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Deixe Ir [Dy Eiterer]

Deixe Ir

Não morava em Pasárgada. Não era amiga do rei. Nem sonhava noites longas e quentes, muito menos em ir para lá de Bagdá.

Era comum. Como todas as outras milhares de pessoas com as quais cruzamos os olhares nas infindáveis esquinas que atravessamos. 

Só havia uma diferença. Uma certa filosofia que brotara em sua cabeça naquela manhã, como essas ervas daninhas que sufocam a planta boa, essa ideia recém-chegada à cuca ia sufocando os outros pensamentos. 

Era uma ideia de liberdade. Na verdade de deixar ir. Trânsito livre, porta aberta, sinal aberto, corda sem nó, portão sem trinco, cadeado escangalhado. 

Coisa de quem ouve música nova no meio da madrugada. Coisa de quem pensa diferente do resto do mundo e que fica matutando sobre os seus próprios botões.
A ideia nova era a de que quem deixa ir vive mais, melhor e conquista vitórias que são pra sempre. A ideia era deixar-se ao sabor do vento, das marés, das horas, segui olhando para frente, buscando os faróis longínquos. 

Para as velas que são abertas, o vento só pode trazer novidades! E pensou-se uma embarcação, dessas que parecem estar à deriva, mas que sabe bem onde quer chegar. Que tem como meta pousa lá na linha azul entre céu e mar e segue. 

E, agora que se assumira como embarcação, podia repousar nas bordas de si e olhar para o lado, descobrir as obviedades cotidianas que não percebia. Podia ver que em certos momentos era necessário velar, de leve, certas evidências, só pelo prazer de se buscar, só pelo alívio do deixar de lado, da despreocupação. 

Agora que podia desfrutar das paisagens, deixando-se ir, esticava-se na ponta dos pés para olhar para mais adiante, onde o vento fazia a curva, onde os planos esperavam dobrados sobre a mesa. 

Traçava planos, mas deixava-se ir, aos sabores do mar em que navegava, aceitando sua condição, seu tempo, seu ritmo, libertando-se de todos os rótulos que pudessem lhe prender, limitar, atrofiar. 

Ser embarcação! Deixar ir para sempre ter! esticar-se na ponta dos pés e contemplar os dias vindouros despreocupadamente, bebendo a vida gota a gora. Ideias recém-brotadas na cabeça, filosofia de vida, de mar, de além.


Dy Eiterer - Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil. Edylane é Edylane desde 20 de novembro de 1984. Não ia ter esse nome, mas sua mãe, na última hora, escreveu desse jeito, com "y", e disse que assim seria. Foi feito. Essa mocinha que ama História, música e poesia hoje tem um príncipe só seu, seu filho Heitor. Ela canta o dia todo, gosta de dançar - dança do ventre - e escreve pra aliviar a alma. Ama a vida e não gosta de nada morno, porque a vida deve ser intensa. Site:Dy Vagando

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