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‘VENCEDOR DE ÁRVORES', POEMA INÉDITO DE LASANA LUKATA



'VENCEDOR DE ÁRVORES', poema inédito de Lasana Lukata



agora que a palavra Guerra inicia suas escavações
e teremos que aprender a marchar com as feridas,
o hábito do óbito, a Noite Imperdoável
em rudes travessuras de fazer robô chorar,
lembrei-me de um amigo que, coroinha, falava latim
sem a mínima noção do que dizia;
dançava música inglesa sem a mínima noção do que ouvia;
amigo que, diferente de mim, teve a infância boa,
azul-esverdeada, cheia de travessuras, comia ovo de garça,
não perdoava um ninho de passarinho,
vencia todas as árvores, perdia para Dafne,
sua árvore sagrada, sua musa fitomórfica.
nas disputas para subir mais rápido em árvores
não encontrava adversário, quando atingia a copa,
rivais ainda estavam na metade;
nos navios a vela não podia participar das competições
para subir até o topo do mastro, era imbatível.
adaptado às alturas, na II Guerra Mundial,
a ordem era sapar os montes, e quem diria,
colocaram-no na Divisão de Montanha para subir
o Monte Belvedere, Monte Della Torracia, Monte Castello.
à noite, o céu condecorado de estrelas, muitas delas mortas
sob um falso brilho, enquanto marchavam
e a lua minguante fazia deles reduzidíssimos alvos,
sapadores, ouvindo suas arborícolas histórias de menino,
rindo, cheirando a cânfora dos ciprestes,
alertaram-no dos recursos florestais:
uma árvore dá o berço e a urna; flor e flecha;
guarde-se para as medalhas, não para as cicatrizes
nem para a deserção.
hoje não é noite perdoadora, é noite oculta e ardilosa,
úmida de sangue, de frutos amargos, agitados,
inverno de mãos frias, pau-ferro, a flecha mais dura.
por projéteis as palavras vencidas
fazem dos poemas seus quilombos.
vamos subir para fazer travessuras no galho mais alto.
e como chegará ao topo
se já não goza da amizade dos pássaros?
como escreverá beleza se não cederem pena e canto?
vença suas árvores-,
e não perdoe um ninho de metralhadora.




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LASANA LUKATA é poeta por usucapião, nascido, criado e sofrido em São João de Meriti, o Formigueiro das Américas, tendo publicado recentemente os livros: A Madrasta de Pedra e A garça finge sua brancura pela editora Autografia. A garça é sua professora de esgrima e ele mesmo diz: "meus olhos são dois cavalos rebeldes, que de repente disparam pra longe e regressam com as patas sujas de versos".

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