Dicas sobre editais de
apoio à cultura
por Maurem Kayna
Como encarar editais de
apoio à cultura?
Já comentei por aqui sobre
diversas possibilidades de autopublicação com recursos próprios e através de
financiamento coletivo (crowdfunding), mas deixei para comentar sobre a via dos
editais de apoio à cultura depois de vivenciar essa experiência. Então, vamos a
ela.
Em outubro de 2013, um
anúncio nas redes sociais divulgava o serviço de apoio para elaboração deprojetos artísticos para captação de recursos. Entrei em contato e logo tive
resposta inclusive indicando um edital que estava aberto aqui no Rio Grande do
Sul. Minha primeira impressão após a
leitura do edital foi de total desânimo. Não sou uma pessoa muito hábil com
burocracias e não vou dourar a pílula, há um bocado disso em qualquer edital.
Mas calma, não descarte essa possibilidade assim tão fácil. Como a imensa
maioria dos monstros, de perto, a coisa é bem menos assustadora.
Tive algumas reuniões por
skype com o Rogers Silva e trocamos vários e-mails e mensagens pelo face até
que tomei a decisão de encarar o desafio, mas com o claro propósito de
aprendizado e não com a expectativa de ser contemplada.
Eis que a expectativa foi
superada. O projeto inscrito foi selecionado e agora estou plena atividade para
concretizá-lo. Então, resolvi dividir com vocês os desafios envolvidos nessa
alternativa de publicação.
Em tempo, o recurso
liberado pelo Fundo de Apoio à Cultura da Scretaria de Estado da Cultura do Rio
Grande do Sul permitirá a reformulação do site Labirintos Sazonais, a
disponibilização de um e-book para download gratuito, a impressão de um livro
com projeto gráfico muito especial e a realização de oficinas para fomento à
leitura em quatro cidades da região metropolitana. E tudo isso em versão
trilingue (portugês, espanhol e inglês).
Escritor x produtor
cultural
O primeiro passo, ao menos
no caso do Rio Grande do Sul, para pleitear recursos do Fundo de Apoio à
Cultura exige uma mudança de posição. De escritor@, é preciso passar ao papel
de Produtor Cultural. Não tenho ideia de todos os estados tem mecanismos e
fluxos parecidos, mas por aqui, o roteiro é, mais ou menos, o seguinte:
1- Cadastrar-se como Produtor Cultural - isso
significa correr atrás de certidões negativas nos níveis municipal, estadual e
federal; preencher cadastro e manter documentos atualizados (comprovante de
residência, currículo, PIS/PASEP, etc). É bem trabalhoso, mas nada realmente
complexo;
2- Avaliar os editais abertos para verificar
se o tipo de despesas que seu trabalho envolve pode ser contemplado. O edital11/2013 citava, dentre outras possibilidades, o apoio a “literatura: Impressão
de livro, revista e outros”;
3- Elaborar um projeto (recomendo aos
marinheiros de primeira viagem que contem com apoio de pessoas mais experientes
ou orientação profissional) que não se concentre no seu próprio umbigo (ou no
umbigo da obra), pois as contrapartidas sociais são importantíssimas para a
aprovação do projeto e não precisam (nem devem) se limitar à cedência de uma
parte da tiragem impressa para bibliotecas públicas. Use a criatividade.
4- Elaborar uma estimativa (o mais realista
possível) dos gastos envolvidos, sabendo que, do valor divulgando no edital, o
que entra na sua conta para a execução do trabalho já vem com desconto de IR e
INSS (perto de 27%)
Tudo isso gasta um tempo
considerável, exige organização e parceiros dispostos a ajudar na realização do
projeto, por isso, nunca é demais agradecer a todos que estiveram ou estão
nessa comigo como o Rogers Silva, o Marcelo Spalding, a Ana Mello, o Airton
Cattani, o Fernando e o Eduardo do Revolução E-book, a Iris Rosa e o Vitor Diel, além de outras que se envolverão nos próximos passos do projeto.
Editais da iniciativa
privada, como os da Petrobras e Itaú Cultural são, ao menos na fase de
apresentação de projeto, um pouco menos burocráticos, mas os pontos de atenção
quanto às contrapartidas sociais são os mesmos.
O que significa receber
recursos de programas de apoio à cultura?
Antes de qualquer coisa, é
bom lembrar que a publicação em si deixa de ser o aspecto central nesse
cenário. Se você recebe dinheiro do Estado, ou melhor, da sociedade (ou mesmo
de uma fundação privada), é importante que ele seja bem empregado e que exista
uma contrapartida relevante para a sociedade. Um percentual dos livros
impressos deve ser entregue a bibliotecas públicas, mas provavelmente se essa
for a única contrapartida oferecida, o projeto não será aprovado.
Mas além da questão,
digamos… moral, é importante estar ciente de que, em geral, as regras para uso
do recurso são rígidas. Organização para controlar o dinheiro e prestar contas
dentro das especificações estabelecidas é imprescindível. Ainda que você conte
com o apoio de um contador (em muitos casos isso é obrigatório), é quem recebe
o recurso que precisa controlar todos os gastos e manter as notas e recibos.
Outro aspecto interessante
é que, embora o critério literário não seja o único que conta para definir a
quem se destinará o recurso previsto em cada edital, existe uma avaliação
qualitativa que serve, de certo modo, como chancela à obra. E, como comentei na
análise sobre a pressa em publicar, isso não é algo irrelevante. Eu mesma não
posso negar que mesmo depois de ter participado de coletâneas (tanto impressas
como digitais), de ter lançado alguns títulos em formato digital e contribuir
em diversos sites literários estar na iminência de concretizar uma publicação
no formato impresso dá um certo frio na barriga. Essa “validação” externa que a
publicação totalmente independe não oferece produz sim algum afago no ego (mas
é fundamental não se deixar levar por essa fugaz e limitada “aprovação”). E,
sejamos francos, se até Virginia Woolf era insegura quanto à recepção a seus
textos, porque algum de nós seria indiferente à aprovação de suas produções?
Onde conferir editais para publicações?
Fumproarte
Pró-Cultura RS
Itaú Cultural
Petrobras
Maurem
Kayna é engenheira florestal, baila flamenco e se interessa por literatura
desde criança. Depois de publicações em coletâneas, revistas e portais de
literatura na web resolveu apostar na publicação em e-book e começou a se
interessar por tudo que orbita o tema, por acreditar que essa forma de
publicação pode ser uma das chances de aumentar o número de leitores no Brasil.
Autora da coletânea de contos Pedaços de Possibilidade, viabilizado pela
iniciativa da Simplíssimo. Sites: mauremkayna@uol.com.br
- mauremkayna.com/ - twitter.com/mauremk
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