Idiossincrasia
As palavras
são estes seres saltitantes e libertinos, cheios de cores e gostos bem exóticos
e, quase sempre, estão se enfiando em nossa língua ou dançando em nossos dedos.
Quando você, desatentamente, a encontra ela ri de soslaio, faz careta, reboliça
suas ideias, sapateia nos teus versos e não mais sairá de você enquanto não
trajetar pela ideia-verso-mundo. Palavra é bicho cheio de vontade. A
idiossincrasia ainda gargalha de mim; ou palavra que me mexe!
A primeira vez
que me bati com a idiossincrasia, nem me lembro, mas dever de ter sido num
desses divãs virtuais em que as pessoas escrevem tudo. E ela nem me olhou. Nas
vezes seguintes, nos topamos, talvez como ébrio em esquinas e nem nos notamos.
Dias depois,
tornei a espioná-la, meio voyeur, porém nada guardei na memória. Ela era
individualista demais, una, e eu, ainda sem transformações, só enxergava os
cortiços e colmeias inférteis.
A vez
derradeira, e mais intensa, que encontrei a idiossincrasia, ela balançava no arroxeado
de um vestido pendurado, naquela porta de vidro. Tão nítida, tão livre, que
jamais imaginou ser. Ante meus olhos sonâmbulos, aquele roxo fluído, repetindo
os movimentos do corpo que há pouco guardava, era o idiossincrasismo mais puro
(se é que há purismo).
Mal
pestanejei e o vento forte derrubou a idiossincrasia desvestida, no chão frio.
Não reclamou, de nada queixou-se, amofinada
nos fios estampados, e, mais uma vez fui dormir com o gosto de não (re)conhecer
a Idiossincrasia.
Ela
era eu, mas não permitia que me visse. Tinha medo que eu acabasse fugindo de
mim e abandonando-a no Dicionário reformado.
Erika Jane Ribeiro (Pók Ribeiro). Poeta, cronista, professora de Língua Portuguesa com Especialização em Literatura e Cultura, oficineira, articuladora textual com adolescentes e blogueira. Natural da cidade de Uauá – Bahia, terra iluminada pelos vagalumes e com forte veia cultural, foi acolhida pelo Rio São Francisco desde os idos de 2000 quando iniciou o curso de Licenciatura em Letras pela UPE/FFPP em Petrolina - PE. Já em 2010, concluiu o curso de Direito pela UNEB em Juazeiro – BA e, em 2012, especializou-se em Direito Penal e Processo Penal. Amante da literatura desde sempre, começou a escrever poemas por volta dos 12 anos. Em 2007 lançou, numa produção independente, o livro de poemas “Noites e Vagalumes”. Atualmente, além de poemas, escreve crônicas, memórias literárias e arrisca-se em composições musicais, em parceria com amigos músicos. Página na internet: Vagalumes, poesia e vida
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