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Nina Simone, música e liberdade [Mylanne Mendonça]

Nina Simone, música e liberdade


por Mylanne Mendonça

Artigo publicado no site Obvious. 

No ano em que completaria 80 anos, Nina Simone continua presente como diva da música americana e símbolo de força, luta e orgulho não apenas de um povo, mas de uma geração.

Na cidade de Tyron, no oeste da Carolina do Norte, nasceu Eunice Kathleen Waymon, uma das maiores cantoras americanas, conhecida internacionalmente como Nina Simone. A pequena Eunice aprendeu a tocar piano aos 3 anos de idade, mas foi aos 20, escondida dos seus pais, pastores metodistas que consideravam o blues como "música do diabo", que adotou o nome artístico de Nina Simone. A carreira de sucesso veio coroar uma guerreira marcada pelas feridas de uma luta que a tornou uma das personalidades mais intensas do cenário musical. O piano sempre foi companheiro de Nina Simone, que desde cedo se dedicou a música clássica e ao sonho de se tornar uma concertista. Mas seu sonho foi interrompido aos 17 anos, quando não foi aceita no Instituto de Música Curtis, na Filadélfia. Acreditando que o motivo da não-admissão tenha sido a cor de sua pele, com uma personalidade dura e combativa, Nina fez dessa porta fechada uma bandeira e sua música um hino do ativismo contra o racismo. E em plena década de 60, quando os negros tentavam alisar os cabelos, Nina assumiu não apenas a cor da pele, os cabelos crespos e o nariz largo, mas toda a luta pelo resgate da dignidade de um povo ferida pelo racismo. Chegou a cantar no enterro de Martin Luther King, um dos mais importantes líderes do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos e no mundo.

Tendo passado por vários estilos, do gospel ao soul, blues e folk, Nina é classificada como uma referência do jazz, mas não gosta dessa classificação, segundo ela em uma entrevista em 1997: "Para pessoas brancas, jazz significa preto e jazz significa sujo e não é isso que eu toco. Eu toco música clássica preta. É por isso que eu não gosto do termo "jazz"." No ano em que completaria 80 de anos de vida, no mês de abril completam 10 anos de sua morte, mas sua voz inconfundível e as notas firmes do piano mantém viva uma história que que reúne cerca de 50 álbuns e mais de 500 músicas gravadas, entre elas uma gravação com Maria Bethânia, em uma de suas passagens pelo Brasil, a canção é "Pronta pra Cantar" de Caetano Veloso.


Entre seus sucessos estão duas belíssimas músicas de sua autoria que expressam bem o significado da carreira de Nina Simone. Uma delas é "Revolution", do album "To love somebody" (canção interpretada como uma resposta crítica à musica de mesmo nome dos Beatles que foi considerada como reacionária na época) e a outra é "Mississippi goddam" que fala sobre o assassinato de quatro crianças negras numa igreja de Birmingham em 1963. Sem deixar de lado a música "Why? (The King Of Love Is Dead)" cantada em homenagem a Luther King. 


Nina cantava com a emoção e sentimento daqueles que eram obrigados a entrar pela porta dos fundos, mas fez questão de sair dos porões para o mundo. "Não há nenhuma outra finalidade, até onde eu sei, para nós, exceto para refletir os tempos, as situações ao nosso redor e as coisas que somos capazes de dizer através de nossa arte, as coisas que milhões de pessoas não podem dizer. Eu acho que é a função de um artista e, é claro, aqueles de nós que têm sorte deixar um legado para que, quando estivermos mortos, nós também vivamos. Isso é gente como Billie Holiday e espero que eu tenha a mesma sorte, mas, entretanto, a função com a qual eu estou preocupada, é a de refletir os tempos, onde quer que possa estar." Nina Simone não existiu apenas para ser ouvida, mas pra ser sentida através de suas músicas. Feche os olhos e sinta.





Mylanne Mendonça
Observando com interrogação. Vivendo com exclamação e sonhando com reticências!.

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