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Fátima Teles: Tempos líquidos, nada é para durar [Fátima Teles]


O consumismo leva a instabilidade e ao individualismo

da humanidade.
Fátima Teles: Tempos líquidos, nada é para durar

Para Bauman (2010), o momento da história em que vivemos é marcado pela chamada modernidade liquida. Tudo é feito para não durar, daí se explicam o culto a aparência, ao ter, ao consumo, as relações amorosas descartáveis, a incerteza, a instabilidade geral e ao individualismo da humanidade. 

Por Fátima Teles, especial para o Portal Vermelho 

Vivemos apressados (as) em ser ou estarmos felizes e isso contribui para que não tenhamos paciência em solidificar nenhuma relação pela qual estamos inseridos (as). O ter sobrepuja o ser constantemente numa inversão de valores tão fortes, consequência do capitalismo predador a que estamos submetidos que já não buscamos mais ser alguém ou dar o melhor de nós para a construção da sociedade em que vivemos, mas nos importamos mais com o ter, ter algo, possuir algo ou alguém, como forma de afirmar-nos perante o poder, para sermos admirados pela sociedade que todo o tempo exige isso, como modelo de vida de seu contexto social.

Segundo o Bauman (2010), os nossos ancestrais tinham perspectiva de futuro e por isso plantavam, trabalhavam, tinham esperança no porvir. Eles queriam ser melhor do que a geração anterior e se esforçaram para deixar o mundo melhor para nós.

Nós não temos mais essa preocupação em ser melhor e deixar um mundo melhor para as gerações posteriores, pois vivemos como se não acreditássemos mais no amanhã. O futuro para nós é incerto e muitas vezes não acreditamos na sua existência. Não nos sentimos responsáveis pela construção de um mundo melhor. O nosso egoísmo faliu a nossa condição espiritual de espírito em evolução. Exigimos a felicidade para já. Queremos ser felizes hoje e a todo custo, ainda que alguém sofra ou chore, pois não sabemos renunciar. Estamos educando a nova geração para uma guerra civil. Serão lobos humanos devorando uns aos outros nas selvas de pedras, denominadas de Cidades ou centros urbanos. 

Amor líquido é um amor “até segundo aviso”, o amor a partir do padrão dos bens de consumo: mantenha-os enquanto eles te trouxerem satisfação e os substitua por outros que prometem ainda mais satisfação. O amor com um espectro de eliminação imediata e, assim, também de ansiedade permanente, pairando acima dele. Na sua forma liquida, o amor tenta substituir a qualidade por quantidade- mas isso nunca pode ser feito, como ou mais tarde acabam percebendo. É bom lembrar que o amor não é um “objeto encontrado”, mas um produto de um longo e muitas vezes difícil esforço e de boa vontade”. Bauman, Isto é, 2010.

Uma prova concreta dessa liquidez dos sentimentos citada por Bauman, é o mundo virtual. As amizades e os amores encontrados através das redes sociais perpassam por esse processo de descartabilidade das emoções e sentimentos. É muito comum ver pessoas terem milhares de amigos na sua rede social, como forma de demonstrar a sua capacidade de interagir ou comunicar-se e isso termina gerando uma forma de poder, quando na realidade nós só nos comunicamos com poucas pessoas, com aquelas que nós nos afinamos espiritualmente.

Se a bandeira da modernidade ou pós modernidade é o aqui e o agora, então não perdemos tempo com amigos(as) que nos levam a abrir os olhos, que nos questionam, que nos sacodem para a realidade. Como vivemos através de uma tecla, queremos apenas consolos e agrados e quando as pessoas nos desconfortam se torna muito fácil nos livrarmos delas. É só desconectarmos ou excluí-las. É o mundo descartável, onde as pessoas tem o mesmo valor dos produtos de consumo da nossa felicidade. Para isso elas nos servem, para satisfazer o nosso prazer e a nossa vontade. Isso é a falência espiritual da humanidade. E a pergunta seria se ainda tem jeito, ao mesmo tempo que podemos responder com uma frase de Chaplin retirada de seu último discurso, onde ele nos convida à reflexão: “Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis.

Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas duas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.”

Referências Bibliográficas

*Fátima Teles é Assistente Social e colaboradora do Vermelho
**Título original: Em tempos de liquidez dos sentimentos, a inversão de valores é a força motriz

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