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(Foto: Divulgação) |
Um livro para aprender a
amar a leitura
O trabalho apaixonado de
um designer e um escritor para ensinar crianças a gostar de ler
Danilo Venticinque, na revista Época
*Uma das ilustrações de
John Alcorn em Livros! (Pequena Zahar, 56 páginas, R$ 34,90)
Ensinar a ler não é o suficiente para criar um
país de leitores. Prova disso são os milhões de jovens e adultos alfabetizados
que, por falta de hábito ou de incentivo, passam meses inteiros sem abrir um
livro. Quem não conhece alguém que tenha esse comportamento, em qualquer
profissão ou classe social? Pior: quem de nós nunca engrossou essas
estatísticas ao deixar a leitura de lado num momento de distração e depois
perceber, envergonhado, que não lê nada há dias?
A paixão pela leitura é
tão importante quanto a alfabetização. Deveria ser aprendida na infância. Há,
porém, algo de misterioso nela. Ensiná-la é muito mais difícil do que mostrar a
um aluno como as letras se juntam. São incontáveis os pais e professores que
frustram futuros leitores por oferecer o livro errado na hora errada – ou por
não oferecer livro nenhum.
Ler o livro certo na idade
certa é uma experiência transformadora, capaz de formar um leitor para a vida
inteira. Mas o que seria um livro certo? Como transmitir, em letras e imagens,
o amor pela literatura? Foi esse o desafio que uniu, em 1962, o designer
americano John Alcorn e o escritor Murray McCain.
Livros! (Pequena Zahar, 56
páginas, R$ 34,90), recém-lançado no Brasil, é o resultado dessa parceria. Com
uma linguagem simples, ilustrações chamativas e um projeto gráfico ousado, a
obra consegue explicar, em poucas páginas, tudo o que a leitura tem de
fascinante. Há explicações bem-humoradas sobre o processo de edição de um
livro, o caminho que ele percorre da cabeça do autor até a prateleira da livraria
e o papel do leitor nisso. Outro destaque são as divertidas listas de palavras
divididas em categorias: palavras difíceis, palavras alegres, palavras tristes
e palavras para pensar. Entre uma brincadeira visual e outra, parágrafos curtos
expõem diferentes motivos para gostar de ler. "O livro é como um outro
quarto, ou outra cidade, ou outro mundo, onde alguém está querendo falar com
você", escreve McCain.
Ao final da leitura, os
jogos de palavras e as ilustrações dificilmente falharão em seu objetivo:
convencer qualquer leitor, da criança recém-alfabetizada ao adulto preguiçoso,
a agarrar o livro mais próximo e ler com prazer. Com sua proposta inocente e
direta, Livros! é uma obra que merece ser revisitada de vez quando, sempre que
a paixão pela leitura começar a fraquejar. O amor pelos livros, como qualquer
outro amor, corre o risco de morrer se não for demonstrado – e, quando o
perdemos, nos tornamos um pouco menos humanos. "Tudo o que sabemos dos
antigos – quem eram e o que faziam e como viviam – está em um livro. Certos
livros tratam de coisas que aconteceram cem anos atrás. E alguns tratam de
coisas que podem acontecer depois de amanhã. De qualquer jeito, um livro lhe
dirá se você quiser saber. O mundo inteiro está nos livros." A lição de
Alcorn e McCain é tão simples quanto aprender a juntar as letras. Seria ótimo
se todos a aprendessem.
Danilo
Venticinque -Editor de livros de ÉPOCA
Conta com a
revolução dos e-books para economizar espaço na estante e colocar as leituras
em dia. Escreve às terças-feiras sobre os poucos lançamentos que consegue ler,
entre os muitos que compra por impulso
Twitter:
@daniloxxv
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