Ensaio
sobre pássaros
Os
pássaros estão para o infinito, como os olhos para o azul. Há grandeza de
pássaro em tudo aquilo que é impróprio para rótulos, regras ou frascos.
Há
dias, um pássaro de vidro tem visitado aquela tal árvore de origamis.
Embrenha-se nas cores, faz canto nas formas; nas suas asas, uma infinidade de
abraços se aquecem e se doam. E a árvore sorri com todas as cores e dobras que
lhe constroem, fazendo do espinho que teima em futucar a pele, portal pro real.
Além
de libertos, os pássaros são (des) fazedores
de mistérios: ora cantam para nascer o dia, ora assoviam para chamar o
escuro. Se queres ser pássaro, haverá de saber de ventos que despertam a manhã
e/ou ninam estrelas. Haverá de ser repleto de inconstâncias, tal qual a brisa
que lhe passareia.
O que
carregam no bico, além do canto, doce alento? Ah, trazem as sementes, que
derrubadas em terra acre, farão brotar pés de vagalumes, galhos de mansidão
noturna e uma porção de olhinhos miúdos que sorriem na luz da manhã. Bico de
passarinho planta amor nos mais áridos cantos; e brota! Bico de passarinho é
baú de poesia onírica.
Quem
tem disposição para pássaro, desde cedo, deve saber que quanto mais alto e
longe for o voo, mais carregado de azul será. Carece saber, também, que as
árvores e suas copas mansas trocam as folhas, arrancam galhos e mudam. Cedo ou
tarde, também o passarinho deverá deslocar seu ninho.
Todo
aquele que se propõe a passarinhar deve ter inclinação para miudezas, tão
amplas que rasgam, e das cicatrizes ver
nascer as asas. De igual modo, aquele que se descobre pássaro deve ter
habilidade para amplidões; o vago-repleto do azul celeste. Não há de
passarinhar quem não é oximoro constante.
E
assim, o ser que pássaro se revela deve permitir-se sofrer de ventanias, de
cantarolar liberto; deve abster-se de gaiolas, jejuar de relógios e donatários.
Ser pássaro é des-ser de si e de todo outro ou ser com ele: todo.
Erika
Jane Ribeiro (Pók Ribeiro). Poeta, cronista, professora de Língua
Portuguesa com Especialização em Literatura e Cultura, oficineira, articuladora textual com adolescentes e
blogueira. Natural da cidade de Uauá – Bahia, terra iluminada pelos
vagalumes e com forte veia cultural, foi acolhida pelo Rio São Francisco
desde os idos de 2000 quando iniciou o curso de Licenciatura em Letras
pela UPE/FFPP em Petrolina - PE. Já em 2010, concluiu o curso de Direito
pela UNEB em Juazeiro – BA e, em 2012, especializou-se em Direito Penal
e Processo Penal. Amante da literatura desde sempre, começou a escrever
poemas por volta dos 12 anos. Em 2007 lançou, numa produção
independente, o livro de poemas “Noites e Vagalumes”. Atualmente, além
de poemas, escreve crônicas, memórias literárias e arrisca-se em
composições musicais, em parceria com amigos músicos. Página na
internet: Vagalumes, poesia e vida
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