Nunca se falou tanto na
imprensa sobre a questão do consumismo. Poderíamos apontar um número elevado de
pessoas e instituições particulares e públicas que se beneficiam com o consumo.
Isto é ótimo. Para os que produzem e para os que consumem, o consumo é benéfico
e absolutamente necessário.
Hoje temos uma gama nunca
pensada de produtos a nosso dispor – do simples ferro elétrico aos
computadores; do arroz com feijão ao fast-food – produzidos para facilitar
nosso cotidiano. A gastronomia, a comunicação, a telefonia, os serviços, tudo
vem aumentando o quadro de acesso a tantos consumidores. Indistintamente.
Eu me preparava para
proferir palestra sobre o tema na Feira do Livro, quando dei com a seguinte
reportagem publicada em jornal: “Nosso imaginário é muito fácil de ser
manipulado” – uma compulsão contemporânea generalizada, de Ana Beatriz Barbosa
Silva, escritora e psiquiatra, autora da obra “Mentes Consumistas”.
A autora explica que temos
no cérebro, o sistema do medo ligado à sobrevivência e o sistema da recompensa,
ligado ao prazer. Que o consumo deixa de ser benéfico, quando em excesso, seja
lá do que for: bebida, comida, compras. Consumismo é o consumo excessivo ligado
à recompensa e ao prazer. O estímulo a ter cada vez mais e mais para garantir o
prazer imediato pode chegar ao comportamento compulsivo. E isto é mau.
O pior é que vivemos uma
política que insiste em fazer crescer a economia fazendo crescer o consumo.
Nosso imaginário está aberto a essa máquina político/social que nos convence a
adquirir – o objeto mais moderno, o mais fácil, o mais completo e daí por
diante – sem os quais ficaremos inadaptados, desatualizados, discriminados e
infelizes. Mesmo que tenhamos o bom e útil para nossas necessidades. Daí que
vemos aumentar, em ritmo acelerado, o percentual de pessoas obesas, doentes e
endividadas.
A indústria infantil, em especial,
manipula as mentes infantis, jogando baixo com aquilo que a criança tem de mais
precioso – sua curiosidade e seu imaginário. E incita pais do presente a criarem
consumidores compulsivos do futuro.
Na consulta de literatura
voltada para crianças e jovens que realizei, encontrei poucos livros onde o
tema aparece, como tema principal ou diluído no decorrer da narrativa. A forma
de abordagem escolhida pelo autor da obra foi decisiva para minha seleção, uma
vez que a abordagem literária de assuntos considerados polêmicos, não pode
discriminar, ou julgar ou ainda sugerir ou ensinar o que é ou não correto. A
importância da literatura em abordar o consumismo deve-se, exclusivamente à possibilidade
de discussão através do diálogo entre alunos e professor e entre filhos e pais.
Possibilidade que acredito
possa ser facilitada através da leitura com foco no personagem – suas dúvidas,
conquistas, medos – e nas situações ficcionais em que o personagem se depara e
que o direciona na busca de soluções.
A literatura é fenômeno que
representa o mundo, a vida e o homem por meio da palavra. Acredito que
escritores possam criar, com foco ou referência nessa questão, de um jeito
lúdico para os pequenos e mais esclarecedor para os jovens. Priorizando
abordagem literária, o que significa desenvolver histórias de forma libertária,
sem preconceitos e sem didatismo.
Valer-se da literatura como
oportunidade para discussão e tomada de posição em sala de aula ou na mesa de
refeições é o papel que cabe, respectivamente, a professores e pais responsáveis.
Estes, os verdadeiros condutores e formadores de comportamentos saudáveis na
criança e no jovem.
Fonte:
Jacira Fagundes é professora
e escritora. A trajetória literária, encarada como ofício, teve começo em 2002,
com a premiação do conto “Noite fria de vigília”, quando do lançamento do
Prêmio Literário Nova Prova – 20 anos. Ficou entre os quinze autores
selecionados e seu texto foi publicado em obra da Editora.
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