colecionadora de Sonhos
De pequeninas mãos brancas
a menina de cabelos escuros corre atrás de borboletas no jardim.
Quem a observa tem quase
certeza de que existem mais borboletas em sua imaginação do que entre as
flores.
O som da risada ecoa e faz
ritmo com um veio d’água que passa perto. Barulho de criança sempre enche todos
os espaços e com ela não seria diferente.
A pequena de pele clara
prefere esconder-se atrás das folhas de um verde mais escuro, na sombra,
esperando o sol se encoberto pelas nuvens. Não que não goste do calor, mas
porque gosta de olhar para o céu e a sua absurda beleza infinita circundada de
azul.
Ela sabe que as nuvens não
são de algodão. É uma das poucas crianças a ter certeza que as nuvens são
sonhos que vão se aglomerando sobre nossas cabeças. Eles ficam no alto não para
nos mostrar que são impossíveis ou inatingíveis, mas dizer que são divinos. Que
nos elevam na sua busca e nos deixam lá, no céu, quando são realizados.
Ela também sabe que muitos
desses sonhos passam da hora. Por isso eles escurecem e se derramam. A chuva é
o precipitar dos sonhos não realizados. É o reconhecimento de que desistimos,
de que tentamos pouco, de que preferimos nos fixar na terra. E a chuva é isso:
é a volta dos nossos sonhos para a terra.
A menina de olhos curiosos
que fita o céu sabe bem onde coloca os seus sonhos: eles são os guias de seus
passos pueris. Quem sabe será uma princesa? Quem sabe habitará histórias ou as
contará?
Para os sonhos que ainda
não tem certeza, reserva-lhes a fronha do travesseiro e dorme sobre eles todas
as noites. Para aqueles sonhos não realizados – não os dela! – ajunta as gotas
em dias de chuva e coloca num aquário: tem esperança de que seus peixinhos os
deixem coloridos e que eles voltem para o céu, arrancando sorrisos e suspiros.
A menina de mãos
pequeninas já é colecionadora de sonhos e sonha chegar muito longe, correndo
atrás de cada item novo para a sua coleção.
Dy Eiterer.
Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil. Edylane é Edylane desde 20 de
novembro de 1984. Não ia ter esse nome, mas sua mãe, na última hora,
escreveu desse jeito, com "y", e disse que assim seria. Foi feito. Essa
mocinha que ama História, música e poesia hoje tem um príncipe só seu,
seu filho Heitor. Ela canta o dia todo, gosta de dançar - dança do
ventre - e escreve pra aliviar a alma. Ama a vida e não gosta de nada
morno, porque a vida deve ser intensa. Site:Dy Vagando
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