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O POEMA [Niels Hav - Poeta Dinamarquês]

 O POEMA


Não ponha as mãos do poema
algemadas às costas: Teje preso!
O poema se nega a cumprir ordens.
O poema se sente mal na solitária.
O poema vagueia pelos subúrbios,
revira o lixo dos outros,
anda com uma pistola.
O poema desconfia do direito e dos tribunais
mas confia cegamente numa ética mais elevada.
O poema discute com transeuntes aleatórios,
se enfia nas repartições
com queixas infames, não tem
respeito algum. Cheira mal
(a merda e a rosas).


O poema faz fila com gosto para aguardar a tempestade.
O poema passa as noites na solidão
e num bárbaro frenesi.
O poema é visto nos aeroportos
e a bordo de balsas superlotadas.
O poema é extremamente político, porém detesta
a política.
O poema é um resmungão
que só abre a boca em raras ocasiões.
O poema bota água no chope.
O poema gosta de tirar o casaco e sair
ao relento.
O nervosismo é indissociável
do poema.

© Niels Hav 

Tradução Luciano Dutra & Francesca Cricelli

Niels Hav é um poeta dinamarquês considerado uma das mais importantes vozes da poesia nórdica contemporânea. Traduzido em mais de 10 línguas, o autor está a ser publicado em português pela primeira vez numa obra lançada em Agosto, no Brasil, pela editora Penalux.  A obra “A alma dança em seu berço” traz uma coletânea de poemas que abordam o envelhecimento e a existência com humor e serenidade.

Um comentário

Ivone disse...

Postagem magnífica,li e foi como se eu tivesse sendo magicamente transportada e sentindo a magia do poema, pois o poema é mesmo tudo isso, tudo tem poesia, tudo!
Amei ler!
Abraços apertados!