Particle
Fever
Apaixonante
"Particle Fever", documentário de Mark Levinson sobre o LHC (Large
Hadron Collider), a maior geringonça já criada pela humanidade que se estende
pela fronteira entre a França e a Suíça.
O objetivo dela era
reproduzir o instante após o Big Bang, quando as coisas começaram a se
chocar por aqui... Foram 20 anos construindo o LHC para ver o que aconteceu, no
micro do micro, há uns 14 bilhões de anos. Eles queriam descobrir o Bóson
de Higgs, até então uma hipótese: a partícula serviria como uma geleca
invisível capaz de juntar as demais partículas na constituição da matéria. É
simplesmente o que estrutura tudo.
Então, em 2012,
girando em sentidos opostos, em altíssima velocidade, lá foram os prótons para
o abraço derradeiro... e pimba! Lá estava o Bóson de Higgs gerando ainda mais
confusão entre os físicos... Nada de uma resposta definitiva sobre a estrutura
do universo. Ele manteve em suspensão os cientistas que defendem a teoria
da supersimetria; e, também, os que defendem o multiverso. Riu gostoso da nossa
dúvida: "ordem ou caos"?
O documentário é
divertidíssimo porque mostra os embates, as expectativas e a torcida dos
pesquisadores do Cen e dos físicos teóricos na busca pela comprovação empírica
de suas teorias. Ao acompanhar o cotidiano de alguns fica muito evidente a
paixão e a dimensão do salto científico que vamos dar daqui para frente.
Outro aspecto bacana é
a questão do investimento em ciência à revelia do retorno econômico imediato que
uma descoberta dessas vai trazer. Esse pragmatismo econômico, essa lógica do
retorno e do lucro acabam se liquefazendo diante dos mistérios que estão aí
para desvendar. É uma outra perspectiva, muito mais próxima da arte - "por
que pintamos um quadro? por que fazemos ciência?" exemplificam os
cientistas. Com bom ritmo e boa dose de romantismo, claro, o documentário
nos convida a participar da aventura.
Se como eu, você foi
um total desastre em Física e passou a vida falando mal dos nerds que não eram,
garanto que você vai morrer de inveja e aplaudir a linguagem mágica daquelas
equações tão indecifráveis quanto a escrita indo-europeia... Pelo menos para
você. O fato é que a Física é linda. Idioma destinado a raros. Esses
escribas pós-modernos, geniais e malucos, tradutores de mistérios. Perdoo a
arrogância deles, rendida pelo idealismo da ciência, pelas lágrimas discretas
do Peter Higgs quando anunciaram a descoberta.
Conquistas
deliciosamente exploradas pela câmera de Levinson:
PS: quem tiver Netflix, busque Particle Fever em
documentários.
Tatiana Carlotti. Balzaquiana convicta e amante das letras. Existe neste contínuo espaço/tempo, sem muita pretensão de eternidade. No momento pulsa, quatro andares acima do solo, no centro de São Paulo. “Venta, eu gosto”. Ainda sonha... Site: SobremargenS.
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