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LOVELY RITA: ARTISTAS FALAM SOBRE RITA LEE


Lovely Rita: artistas falam sobre Rita Lee

Cantora morreu dia 8 de maio, aos 75 anos, de câncer de pulmão; artistas falam sobre a importância dela em suas vidas
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A cantora foi velada ao longo do dia 10 de maio, no Planetário do Parque Ibirapuera, com velório aberto aos fãs das 10h às 17h. A cerimônia de cremação foi restrita à família e aos amigos mais próximos.

O Itaú Cultural conversou com alguns artistas para que eles falassem sobre a importância de Rita Lee para suas vidas e para a cultura brasileira.

Rita Lee e Sérgio Dias, na época da banda Os Mutantes (imagem: Correio da Manhã/Arquivo Nacional)


Zélia Duncan, cantora (em 2006 e 2007, integrou a formação de Os Mutantes em turnê)

Zélia Duncan cantou com Os Mutantes em 2006 e 2007 (imagem: Roberto Setton)

Rita, antítese dos caretas. Rita irrita o marasmo. Rita Lee, te levo comigo, com as asas que você me deu!


Ronnie Von, cantor, compositor e apresentador (deu o nome ao grupo Os Mutantes, do qual Rita Lee fez parte com Arnaldo Baptista e Sérgio Dias)

Que dia! Chego em casa do meu programa, entro em casa e a primeira notícia que me dão: Ritinha tinha ido para o andar de cima. Ainda não caiu a ficha direito. Ainda não sei o que dizer, para onde vou e o que pensar. Uma das mais queridas amizades que povoaram a minha vida, meu pensamento, meu cotidiano. Não é que deixaram de existir, mas materialmente não estão mais comigo. Meu coração está muito apertado. Perdoem se eventualmente não digo nada porque ainda nem sei o que aconteceu direito. Só sei que Ritinha foi e uma parte do meu coração foi com ela também. É a vida...


Érika Martins, cantora

Érika Martins lembra a influência de Rita Lee também na moda (imagem: Red Produção Audiovisual)

O Brasil perdeu o maior roqueiro que já existiu. E ele é uma mulher. Rita Lee. Tenho certeza que muita gente, assim como eu, quando pensa na trilha sonora da vida, sempre pensa em várias músicas da Rita Lee. É até difícil falar só de uma ou duas. Poderia passar o dia inteiro falando de toda a discografia dela, de músicas dela que me marcaram e que me lembram momentos. Ela é parte do inconsciente coletivo, parece que a gente nasce já sabendo todas as músicas dela. Ela foi recordista de músicas e trilhas de novela, tanto como compositora quanto como intérprete. Atravessou gerações, desde os anos 60 até hoje, sempre fiel e fazendo rock da forma dela, influenciando tanta gente. Claro que vai fazer uma falta imensa, mas deixou um legado sensacional para quem gosta de rock e de todos os estilos musicais. Porque ela transcende.

Além de toda essa parte musical, Rita Lee sempre foi uma voz ativa contra a caretice, o que vai fazer muita falta, principalmente nos dias de hoje. Ela é também um ícone de moda, sempre gostou de brincar com esse lado lúdico que influenciou muita gente, incluindo eu mesma. Desde criança, via naquela figura uma super-heroína que aparecia na televisão. Olhava e pensava que queria ser como ela quando crescesse.

E, ao mesmo tempo em que Rita Lee tinha sarcasmo e sabia ser ácida, ela também sempre teve um lado muito doce. O que eu acho sensacional. Não é porque você coloca o dedo na ferida que você não pode ser doce. Ela sempre foi superligada à família, ao Roberto (de Carvalho), aos filhos, aquele amor todo. Isso me emociona quando penso em Rita Lee porque ela concentrava o que há de mais sensacional no ser humano: lutava contra as injustiças, mas falava de forma educada e ressaltava o amor, que é exatamente o que ela tinha ali com a família dela.


Fernanda D’Umbra, atriz e vocalista da banda Fábrica de Animais

Fernanda D´Umbra, atriz e vocalista da banda Fábrica de Animais (imagem: acervo pessoal)

Eu canto numa banda de rock, a Fábrica de Animais. Uma vez, num show no Centro Cultural São Paulo, ao final de uma música, uma senhora que estava na plateia gritou: “A Rita Lee já pode morrer!” Não! Eu não concordei com ela. Conto essa história apenas para dizer que esse é o maior elogio que já recebi como cantora: ser comparada a Rita Lee, ainda que não ache justa a comparação.

