AS MULHERES POETAS NA
LITERATURA BRASILEIRA (42ªpostagem)
IRACY GENTILI (1930-2002)
poeta e artista plástica, integrou o movimento Catequese Poética, iniciado em
1964 pelo poeta catarinense Lindolf Bell. Foi morar em Salvador na década de 70
e criou uma galeria de arte que acabou sendo ponto de encontro de muitos
artistas.Publicou Os Rumos(1964)
A tudo direi, sim,
Sem nenhuma importância.
Saberá alguém dos silêncios
dos cofres cheios de miçangas
Em símbolos de vidro, mais
que a verdade caberá.
A tudo sorrirei
Recolhendo as esperas.
Ninguém perceberá a urgência
de ontem.
Às noites com piedades tão
cruas
Pedirei que antecipem as
anmarras do voo.
Caminharei cansada, sem
flores nos meus cantos,
Pois cairemos, eu sei,
Folha por folha,
E o verde se perderá num
excesso de odor.
Quem armazenará o fruto,
nestes campos estéreis,
Se as flores distribuem-se
vestidas de verdade?
A tudo hei de jazer calada
Num silêncio pletórico de
cardos.
Alguém inventará gestações
de mármores e bronzes.
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..
Assim seremos, tigres,
E no jângal deslizaremos em
combates.
Assim seremos, faunos,
E nas campinas dançaremos a
aurora.
Ah! Tivéssemos jamais amado,
E alguma rosa teria lâmpadas
de riso,
Em alguma árvores seríamos
mais sóis.
Assim estaremos, cansados
Dos templos que fizemos em
segredo.
Das preces, todas elas sem
resposta.
Os deuses dormem!
Assim extinguiremos.
Unos, com tudo o que nos
mata.
Uno, com tudo o que matamos.
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...
Eu falarei
De todas as ternuras
Que te pertenceriam
Eu falarei
Das flores e dos frutos
Que abrigarias nos dedos
Eu falarei
De todas as canções
Que ouvirias crescer
Eu falarei
Das paisagens, muitas
Que se abririam, claras,
para ti.
Eu falarei
De estrelas, incontáveis
Que no teu céu aos poucos
morrerão
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Brancos são os olhos das
mulheres
Brancas as paisagens
O céu todo branco
arqueando-se em horizontes.
Brancos homens? Brancas
ruas?
Onde estão as cores da vida?
O sol quer se por e nada
mudou!
Sempre a alvura infinita
Distendendo-se em toda a
parte
Os olhos cansam de ver
Sempre a mesma paisagem.
Ele.—o que tinha azul nos
olhos
Que tanto me assombraram
Que branca lembrança me
deixou!
Ah! Este tédio branco ao meu
encalço
Onde tudo é loucura,
Este longínquo marulhar de
vozes veladas
Que passam por mim
E este sussurro de harmonia
extinta.
RENI CARDOSO (1945-2008)
poeta paulista, atriz, professora, pesquisadora e tradutora. Também integrou o
movimento Catequese Poética nos anos 60. Fez mestrado e doutorado na USP e
destacou-se como grande especialista em teatro russo.
O CAMINHO
Não é medo de chegar
sozinha:
é medo de não chegar.
Não é angústia de saber
longa a estrada:
é de não saber escolher
entre todas
a verdadeira.
Oh! Meu segredo inviolável!
O longo mapa a percorrer!
Quantas vezes penso ter
chegado à paz
e é apenas uma encruzilhada.
CARTAS A ALESSANDRO
1
O trem partiu.
A princípio pensei
No teu rosto.
Depois, que não existias.
No final, deixei de sentir.
Tua mão acenou
E vi que eras incomparável
-o único.
2
Ontem à noite
Fui colher uvas
E a uveira não deixou.
Hoje de manhã
Os meninos roubaram
Minhas uvas
-todas.
3
Estou como num hotel.
Redescubro conversas de um
dia anterior
E sei que alguma festa está
no fim.
Converso com tua voz
De trás de uma coluna
Para sempre.
NILZA BARUDE (1946) poeta
paulista, fez parte da Catequese Poética e atuou como jornalista em São Paulo e
na Bahia. Dirigiu, criou e apresentou programas na TV. Recebeu título de Cidadã
da Cidade de Salvador e publicou Amor/Ação(1995), Contos &Cartas Memórias
de um Coração e Reticências (2011).É também artista plástica.
6
Calcei os chinelos
velhos de deus
E caminhei pelas águas
Pela mão de todos os meus
irmãos,
E dançamos a ciranda das
ondas junto com todos os peixes
Depois,
Exaustos
E em paz,
Deitamos no leito marinho
Entre algas.
Adormecemos para acordar
Ao lado dos velhos chinelos.
34
A cama vazia não me
Angustia mais,
Posso dormir em paz.
Tua ausência já não tem
peso.
O meu ser
É metal fino e precioso,
vale mais na bolsa de
valores
da vida.
Minhas ações estão na ordem
do dia.
Nada a temer,
Adeus.
44
Eu tenho todas as raças
liquidadas em meu sangue,
Eu tenho todos os povos
tombados em meus braços,
Eu tenho o estigma desse
tempo,
E tenho o sangue e a terra
misturando-se e restaurando-se
In memorian.
Eu tenho as trincheiras nas
costas e asas nos pés,
Que me levam a todos os
continentes.
Eu tenho em cada olho uma
bomba detonada,
E na boca uma granada por
explodir.
Eu sou o produto desse tempo
discutido em dialética.
Eu sou a hipótese e a
síntese matemática dos acontecimentos.
Eu sou a criança metralhada,
Eu sou a angústia da
humanidade toda,
Que se desfaz,
Aprendendo a morte,
Dia a dia.
Rubens Jardim,
67 anos, jornalista e poeta. Foi redator chefe Gazeta da Lapa e
trabalhou no Diário Popular, Editora Abril e Gazeta Mercantil.
Participou de várias antologias e é autor de três livros de poemas:
ULTIMATUM (1966), ESPELHO RISCADO (1978)e CANTARES DA PAIXÃO (2008).
Promoveu e organizou o ANO JORGE DE LIMA em 1973, em comemoração aos 80
anos do nascimento do poeta, evento que contou com o apoio de Carlos
Drummond de Andrade, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Raduan
Nassar e outras figuras importantes da literatura do Brasil. Organizou e
publicou JORGE, 8O ANOS - uma espécie de iniciação à parte menos
conhecida e divulgada da obra do poeta alagoano. Integrou o movimento
CATEQUESE POÉTICA, iniciado por Lindolf Bell em 1964, cujo lema era: o
lugar do poeta é onde possa inquietar. O lugar do poema são todos os
lugares... Participou da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília
(2008) com poemas visuais no Museu Nacional e na Biblioteca Nacional.
Fez também leituras no café Balaio, Rayuela Bistrô e Barca Brasília. E
participou da Mini Feira do Livro, com o lançamento de Carta ao Homem do
Sertão, livro-homenagem ao centenário de Guimarães Rosa. Teve poemas
publicados na plaquete Fora da Estante, (2012), coleção Poesia Viva, do
Centro Cultural São Paulo. Páginas na Internet: Site: Rubens Jardim e Facebook: Rubens Jardim
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