Dos classificados à
literatura digital
A literatura digital veio
para ficar?
Estaremos assistindo uma
fase de transição na literatura que vai se tornar irreversível e tornar a
literatura digital ou as obras multimídia o modelo dominante da produção
textual ou os experimentos que hoje vemos serão exemplos perdidos neste período
do tempo que serão substituídos por coisa totalmente distinta, a exemplo do que
aconteceu com o video laser (quem lembrar disso denunciará sua faixa etária)? O
lançamento de obras criadas pra leitura no meio digital que muitas vezes podem
sequer possuir uma versão impressa ou se esta existe exige grandes adaptações
já não é evento raro, mesmo aqui no Brasil. Assim, mesmo que não possamos (e
sequer desejos) fazer prognósticos, vale a pena entender um pouco essa
transição do ponto de vista do autor. No caso desse post, autora.
Tenho acompanhado desde o
início de sua criação, a história do romance mumtimídia de Claudia Grechi
Steiner e achei que valia a pena partilhar aqui com vocês a conversa-entrevista
que fiz com ela para entender um pouco mais das motivações e dos desafios que
ela enfrentou na criação da obra.
Conheça Castelo Schweistein
e sua autora
A seguir entrevista com a
autora da obra de literatura digital, ou romance multimídia, como prefiram,
Claudia G. Steiner.
MK: Eu lembro de seus posts no facebbok contando
que a ideia para escrever Castelo Schweistein veio ao ler um anúncio de jornal.
Isso me despertou a curiosidade para a história que surgiria, mas ao acompanhar
alguns capítulos e as publicações da Página da obra no fiquei também curiosa em
saber se a ideia de desenvolver não apenas o texto mas uma obra que incorpora
outras mídias já estava presente desde o começo.
Claudia: Sim, a ideia de
incorporar outras mídias já estava presente desde o início. A primeira
inspiração veio do aníncio de jornal (publicado no jornal do estado em que
moro, Aargau, na Suíça, procurando um zelador para um castelo. Achei muito
interessante e quando fui ver no Google onde ficava o castelo, me dei conta que
tinha vista para a torre de resfriamento de uma usina nuclear!). Logo após eu
ver esse anúncio, combinei de escrever um conto para o selo Formas Breves, que
tem a curadoria do Carlos Henrique Schroeder e faz parte da e-galaxia (a maior
editora brasileira de digitais). Escrevi o conto Franziska e desse conto surgiu
toda a história de Castelo Schweinstein, uma fábula ao contrário (ninguém é o
que parece e nenhum personagem encarna o heroi) que reflete sobre a
desigualdade no mundo (para ser beeem sucinta). Desde que fiz o Só o pó e
descobri como é interessante trabalhar os recursos do digital, nem penso mais
em escrever sem o apoio de recursos multimídias!
MK: Sempre que penso,
pesquiso e discuto a autopublicação, vejo muita gente subestimar o envolvimento
e volume de trabalho que isso representa. Mais que isso, há certa confusão
entre autopublicação versus centralização de todos as etapas do trabalho. No
seu caso, porque a aposta na autopublicação? E quanto do trabalho você abraçou
sozinha, quanto envolveu parcerias com profissionais específicos?
Claudia: Eu fiquei um ano fazendo
o Castelo Schweinstein, alguns vídeos foram gravados na capela de Ronchamp, do
Le Corbusier, no interior da França, fotografei na Suíça, Austria e Alemanha.
Eu escrevi o romance aos poucos, dividi em episódios, lancei os dois primeiros
episódios na Amazon e o romance completo (com 3 episódios – a divisão em
episódios é proposital para que o leitor possa fazer uma pausa sem perder o fio
da meada). Os dois primeiros episódios são apenas com os textos. O Castelo
Schweinstein completo tem os episódios todos com fotos e vídeos. Para isso eu
contei com a produção do Jose Fernando Tavares da Booknando que formatou o
e-book em e-pub 3. Também fiz uma parceria nas vendas, o e-book está hospedado
na e-galaxia, a editora que foca e investe no digital e conta com um ótimo
acervo literário.
MK: Você mesma gravou e
editou os videos? Se sim, tem formação na área? Se não, foi serviço contratado
ou algum tipo de parceria?
Claudia: Eu gravei todos os
vídeos e editei sozinha (a edição é fraca, dá pra ver que é meio mambembe,
coisa caseira mesmo). Não tenho formação nenhuma na área e uso uma câmera Casio
super barata e pequena (levo sempre comigo), Nisso um patrocínio faria muita
diferença, poder pagar alguém bom que editasse, daria uma cara mais
“profissional” (uma boa edição é demorada, não dá pra pedir para um amigo fazer
de graça).
e-book com vídeo embutido –
visualização no iBooks
MK: Esta não é sua primeira
obra concebida para o meio digital, você pensa em criar exclusivamente nesse
formato ou acredita que ainda há motivação e espaço para literatura
“tradicional”
Claudia: Só penso em criar
para o digital! Fui contaminada! rs Por que é muito criativo, muito legal criar
usando outros recursos além do texto. Uma pena que os aplicativos ainda sejam caros
demais para serem feitos. O ideal, na verdade, seria publicar como aplicativo
(dá para criar muito mais do que no e-pub 3) mas daí seria um investimento
enorme (teria que ser feito pra ios e androide) para uma plataforma pouquíssimo
usada no Brasil.
MK : Qual sua expectativa de
alcance de público e perfil do público alvo?
Claudia: Minha expectativa
de público é sempre baixa porque o lado ruim de ser independente é esse: você
trabalha a divulgação sozinha, como consegue e acaba atingindo pouca gente. Mesmo
assim sei que estamos (eu, você e pouquíssimos outros autores) marcando
presença e história como pioneiros nisso ( lógico que já tem muita literatura
digital como poesia e experimentos que unem texto, som e imagens – há décadas –
mas a gente trabalha com textos longos, contando histórias, é uma grande
diferença)
MK: Vi que você optou por
não aderir ao KDP Select da Amazon. Pode comentar suas razões?
Claudia: Não aderi porque
eles pedem exclusividade e não teria como colocar na Apple, Kobo etc… Só por isso,
por que o KDP Select é excelente e traz um bom retorno ao autor.
Ficou curios@? Nos links
abaixo você encontra o caminho para o Castelo Schweinstein nas lojas online
onde a obra está disponível:
Castelo Schweinstein – Cap.
1
Fonte:
Maurem Kayna é engenheira florestal, baila flamenco e se interessa por literatura desde criança. Depois de publicações em coletâneas, revistas e portais de literatura na web resolveu apostar na publicação em e-book e começou a se interessar por tudo que orbita o tema, por acreditar que essa forma de publicação pode ser uma das chances de aumentar o número de leitores no Brasil. Autora da coletânea de contos Pedaços de Possibilidade, viabilizado pela iniciativa da Simplíssimo. Sites: mauremkayna@uol.com.br -mauremkayna.com/ - twitter.com/mauremk
Nenhum comentário
Postar um comentário