|
Capa CD Ivan Lins e Big Band George Robert Jazz Orchestra (abr_2024) |
Viva Ivan Lins!
Por Aquiles Rique Reis
Quando pinta na praça um disco novo do Ivan, paro tudo. Vou com tudo. Só dá ele em meu som. Assim é agora com Abre Alas (Mil Records), gravado com a Big Band George Robert Jazz Orchestra, em 2009, na Suíça, com arranjos do americano Bob Mintzer. Lançado somente agora, o álbum traz sete músicas do Ivan, ele que, além de cantá-las, por vezes toca um piano elétrico Fender Rhodes. Vamos a algumas delas.
“Abre Alas” (Ivan Lins e Vitor Martins): a intro é a mesma que Ivan já usou nas primeiras gravações dessa música. Uma virada da batera abe alas para os sopros. O arranjo de Mintzer é pródigo em evoluções orquestrais. Ivan canta em meio a “ataques” dos metais. O resultado é ótimo! Na segunda parte, a banda se espraia em sonoridades que desaguam num solo do guitarrista uruguaio Leonardo Amuedo, que à época tocava com Ivan, tendo apenas baixo, batera e piano a emoldurá-lo. O naipe atiça os ouvidos ao disseminar a harmonia em torno da pegada que novamente remete à intro. Ivan retoma o canto. O maestro, cantando em português, divide o canto com ele, e faz vocalises. Ralentando, os sopros (re)desenham a intro junto com os instrumentos de harmonia.
Eis que “Madalena” (Ivan e Ronaldo Monteiro de Souza) pinta na parada. Vem balançando, puro samba jazz – daquele que Joãozinho da Parahyba, o criador do Trio Mocotó (alô, galera, liguem-se, eles estão voltando!), nos ensinou a gostar. E a banda não faz feio, arrasa! O suingue é espantoso. O couro come e todos sentem a pressão nas veias. Ivan canta integrado que está à metaleira, ajustada pela mão do maestro. Cheios de bossa, trombone e trompete arrebentam. A levada jazzística é incrementada pela batera e pelo baixo, que não deixam a peteca cair.
“Boa Nova” (Ivan, Beto Betuk e Celso Viáfora) inicia com vocalises de Ivan, enquanto o naipe de metais o acompanha. E vem a boa letra de Viáfora. Ivan lhe dá o merecido valor. Novos vocalises antecipam a volta do canto. O trombone emerge num solo contagiante – piano, batera e baixo o amparam, os sopros o instigam. Volta o vocalise, seguido por um improviso do piano e logo por outro da guitarra. Show!
“Começar de Novo” (Ivan e Vítor Martins): a banda inicia. Ivan canta suavemente, num momento em que rola uma atmosfera afetuosa e doce. O arranjo soa com sobriedade. Reverente ao compositor, o maestro o ilumina com seus ótimos instrumentistas. A guitarra pede passagem e se soma à reverência a Ivan Lins, ele que, depois de Tom Jobim, é um dos compositores brasileiros mais reverenciados pelos grandes músicos norte-americanos e de todo mundo.
O álbum Abre Alas traz Ivan para o pódio mais alto da música moderna internacional. Ao reverenciá-lo, o maestro George Robert se ajunta a tantos outros grandes nomes que já declararam seu fascínio pela música desse músico consagrado aqui e lá fora. Viva Ivan Lins!
________________________________________________-
Aquiles Rique Reis. Nossos protetores nunca desistem de nós. Músico, integrante do grupo MPB4*, dublador e crítico de música.
*MPB4 é um grupo vocal e instrumental brasileiro formado em Niterói, Rio de Janeiro, em 1965. A primeira formação contou com Miltinho, Magro, Aquiles e Ruy Faria. Em 2004, Ruy Faria saiu do quarteto, sendo assim substituído por Dalmo Medeiros, ex-integrante do grupo Céu da Boca, convidado para ficar em seu lugar.
Nenhum comentário
Postar um comentário