O POEMA [Niels Hav - Poeta Dinamarquês]
Não ponha as mãos do poema
algemadas às costas: Teje preso!
O poema se nega a cumprir ordens.
O poema se sente mal na solitária.
O poema vagueia pelos subúrbios,
revira o lixo dos outros,
anda com uma pistola.
O poema desconfia do direito e dos tribunais
mas confia cegamente numa ética mais elevada.
O poema discute com transeuntes aleatórios,
se enfia nas repartições
com queixas infames, não tem
respeito algum. Cheira mal
(a merda e a rosas).
O poema faz fila com gosto para aguardar a tempestade.
O poema passa as noites na solidão
e num bárbaro frenesi.
O poema é visto nos aeroportos
e a bordo de balsas superlotadas.
O poema é extremamente político, porém detesta
a política.
O poema é um resmungão
que só abre a boca em raras ocasiões.
O poema bota água no chope.
O poema gosta de tirar o casaco e sair
ao relento.
O nervosismo é indissociável
do poema.
© Niels Hav Tradução Luciano Dutra & Francesca Cricelli
Um comentário
Postagem magnífica,li e foi como se eu tivesse sendo magicamente transportada e sentindo a magia do poema, pois o poema é mesmo tudo isso, tudo tem poesia, tudo!
Amei ler!
Abraços apertados!
Postar um comentário