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Faz um tempo estou às voltas com maquiagens. Devo confessar que quanto a isso sou de lua. Tem épocas que tenho
vivo interesse e, de repente, um esvaziamento completo e tudo fica “nude”. Às
vezes me chateio por ser meio torta até mesmo com isso. Por que eu não posso
gostar e pronto? Fim de papo. Tenho que ficar avessando as coisas, pensando que
a palavra maquiar tem a ver com encobrir algo, quem sabe o real do corpo, quem
sabe faz parte da mascarada feminina, ai que saco. Meu marido já me disse
algumas vezes que eu devo ter sido uma adolescente insuportável. E eu era.
Talvez ainda seja.
Na
adolescência minha mãe dizia: “Menina, passe um batom! Calce um salto!”, e eu
nada. Queria contrariá-la, mas ao mesmo tempo admirava o batom que ela usava.
Antes ainda, quando estávamos mais sob seu domínio, acontecia uma coisa
engraçada. Se fazia frio, ao invés de passar manteiga de cacau em nossos lábios
(meu e da minha irmã), minha mãe passava batom, mas não só na boca como em seu
entorno. E íamos assim pra escola. As pessoas diziam “Hei meninas, o batom de
vocês está borrado”, e nós respondíamos “sim, é pra não rachar os lábios por
causa do frio”. Parecíamos duas palhaças. Foi assim que descobri que batons
borrados me incomodam.
Aos
13 anos tinha uma amiga que usava batom. Ainda me lembro que era de cor e sabor
coco, da poplove. Batom e love, tudo a ver. Foi por identificação com a amiga,
que já tinha peitos, que comecei a usar batom. O mesmo que ela, obviamente.
Usei a mesma cor por anos a fio e, antes que um chegasse no toco, eu já
encomendava outro. Não sei em que momento houve uma proliferação de batons na
minha vida. Já disse algumas vezes e repito, que é como se eu procurasse todo o
tempo aquele batom perdido da infância, o que minha mãe usava e fazia dela tão
sedutora aos meus olhos de menina que ainda ia aprender a ser mulher.
Durante
a faculdade, cheguei a vender produtos de beleza para ajudar a me manter nos
estudos. Fui à falência. Outro dia, à beira dos 30, por uma ocasião específica
precisei fazer uma maquiagem com uma profissional e de novo me vi às voltas com
os batons. Procurei na internet algumas informações sobre uma cor que eu queria
e, de repente, estava mergulhada num outro mundo de blogs sobre maquiagem e
beleza. São muitos, quase me perdi. Descobri que as moças ganham produtos para
que divulguem em seus blogs.
Então pensei no meu blog, que tem um público tão
seleto. E cogitei a ideia de abrir outro, que falasse de maquiagem, mas eu não
entendo nada de maquiagem. Mesmo assim me pus a procurar saber mais sobre os
produtos e os blogs. Como tenho o olho torto, não demorou muito pra eu
descobrir que muitas indústrias de cosméticos fazem teste com animais. Já virei
do avesso, quis pegar a bandeira e fazer protesto, jogar minhas maquiagens
fora.
Às
vezes eu só queria ser alienada e não pensar que essa minha “busca do batom
perdido” tem a ver com o livro de Proust “em busca do tempo perdido”, que tem a
ver com o batom da infância, que tem a ver com minha mãe, que tem a ver com
sedução, que tem a ver com histeria. Ai que saco. Mas ainda não desisti do blog
de maquiagem. Aí vai meu primeiro make (e isso é só o começo!), inspirado na boca de palhaço da infância,
by myself:
Isloany Machado-
Psicóloga clínica (CRP 14/03820-0) Psicanalista, membro da Escola de
Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano - Fórum do Campo Lacaniano de
MS. Especialista em Direitos Humanos pela UFGD e em Avessos Humanos pelo
Ágora Instituto Lacaniano. Mestre em Psicologia pela UFMS. Despensadora
da ciência e costuradora de palavras por opção.
Em busca do batom perdido [Isloany Machado]
Reviewed by Revista Biografia
on
setembro 24, 2014
Rating: 5
Batons, sombras, lápis: descobertas de meninas desabrochando. Muito bom o seu texto. Quando puder, dê uma passadinha no meu blog. Aguardo a visita:http://mg-perez.blogspot.com.br/ Um abração!
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Um comentário
Batons, sombras, lápis: descobertas de meninas desabrochando.
Muito bom o seu texto.
Quando puder, dê uma passadinha no meu blog. Aguardo a visita:http://mg-perez.blogspot.com.br/
Um abração!
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