Protocolos [Dy Eiterer]
Chega de meras formalidades sociais. Basta de tantos protocolos. A mim, interessam as espontaneidades. Ou oferece-me o que se tem de melhor, os sorrisos e as conversas sem rumo, ou não interrompa meus silêncios.
Quanto aos seus silêncios, colecione-os como quiser ou como puder: cada um que se aguente, que tolere as próprias manias, mas não queira estender a mim as práticas típicas de repartições monótonas. Não tenho vocação para nada do que é repetitivo.
Tenho problemas de adequação a essa preguiça que assola seus dias e impede cafés e cheiros. Ainda prefiro as correrias de abraços furtivos e beijos roubados, displicentes, mas presentes. Perpétuos lampejos na memória de quem sabe o que quer ou descobriu-se no meio do caminho.
Defendo-me dessa carranca que não vejo, mas pressinto, que acompanha aquele típico “a gente se vê” que nunca se permite acontecer. Uso um patuá infalível para esses maus agouros em forma de pressa: chama-se compromisso. Ouso marcar e cumprir, espantando toda a sorte de azar-o-de-quem-não-veio. Tenho palavra.
Gosto da palavra como se ela fosse parte minha. Extensão minha. Documento meu. Mais sagrados que o Livro. Honraria de maior grau que não distribuo gratuitamente por reconhecer o seu valor, que resgato quando a lanço refém de meus desejos e promessas.
Afasto-me de ataques de cinismos e ironias pobres, fantasiadas como pierrô entristecido. Sou, ao contrário, a Colombina brincalhona que se diverte com outras figuras – de linguagens – e escorrega nas entrelinhas tão claras quanto suas assertivas.
Cansa-me toda essa embromação contemporânea dos desinteresses nossos de cada dia. Prefiro, a despeito desse enrolo, desfiar minhas horas com a poesia. Ganho mais, cultivo harmonia.
A quem não sabe dizer um não ou cala sem certeza, lamento os momentos de recaídas. Não bastarão. Não soarão diferentes do que são: meros protocolos das vontades não sabidas, escondidas, contidas, mal resolvidas ou inventadas. Nenhuma intervenção as salvará. Nenhum meio de campo mudará aquela primeira impressão mecânica que se fez.
Teço paciência com fios de silêncio só até quando me convém. E, convenhamos, o tic-tac do relógio cobra a sua conta muito mais rápido do que parece e logo o tal silêncio vira tédio e a paciência se esvai.
Felizmente tenho rompantes de euforia que espantam toda a monotonia e me relembram que não gosto dos protocolos. E os devolvo a você, no mesmo endereço, para não errar o destinatário. Que se procure outra repartição. Aqui comigo nada é repartido. Tudo é por inteiro.
Dy Eiterer - Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil. Edylane é Edylane desde 20 de novembro de 1984. Não ia ter esse nome, mas sua mãe, na última hora, escreveu desse jeito, com "y", e disse que assim seria. Foi feito. Essa mocinha que ama História, música e poesia hoje tem um príncipe só seu, seu filho Heitor. Ela canta o dia todo, gosta de dançar - dança do ventre - e escreve pra aliviar a alma. Ama a vida e não gosta de nada morno, porque a vida deve ser intensa. Site:Dy Vagando
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