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Estranho-seria-se-eu-não-me-apaixonasse-por-você [Hugo Rodrigues]

Estranho-seria-se-eu-não-me-apaixonasse-por-você



“Estranho-mas-já-me-sinto-como-um-velho-amigo-seu. Essa parte perigou pela minha cabeça durante o jantar inteiro, confesso. Naqueles longos dois segundos onde ficamos calados, a voz do Nando Reis invandia a minha mente e eu já nem me importava por não ter um All Star cano alto ou se você morava em Laranjeiras, Catete, Glória ou na Urca. Erámos nós ali, como velhos amigos num primeiro encontro de muitos.

Ou não.

Nunca soube prever o futuro. Mas algo em mim já me dizia que aquele frio na barriga seria facilmente aquecido – e esquecido – por teus abraços calarosos ou por noites de suor e mordidas.

Só por ter borboletas no estômago já penso que tenho asas, confesso.

E quando você sem querer começa a falar de mim ao falar sobre a tua vida, teus gostos e vontades (de comer pizza pela manhã à morar em Paris, aos 30) é quando vou me dando conta de, talvez, esse gusto de ter encontrado um outro-eu seja suficiente para sonhar com você durante os próximos cinco anos – ou mais – seja pelas coisas vividas aqui, as que viveremos ou as que poderíamos ter vivido, caso isso aqui não dê em nada.

Sou desconfiado, confesso, também. Mesmo que você me sorria escancarado, me mire nos olhos, vez ou outra, ajeite o cabelo e se empolgue toda ao insinuarmos que nos veremos outra vez, não terei certeza de você realmente irá querer continuar com esse troço aqui. Já quebrei a cara tantas vezes que, às vezes, se você não vestir uma camisa dizendo me-beija-logo-idiota, eu continuarei tremendo de medo de você me dizer não.

O jantar acaba.

Eu não tenho carro e você me oferece uma carona. Não sei o que dizer na escuridão do banco do carona, mas você coloca Bruce Springsteen para tocar e eu tenho – mais uma vez – a pequena certeza de que você tem que ser minha. Me vê sorrindo bobo e diz que as luzes da cidade à noite combinam com meus olhos. Respondo: é-porque-você-nunca-me-viu-acordando-com-o-sol-em-minhas-retinas.

Você sorri, estaciona o carro na porta da tua casa e, mesmo sem me perguntar algo cliché como quer-subir, já segura na minha mão e diz aperte-o-doze-que-é-o-meu-andar e eu tenho a certeza de vez de onde você lê meus pensamentos.

Escritor, carioca e autor do romance “Um Sorriso de Oito Graus na Escala Richter”. Fã do Capitão Planeta e da Zooey Deschanel, aprendeu na marra que ser romântico é não ter pudor como quem se ama. Atualmente publica seus contos e trechos dos novos livros na página: www.facebook.com/fanpagehr

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