A Rita Lee é umas das maiores artistas desse planeta. Cantora e compositora excepcional, que jamais cedeu a qualquer pressão: artística, política ou amorosa. Uma mulher que só fez o que quis. E fazendo apenas o que queria tornou-se a compositora mais popular do Brasil.

Chorei com força sua morte (“como é estranho ser humano nessas horas de partida”), mas celebro com a mesma força sua vida imensa. A Terra não seria a mesma se ela não tivesse passado por aqui.


Patrícia Ahmaral, cantora

Patrícia Ahmaral lança dia 10 de novembro disco em homenagem a Torquato Neto (imagem: Kika Antunes)

Ali pelos meus 11, 12 anos de idade, capturada pelas melodias das baladas gringas, que eu realmente adorava e que ouvia nas programações das rádios e durante os episódios das novelas de TV, pedi a um irmão, da turma dos maiores entre os oito lá de casa, que me desse de presente o LP com a trilha internacional de uma novela das oito, em que as baladas se derramavam. Pois bem…alguns dias depois, comprometido com a promessa assumida, ele me entrega um vinil embrulhado, papel macio, com a etiqueta da loja fechando o envelope. Pra minha surpresa, estava lá um lançamento fresquinho, o Rita Lee (1979). Antes que eu me decepcionasse, ali afundada no sofá azul marinho da sala, ele, de pé me fitando, profere: “ó…isso aí que é coisa boa, viu?”. Fui então botar a bolacha pra rodar na nossa vitrola. E rodou e rodou…e rodou” pra sempre”…“meu bem você me dá água na boca/ vestindo fantasias/ tirando a roupa”...”santa santa/ só a minha mãe/ e olhe lá…”

A gente ia à missa todos os domingos, a gente rezava o terço todos os dias… e muita coisa dita naquele disco era um “pecado mortal”. Ainda na pureza, metade criança, metade adolescente… sorvendo as coisas com a avidez de quem está descobrindo o mundo, eu acompanhava as letras no papel e repetia, especialmente, “Mania de você”, “Maria Mole” e “Papai me empresta o carro”. Aquele encontro, engendrado por meu irmão Ricardo, deve ter me aberto fendas, as mais interessantes e profundas, em momento preciso…E fico imaginando as asas invisíveis que cresceram em magnífico e poderoso silêncio em minhas costas…

Mais adiante, um pouco mais crescida, ganhei um quarto só pra mim em nossa casa extremamente povoada, deixado por outro irmão, que partira pra trabalhar em Tucuruí (PA). Junto com o quarto, vieram algumas K7´s e, de uma irmã, herdei um Polyvox (ainda comigo), robusto, prateado, com as caixas de som independentes, equalizador, rádio e toca-fitas, que Valéria arrematou no free shop da época, como prêmio no retorno de uma brava empreitada no Iraque, trabalhando como secretária temporária, numa empresa brasileira naquele país. O aparelho, um luxo pra uma casa paupérrima. Na seleção de Guilherme, autodidata no violão e historiador, pra minha sorte estava lá Rita Lee de novo, me levando a um passado recente. Entre quatro paredes brancas apertadinhas e uma janela de vidro, daqueles martelados, que brilham pontinhos de luz do sol e que dava pra um corredor lateral do quintal, o Tutti Frutti - Fruto Proibido, (1975) e pérolas pinçadas de seus discos com Os Mutantes abriram inestimáveis viagens sonoras e poéticas em meu mundinho particular… luz no túnel de uns tempos estranhos, fora e dentro de mim.

Depois, Rita eternamente trilha sonora, consagrada e consagrando uma revolução em feminino, sempre nos salvando da caretice e de nossas contradições profundas e estruturantes como sociedade. A gente deve muito a Rita Lee! Ela e sua geração criaram e sustentaram coisas demais para que estejamos hoje aqui, ainda sonhando com liberdade e com um país de ponta. De uma amiga que conheci recentemente escutei: ”foram eles que nos inventaram”! Ela tem toda razão. E, estando Rita num corpo de mulher, me pergunto o quanto de asas ela fez nascer ao longo de décadas em cada uma de nós, com sua revolução roquenroll corajosa e vestida de saia.

Obrigada, Rita Lee! Que os anjos acionem os overdrives em suas harpas. Porque você chegou!



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