Poema, de Alex Andrade
Por Isabela Lapa
Poema,
de Alex Andrade, apareceu na minha vida como uma surpresa. Uma boa e marcante surpresa...
Com 10 contos escritos de
maneira sensível e intensa, o escritor se utilizou das importantes e
inesquecíveis poesias de Ferreira Gullar, Adélia Prado, Mário Quintana etc,
para falar sobre o cotidiano, o envelhecimento, a monotonia da vida e claro, os
sentimentos.
"A
velha era nada para eles. E olhava para a porta da vizinha como se quisesse
roubar a juventude guardada dentro daquele apartamento."
(Bandeira)
Com narrativas bem
estruturadas e simplesmente deliciosas de ler, o livro é repleto de metáforas,
de influências, de referências e de análises inquietantes sobre os seres
humanos e as suas infinitas contradições. O interessante é que ao longo da
leitura de cada um deles podemos perceber sinais de algo que já lemos, mas
nunca conseguimos descobrir exatamente o que. Com isso, ao final de cada capítulo,
ele cuidadosamente coloca o poema que inspirou o conto e uma pequena biografia
do poeta em questão. Incrível, não?
Trata-se de um livro que
homenageia os poetas que já estão eternizados pelas palavras. Um livro
original, intuitivo e absolutamente envolvente. É preciso ler com calma, com
carinho e atenção, de forma a usufruir da beleza contida em cada frase, cada
parágrafo, cada texto. O livro é incrível nos pequenos detalhes, nas pequenas
visões dos personagens. A verdade é que existe poesia em tudo!
Entre as dez narrativas do
livro, Tempo de esperança me envolveu de forma particular. Com uma análise que
parte do olhar de um Senhor sobre a vida, o escritor aborda de maneira ímpar a
melancolia do envelhecimento, da solidão, da morte, da finitude e até mesmo das
palavras, que sempre estão por aí, rondando nossos dias e nossas dores.
"Depois
que o médico me olhou e me sorriu uma lástima de morte, percebi que chovia
mesmo dentro de mim sem parar."
(Tempo de esperança)
Também merece destaque a
ideia inovadora de Alex no conto A Solidão é um cão que ladra e morde. O
escritor escreveu duas versões para o mesmo título, o que mostra ao leitor que
toda história pode ter dois lados, duas interpretações, dois resultados. Tudo
depende do olhar... Nesse texto ele ainda se utilizou de uma citação do livro
Memórias de Emília, de Monteiro Lobato:
“A vida, Senhor Visconde,
é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem para de piscar,
chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um
dorme e acorda, dorme e acorda, até que dorme e não acorda mais. É portanto um
pisca-pisca.”
Sem dúvida um livro que
reflete com charme e pompa as intempéries da vida, que nem sempre se comporta
da forma como almejamos, mas que sempre nos conduz ao refúgio sossegado e
discreto da alma...
"A mulher desviou o
rosto, seus olhos pingavam feito chuva fina por um sentimento que ela não
queria rever, pediu um café bem forte ao garçom, ainda enxugou os olhos, gritou
seco para dentro, áspera de amor e de ódio."
Isabela Lapa e Kellen Pavão – Administradoras do blog Universo dos Leitores,
que fala de livros e de tudo que estiver relacionado a estes pequenos
pedaços de papel que nos transferem do mundo real para o universo dos
sonhos, das palavras e da felicidade!
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