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COMO BOMBA DE HIROSHIMA DEIXOU MARCADAS SOMBRAS DAS VÍTIMAS

A sombra de uma pessoa nas escadas de um banco em Hiroshima - Foto: World History Archive/picture alliance
Como bomba de Hiroshima deixou marcadas sombras das vítimas
Por Felipe Espinosa 

A detonação resultou na trágica morte de até 140 mil pessoas, gravando nas ruas as silhuetas sombrias daqueles que pereceram. Como essas marcas foram formadas?

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A aurora de 6 de agosto de 1945 marcou um antes e um depois na história da humanidade, quando a primeira bomba atômica da história desatou sua fúria sobre a cidade japonesa de Hiroshima. Entre as muitas histórias que surgiram naquele dia, destaca-se a de um homem diante do banco Sumitomo, de bengala na mão, que em um instante deixou uma sombra perpétua nos degraus, testemunho mudo das vidas ceifadas por esse evento catastrófico da Segunda Guerra Mundial.

Ao contrário da ideia muito difundida de que a detonação nuclear causou a vaporização imediata das pessoas, deixando apenas suas silhuetas como testemunhas, há uma explicação diferente para a presença dessas marcas escuras. As silhuetas de pessoas e objetos, como bicicletas, que ainda podem ser vistas nas ruas e nos prédios de Hiroshima e Nagasaki revelam outra realidade, uma na qual o calor intenso e a luz emitida pela explosão tiveram um papel fundamental.

Sombra de um homem com bengala gravada na entrada do Banco Sumitomo, em Hiroshima - Foto: World History Archive/picture alliance
De acordo com Michael Hartshorne, professor emérito de radiologia e curador emérito do Museu Nacional de Ciência e História Nuclear, nos EUA, conforme citado pela Live Science, a luz e o calor intensos da bomba criaram um cenário em que as pessoas e os objetos agiam como escudos, protegendo o que estava atrás deles. Esse fenômeno resultou no branqueamento das superfícies ao redor, deixando as "sombras" contrastantes que conhecemos hoje.

Em outras palavras, como aponta a publicação científica, essas silhuetas são, na verdade, a aparência original do pavimento ou das fachadas antes da detonação. A exposição à luz e ao calor branqueou as superfícies ao redor, fazendo com que as áreas não expostas parecessem sombras escuras.

Com relação à suposta vaporização de corpos, Minako Otani, professora da Universidade de Hiroshima, acrescenta um detalhe assustador a essa história: mesmo com o calor extremo, é possível que restos humanos, embora gravemente danificados, tenham sobrevivido, disse ela ao meio de comunicação japonês Peace Seeds. Essa afirmação derruba a noção de vaporização completa, sugerindo, em vez disso, que parte da essência física das vítimas ainda permaneceu entre as ruínas.


A ciência por trás das sombras

A Atomic Heritage Foundation, organização sem fins lucrativos com sede em Washington, esclarece que o imenso poder destrutivo das bombas atômicas vem da fissão nuclear. Esse processo é iniciado quando um nêutron colide com o núcleo de isótopos pesados, como o urânio-235 ou o plutônio-239, desencadeando uma reação em cadeia.

Sombra de uma torneira em um oleoduto em Hiroshima após a explosão da bomba atômica - Foto: World History Archive/picture alliance
Alex Wellerstein, do Stevens Institute of Technology, destaca que essa reação pode dividir um número colossal de átomos em frações de segundo, liberando energia intensa e radiação gama. Esta última é particularmente prejudicial devido à sua capacidade de atravessar roupas e pele, danificando gravemente os tecidos e o DNA. As temperaturas atingidas nas explosões de 1945 chegaram a 5.538 graus Celsius, o que, de acordo com a Live Science, contribuiu para a criação dos efeitos de branqueamento em torno das silhuetas de pessoas e objetos.

Entre as muitas sombras de Hiroshima, além da do homem com a bengala na mão, está a de um indivíduo sentado nas escadas de um banco, uma impressão quase completa que resistiu ao teste do tempo até sua transferência para o Museu Memorial da Paz de Hiroshima. Esse local agora serve como guardião de memórias dolorosas, convidando à reflexão sobre as consequências devastadoras das armas nucleares.

