Anônimos e belos! A poesia detrás das janelas. (Publicação VIII - Renato Baptista) [Ivana Schäfer]
Olha só, já estamos na nossa oitava viagem poética e seguimos encontrando pelo caminho, poetas que encantam e nos tocam a alma... a poesia tem esse dom de alimentar a alma! Nesta oitava viagem não poderia ser diferente, então, apresento a vocês o poeta Renato Baptista.
A poesia de Renato é uma explosão de sentimentos que vai do lirismo a poesia bem humorada, que brinca com as palavras, sempre com uma dose de realismo, mas sem deixar lado a magia inerente dos versos.
"Quando o amor esta no ar...até o café vira poesia" (RB)
Renato Baptista - Escritor, nascido em São Paulo em 1957. Renato dedica-se aos poemas e escreve algumas crônicas de forma absolutamente amadora, fazendo, segundo ele, com que a vida tenha um brilho diferente.
"Produzimos ali em 5 anos algo em torno de 30.000 poemas... foi um bom tempo em que conquistei vários amigos, todos poetas, com os quais aprendi muito, mas como tudo na vida tem o seu tempo, o tempo da casa passou... passou, mas o espírito dela ficou no coração de cada um dos poetas que lá viveu cada momento."
Escrevi certa vez um Mini-Poeminha. Este foi o primeiro de uma série que batizo de "POEMINI".
Muitos Poetas aderiram a este formato e hoje publicam "Poeminis" em vários Blogs e Sites.
As regras para se escrever Poeminis são as seguintes:
1 - O Poemini deve ser acompanhado de imagem / ilustração, que é o que o inspira. O poema pode estar dentro da imagem ou abaixo dela.
2 - Poemini não tem título, apenas numeração....o Título é a própria ilustração.
3 - A composição é feita por 2 versos com no máximo 12 sílabas poéticas no total.
Pode-se fazer uma sequência que conta uma história ou um pensamento, ou vários poemas sobre um tema, mesmo não existindo ligação direta entre os textos... só neste caso o Poemini deve ser identificado por um título (apenas uma palavra) e numerado.
Pode haver dueto em forma de resposta... seguindo-se as mesmas regras do POEMINI. Nunca o dueto deve dar sequência aos versos, senão os descaracterizam, e sim, ficar abaixo da raiz como resposta ao pensamento.
Hoje acordei de sobressalto
Passei a mão nos cabelos
E penteei meus sonhos
Olhos cheios de areia
Pediam um café
E meu bocejo me levantou
Meus chinelos estavam longe
Lá... fui descalço mesmo
A barba por fazer coçava meu rosto
Quando encostava na gola suada
Da camiseta amassada como meu rosto
Acordei o dia e contra mim
Estava o sol que insistia
Em me bagunçar o olhar lacrimejante
Preparei minha xícara
Foi difícil
Porque ela se escondia de mim
Aos goles eu a venci
E agora eu já dava passos conscientes
Enquanto minha cama ainda dormia
Desafiadoramente, como sempre
Adorava me mostrar esse contraste
Para que eu me sentisse culpado
Por não abraçá-la mais
Dei bom dia ao dia
Escovei os dentes
E banhei meu corpo, agora nu
Água escorrendo aos prantos
Lavava meus sonhos inacabados.
Comecei a viver mais um pedacinho da vida...
Procuro minha sensatez
No brilho intenso da saudade
Que habita meu peito, minha vida
Canto esse meu canto distante
Choro pelos cantos
Esvazio meus versos
Que nem são mais versos
São emboladas palavras
E desfaço poesia
Derretendo sentimentos
Como asas de cera
Que desaparecem
No calor das distâncias
E nem voo mais
Não vivo, sobrevivo
Acariciando minhas dores eternas
Sóbrias, imaculadas, persistentes
Dores que são minhas
Adotadas com sobrenome e tudo
E sem rimas flutuo
Dia após dia, noite após noite
Como um cavaleiro das trevas solitário
Que tem medo do sol
Que se foi, se apagou
Ah, coração castigado
Sem sonhos
Sem vida
Que bate sangue ferido
E assim sigo, não persigo
Bebo aos goles
As sombras geladas
Dos momentos que virão
Uma por vez
Tentando não desistir
E de vez em quando
Dá aquela vontade danada
De fazer poesia
Tropeço, vadio, claudico
E só sai “despoesia”
Sem nexo, sem sentido
Sem calor, sem amor nos versos
Sem calor nas linhas
Sem rimas nem nada mais
O que resta é a saudade
Aquela que fere, machuca
Porque a vida se vai
E ela é o amor que fica
Nem sempre a poesia é justa
Nem sempre poesia brilha
Como brilha a saudade
Nem sempre a poesia tem amanhã
Como eu...
