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Ricardo Salgado com duas
das irmãs, em 1947
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Sabe quem é o menino do
meio?
Eduardo Malta foi o
retratista da alta sociedade de meados do século passado. Amigo do avô de
Ricardo Salgado, acabaria por também o retratar em criança. Com as irmãs. Aos
três anos de idade.
Cascais, 21 de Julho de
1947. A pequena pintura de Eduardo Malta assim datada esteve exposta no início
dos anos 90 na Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva, em Lisboa. A legenda
indicava que se tratava de “Retrato de Crianças: Mary, Ricardo e Ana Maria Espírito
Santo Salgado”. Exacto: o menino louro do meio é mesmo Ricardo Salgado, neto do
banqueiro que também se chamava Ricardo e que deixou uma fundação com o seu
nome, ainda hoje instalada em Lisboa, não longe do Castelo, no Palácio de
Azurara.
O avô de Ricardo Salgado
era um homem apaixonado pelas artes e que apreciava especialmente Eduardo
Malta, um pintor que nascera, como ele, em 1900. Considerava-o mesmo um
retratista de excepção: “adoptou na sua pintura uma técnica sem artifícios,
dentro da qual consegue em alguns dos seus quadros levar a modelação da cor,
puríssima, a extremos que nunca foram excedidos”, escreveu em 1949, apenas dois
anos depois da realização daquela pequena tela, Ricardo Espírito Santo Silva.
Que acrescentava que, a seu ver, “mais do que os desenhos incomparáveis, mais
do que os elegantes retratos de pessoas célebres, são esses pequeno painéis em
que Eduardo Malta atingiu a perfeição, que garantem a imortalidade da obra e do
nome do artista”.
Não surpreende por isso
que lhe tenha encomendado vários retratos, a começar pelo seu, pintado em 1931.
O retrato da sua mulher, Mary Cohen Espírito Santo Silva, é de maiores
dimensões (uma tela de 120 por 70 centímetros) e mostra-nos uma mulher jovem,
elegante, ainda muito anos 20.
No catálogo da exposição
que assinalou, há mais de 20 anos, a reabertura da Fundação Ricardo Espírito
Santo Silva encontramos mais alguns retratos – como os do arquitecto Raul Lino,
do historiador Reynaldo dos Santos, do bailarino George Balanchine – e a já
referida pequena tela das três crianças. Mas há mais membros da família
retratados por Eduardo Malta, como uma das tias de Ricardo Salgado, Ana Maria
Espírito Santo Silva, pintada em 1948, ou a prima Maria João de Mello (quadro
de 1953).
Retratista da alta sociedade
e das grandes figuras do regime, a obra de Eduardo Malta é bastante académica e
o pintor era conhecido pela sua aversão à arte contemporânea, razão porque a
sua nomeação, em 1959, para director do Museu Nacional de Arte Contemporânea
suscitou enorme controvérsia entre artistas e críticos de arte.
Aquando da inauguração da
exposição em que esta obra esteve exposta, o então secretário de Estado da
Cultura, Pedro Santana Lopes, notou que “Ricardo Espírito Santo e Eduardo
Malta, artistas de excepcional talento e elegância, tinham uma visão
fulgurante”.
José Manuel Fernandes
Nasci a 7 de Abril de 1957
e sou jornalista desde 1976, passei por vários jornais (Voz do Povo, Expresso)
e fui fundador e, mais tarde, director do Público (de 1998 a 2009). Escrevi
vários livros, nomeadamente O Homem e o Mar, o Litoral Português (Círculo de
Leitores/Gradiva), Diálogo em Tempo de Escombros (com D. Manuel Clemente, Pedra
da Lua), Liberdade e Informação (Fundação Francisco Manuel dos Santos) e Era
Uma Vez a Revolução (Aletheia) e colaboro, como professor convidado, com o
Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa.
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