Ataques às duas cidades japonesas em 1945 são os únicos casos de emprego de armas atômicas numa guerra.


O terror no fim da guerra: Depois de Hiroshima e Nagasaki, muitos japoneses temeram um terceiro ataque, a Tóquio. O Japão declarou então sua rendição, pondo fim à Segunda Guerra também na Ásia. O então presidente americano, Harry Truman, ordenou os bombardeios. Ele estava convencido de que essa era a única maneira de acabar com a guerra rapidamente. Para muitos historiadores, no entanto, os ataques foram crimes de guerra.

Foto: AP

Alvo estratégico: Em 1945, Nagasaki era sede da Mitsubishi, então fábrica de armas responsável por desenvolver os torpedos usados no ataque a Pearl Harbor. No entanto, apenas alguns soldados japoneses estavam baseados na cidade. A má visibilidade não possibilitou um ataque direto contra os estaleiros da fábrica.

Foto: picture-alliance/dpa

Contra o esquecimento: Desde 1955, o Museu da Bomba Atômica e o Parque da Paz de Nagasaki prestam homenagem às vítimas dos ataques. No Japão, a reverência às vítimas desempenha um grande papel na cultura e na identidade nacional. Hiroshima e Nagasaki se tornaram símbolos mundiais dos horrores das armas nucleares.

Foto: Getty Images

O primeiro ataque: Em 6 de agosto de 1945, o avião Enola Gay lançou, sobre Hiroshima, a primeira bomba nuclear da história. A bomba carregava o inocente apelido de "Little Boy". A cidade tinha então 350 mil habitantes. Um em cada cinco morreu em questão de segundos. Hiroshima foi praticamente varrida do mapa.

Foto: Three Lions/Getty Images


A reconstrução: Devastada, Hiroshima foi reconstruída do zero. Apenas uma ilha, no rio Ota, foi mantida e se tornou o Parque Memorial da Paz. Hoje, há uma série de memoriais: o Museu Memorial da Paz de Hiroshima; a Estátua das Crianças da Bomba Atômica; as Ruínas da Indústria e Comércio; e a Chama da Paz, que vai permanecer acesa até a última bomba atômica do planeta ser destruída.

Foto: Keystone/Getty Images

O segundo ataque: Três dias depois do ataque a Hiroshima, os americanos lançaram uma segunda bomba, sobre Nagasaki. A cidade de Kokura era o alvo original do ataque, mas o tempo nublado fez com que os americanos mudassem seus planos. A bomba apelidada de "Fat Man" tinha uma potência de 22 mil toneladas de TNT. Estima-se que 70 mil pessoas morreram até dezembro de 1945.

Foto: Courtesy of the National Archives/Newsmakers

O Enola Gay: O ataque a Hiroshima estava planejado para acontecer em 1 de agosto de 1945, mas teve que ser adiado devido a um tufão. Cinco dias depois, o Enola Gay partiu com 13 tripulantes a bordo. A tripulação só ficou sabendo durante o voo que lançariam uma bomba atômica.

Foto: gemeinfrei

As vítimas: Durante meses após os ataques, dezenas de milhares de pessoas morreram por causa dos efeitos das explosões. Somente em Hiroshima, até o fim de 1945, 60 mil pessoas morreram por conta da radiação, de queimaduras e outros ferimentos graves. Em cinco anos, o número estimado de vítimas dos dois bombardeios atômicos é de 230 mil pessoas.

Foto: Keystone/Getty Images

Dia para relembrar: Desde os ataques de agosto de 1945, as pessoas em todo o mundo lembram as vítimas dos bombardeios atômicos. Em Hiroshima, acontece anualmente um memorial. Sobreviventes, familiares, cidadãos e políticos se reúnem para um minuto de silêncio. Muitos japoneses estão engajados contra o desarmamento nuclear.

Foto: Kazuhiro Nogi/AFP/Getty Images





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Fonte: DW

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