Pego-me além da atmosfera
Estendo a mão e pego a lua
Como se ela fosse bala de coco
Transgrido as leis do universo
E tomo impulso no nada
Querendo alcançar o sol
Que me lambuza como um quindim
E me desfaço em mel e coco
Como se o amanhã fosse agora
Não posso parar de flutuar
No silêncio absoluto
Abotoado de estrelas distantes
Mas que estão tão perto
Marcando meu caminho
E assim bebo o seu perfume
Que me oxigena o coração
E beija a minha alma viajante
Porque meu destino é você.
Abro os meus olhos
Um novo amanhã
Vejo o mundo embaçado
Esfrego os olhos
Tudo continua torto
As cores mudaram
As pessoas mudaram
O mundo é outro
Procuro o meu café
Ele tem outro gosto
O ar está pesado
Tudo meio distante
As pessoas mudaram
O mundo é outro
Esfrego os olhos
Agora limpo lágrimas
Elas escorrem apenas
Porque não choro
Apenas respiro
Outros cheiros
As pessoas mudaram
O mundo é outro
Piso no chão e ando
Os caminhos são outros
Os telefones mudaram
Os endereços mudaram
A cidade mudou
E eu não percebi que...
As pessoas mudaram
O mundo é outro
Ideias, pensamentos
Formatos, crenças
Avaliações, brincadeiras
Forma de amar
De beijar
De abraçar
Tudo mudou
As pessoas mudaram
E o mundo
Bem, acho que não pertenço mais a esse mundo
Ele não é mais meu
É de outros
Que permitem
Que exageram
Que não sossegam
Que não ligam
Que admiram o vazio
Que vivem
Ou apenas sobrevivem, tanto faz
Porque essas pessoas são outras
E eu não pertenço mais a esse mundo
Darei um tempo, porque já dei uma vida
Tentei, espernei, construí, criei, sofri, tentei
E o meu mundo é outro
Porque o mudaram simplesmente
Aquelas pessoas o mudaram
Então o mundo é outro
E eu já sei, não pertenço mais a esse mundo.
Um dia, lá na frente
Lerão meu poema
Esse aqui, pode ser
E ele estará mudado
Porque o mudarei
De onde estiver
O poema será outro
E as pessoas
Ah, as pessoas
Não serão mais desse mundo
Porque o terão destruído
O café, o ar, o cheiro
Os abraços, os beijos
Serão lembranças sutis
De um mundo melhor
Um que existiu um dia
Em algum lugar
E que não é mais de ninguém.
Estático, sem ação
Ouço nitidamente
O barulho do vento passando
Por entre o tronco das árvores
Estáticas
Aves sem nome
Cantam aqui, ali, lá
O verde da mata se mexe
Num ir e vir sem fim
Anunciando vida
Até o encerramento
Da estação
Copas enormes
Escondem o sol, o céu
As nuvens que dançam
Com o vento
Procuram uma brecha
Para mostrar sua brancura
Cheiro de terra molhada
Musgo, umidade, frio intenso
Até as serpentes se escondem
Dormindo enroladas
Querendo roubar os meus sonhos
E o vento frio
Corta o meu rosto
Sibilando nos meus ouvidos
Machucando meus lábios
E minha boca que grita
Procurando a tua
Crua, nua...
Bailarina do tempo
Abre o compasso
Se desfaz no palco
Dançando a música da alma, aos poucos
Frenética se alucina e gira
Sapatilha de ponta
Que fere o destino
Anuncia “gran finale”
E a melodia não pára
O suor escorre e as pernas doem
Os pés sangram
A mente se embota
É a vida que não perdoa
É a platéia que grita
E com aplausos incessantes
Induzem a continuação
A bailarina do tempo está atordoada
Seu amor não veio e nem disse adeus
Apenas ela sabe a dor da dança que protagoniza
E ela agoniza, exausta, músculos em cãimbras
A arte vira vida e morte
O palco não acaba, é imenso
A dança não termina, como o tempo
E as lágrimas brotam no rosto da dançarina da vida
Acordes soam alto
Tons estridentes aguçam os ouvidos
Arrepia a pele a lembrança do Cisne Negro
E o público sorri em devaneio
Arte por arte
Música por música
Dança por dança
E a bailarina chora a dança que ela não pôde terminar.
Esse sempre amanhã
Que chega anunciado
Vibra solene
Transborda pela borda
Escorregadia
Antes intocada
Ultrapassa o limite
Da vida que passa
Com o doce sabor
Do mais amargo destino
Que vira o amanhã
O amanhã, o amanhã
Sempre e sempre
E que não dorme nunca
Simplesmente entristece
Empalidece insone.
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